50- O melhor aniversário

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                                                                                            Dora

Nathan pousa suavemente no quintal de casa, ele permanece mais tempo que o necessário com suas asas abertas. Enquanto as de Raphael me encantam e convidam a admirá-las, as dele me atraem como uma mariposa é atraída pela luz, elas me chamam a mergulhar em sua obscuridade.

— Obrigada por tudo, Nathan. — declaro desembaraçando seus braços de mim.

Encabulada, me ocupo em tirar a poeira, que não existe, da roupa.

— Você está bem? Naquele dia na floresta Raphael voou muito rápido, como você não está acostumada, fiz o possível para te proporcionar um voo tranquilo e te deixar confortável.

— O voo foi tranquilo. — Zanzo o olhar em todas as direções.

O voo foi calmo, mas a tensão entre nós, palpável. Meu Deus! Nós agimos como dois estranhos, ou pior, já que duas pessoas que nunca se viram na vida, são capazes de se comportar bem melhor que nós que nos conhecemos há anos.

Bem, pessoas que se conhecem há anos, têm ciência dos defeitos umas das outras.

— Hã?.. Obrigada, e-eu... vou entrar, estou cansada. — falo andando de costas.

Chocada com a constatação de que eu e Nathan nos conhecemos bem demais, e que por mais que queiramos nos afastar somos atraídos um pelo outro, penso em fugir. E mesmo fugindo minha mente ressalta, que a atração que Nathan exerce em mim, não tem relação com suas asas, é ele todo. Eu quero mergulhar nele e desvendar sua alma.

— A respeito do que aconteceu... — Ele vem rumo a mim, eu recuo mais, e ele para — Entendo que te peguei de surpresa. E talvez você pense em dividir a experiência, mas por favor, não conte a ninguém, ao menos por enquanto.

— A única pessoa que vive algo semelhante com um Anjo, é Alexia, mas ela não está na cidade. Tia Sophia também é confiável, mas se você não quer que eu conte, tudo bem — digo sem alarde, enquanto por dentro, vivo uma miscelânea de emoções. Eu beijei Raphael, o beijo foi quente, o de Nathan também, porém tem algo a mais, algo que não consigo pôr em palavras — Nathan, eu preciso descansar. — Ele enfia as mãos nos bolsos e aperta os lábios numa linha fina. — Fique tranquilo, Jules não saberá de nada, caso seja essa sua tormenta. — Ele anui.

Minha mãe é o problema. Tanto para mim quanto para ele.

Eu já ouvi várias notícias de pessoas com casa, família, até um cachorrinho, uma vida perfeita, porém, após um dia exaustivo de trabalho; elas desejam tudo, menos voltar para casa e para sua família. Comigo, acontece o mesmo. Se pudesse, depois das descobertas de hoje, eu não viria para casa, ficaria com Raphael, não por motivos pervertidos, simplesmente por gostar da sua companhia. Ele é um amigo mais que especial.

Antes de dar as costas a Nathan reparo na noite comumente fria de outono, o clima não se compara ao da minha alma que parece que a qualquer momento trincará de tão gelada que se encontra. Expiro pela boca, a fumaça que sai dela dança e some no ar. Nathan e eu permanecemos na mesma posição, talvez esperando uma explicação ou reação um do outro. Como nada acontece, tomo coragem e me afasto. Seu olhar queima às minhas costas. Trinco as mãos ao longo do corpo, meu desejo é voltar, bater no seu peito, esbravejar e exigir que responda todas as minhas perguntas, mas eu simplesmente entro em casa.

— Feliz aniversário! — Sou ovacionada por Jules e tia Sophia quando fecho a porta — Parabéns, minha filha! O horário para entrar em casa já passou há muito tempo, mas te perdoo, sua maior idade chegou e você começou a usufruir dela — Jules faz uma brincadeira que não acho graça, mas me esforço para sorrir.

ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora