Dora
Faz horas que estou na estrada. Meus músculos pedem descanso, mas me recuso a obedecê-los. A dor tanto física, ainda que escassa, quanto emocional, são constantes lembretes do que vivo há anos.
No instante em que cruzo a fronteira de Melekler, sinto uma vibração no corpo. Capto a vida que flui em cada ser que habita nesta cidade, e uma delas me atrai de maneira que me deixa desnorteado.
Paro no acostamento, e retiro o capacete de modo a recobrar os sentidos. Desmonto da moto e ando até a beira da estrada, dela consigo ver parte da cidade.
Busco me concentrar na essência que chamou minha atenção. Fecho os olhos e libero minha energia, ela viaja pelas árvores, casas e prédios, chega numa residência, e sem pedir licença, entra e vasculha tudo até encontrar o que procura. Encontro um homem dormindo numa cama, king size, sua expressão é de contentamento, e sua alma, me atrai, e o anseio por tê-la me incita a invadir seu corpo. Não meço as consequências. Invado o corpo buscando tragar a alma. Sinto-me forte novamente. É como se eu e o homem fosse um só. A Luz e a Escuridão, a Morte e a vida, e o equilíbrio entre elas. Repentinamente os olhos dele se abrem, ele sorri e me expulsa violentamente. Sinto o impacto da expulsão no meu corpo.
Caio ajoelhado com as mãos na cabeça, a sensação é de que milhões de agulhas espetam meu cérebro. Curvo o corpo liberando um urro gutural, sem ter o que fazer, suporto a dor insana, e, os sentimentos e pensamentos há muito esquecidos, fluem sem parar.
Pelo Divino! Faz anos que não experimento emoções tão fortes!1
Lembro-me de ter experimentado agitação semelhante na ocasião em que Dora nasceu, porém, meu encontro com ela foi mágico, isto que senti agora; foi catastrófico!Levanto-me e limpo o sangue que escorreu do meu nariz. O líquido azevinho é mais um lembrete do que está em jogo.
Não há como vencer uma guerra se você não for um bom soldado, e um bom soldado, é aquele que faz o que é preciso, e age no momento oportuno. Portanto, ergo a muralha em volta do meu coração novamente. Se eu for levado por emoções, o sangue derramado não será o meu.
O caminho de volta até a moto é lento, espalmo as mãos nela e a utilizo como apoio, curvo meu corpo e a cabeça que ainda lateja. Penso no que me aconteceu. Acaso finalmente encontrei quem estou procurando? Será que enfim o outro caminho apareceu? Minha alma exulta com a possibilidade de sentir a luz e a pureza dentro de mim novamente, mas, meus pensamentos são interrompidos pelo som do meu telefone, e mesmo zonzo, verifico a mensagem de Sophia.
Precisamos de você. Dora não está bem.
As poucas palavras, são suficientes para eu esquecer o que passei minutos atrás. Como não há ninguém à vista, sendo assim, uso meus poderes e em poucos segundos apareço na calçada de casa. Não posso deixar de ajudar Dora, ela foi a única pessoa que trouxe um pouco de felicidade ao meu mundo caótico. E enquanto eu a tiver ao meu lado, terei esperanças.
Coloco a máscara de sempre no rosto, e caminho a passos lentos em direção a Sophia que anda aflita de um lado para o outro no quintal de casa. Se a grama do jardim não estivesse em péssimas condições, ela o teria destruído. Sophia é uma mulher elegante por natureza, as roupas esotéricas que usa lhe caem bem, e seus cabelos curtos beiram ao branco, mas engana-se quem pensa que ela é uma senhora desprovida de força, pelo contrário, a energia que possui é imensa. Balanço a cabeça ao vê-la transtornada, a observo por um tempo, e assim que nota minha presença, coloca a mão na boca para controlar o choro e anda rumo a mim.
— Graças ao Divino você chegou, Nathan! — Ela me abraça, sua voz vacila, mostra o quanto luta para não desmoronar.
— Qual o problema, Sophia? Dora se machucou? — pergunto equilibrado.
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ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)
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