64- O amor é forte como a morte

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                               Dora

 Raphael escuda meu corpo. Concentro-me na Unidade, o poder flui em mim, sinto que estou ligada aos anjos da Ordem, porém eles não se aproximam como eu pedi. E ao ver o céu obsidiana, descubro o porquê. As nuvens negras que avistei, não são nuvens de tempestade, não são projetadas por alguém que controla o tempo, são asas negras batendo em ritmo cadenciado. A visão me amedronta, abro a boca para conversar com Nathan, mas ele é mais ligeiro.

— Não se aflija, os anjos que nos sobrevoam são meus. Eles camuflarão nossa conversa. Nenhuma palavra passará, nem mesmo o som de uma agulha caindo.

— Fale a verdade, Grigori! Eles não são anjos, Mimitins, assassinos que cumprem suas ordenanças — Raphael despreza.

— Sim. Os Mimitins são assassinos, cumprindo seus propósitos. Quanto a mim, sou um Grigori devido às asas negras, atitudes, ou, amor? — Nathan interroga, seus globos esmiúçam cada centímetros da clareira, se detêm no portal e finalmente repousam em mim. — Você ouviu o que falei para Dora ainda há pouco; mesmo sabendo do perigo, a trouxe para cá — censura a Raphael.

— O único perigo aqui é você, Nathan — contradiz o Arcanjo.

— Revele-se, Raphael. Tenho certeza que não é somente isso que você pensa de mim — Nathan enfia as mãos nos bolsos das calças e olha para o céu que continua mais turbulento que antes, os anjos de asas negras armaram um cerco ao nosso redor. Era para estarmos mergulhados na mais completa escuridão, mas a luminescência de Raphael, e curiosamente a de Nathan, iluminam o local. — Não posso reclamar do tratamento que recebi quando nos conhecemos, você me ensinou muitas coisas, me recebeu de braços abertos e foi meu amigo. Mas, no fundo questionava a razão do meu existir. Você se perguntava: para quê um Príncipe que só coordena o trabalho dos Anjos e Arcanjos, e não usa seus poderes? Para quê um Lord se ele fica num lugar solitário, escrevendo o que o Divino dita? Isso qualquer um pode fazer — Nathan discorre sem pressa. — O tempo passou, fomos nos conhecendo, mas você nunca abandonou seus muitos questionamentos.

— Por que resolveu dar uma aula do poderoso Lord logo agora, Nathan? Sua presunção não tem fim — vomito condenando sua atitude. — Eu não quero saber dos seus poderes, quero entrar num acordo contigo.

Nathan levanta a sobrancelha, libera um meio sorriso e responde minha pergunta.

— Estou narrando um fato para chegar num resultado. E ser poderoso, não é presunção, é um fardo. Ser o Anjo Supremo; a Morte; a Vida; o que guarda o Relógio do Tempo, o Anjo...

Enquanto Nathan fala, Raphael se põe diante dele.

—... Metraton. O que traça novos caminhos — completa.

— Eu recebi uma segunda chance, Raphael. Deixe-me te mostrar o que aconteceu, e eu serei como antes...— Nathan ergue os dedos indicador e médio rumo a testa de Raphael, mas o Anjo da Cura bloqueia a ação. — Não pense que levantará o troféu sem ter lutado por ele, "Meu Lord"?

— Raphael, por favor, eu não quero lutar com vo...

Nathan não chega a uma conclusão, pois é jogado longe. O som que seu corpo faz ao cair entre as árvores, ecoa pela noite. Minha reação é correr para impedir a luta, mas sou barrada pela voz de Raphael.

— Levem-na daqui, agora! — ele grita e avança com espada em punho na direção em que jogou Nathan.

Gael surge atrás de mim, prende meu pulso com seus dedos poderosos e me arrasta para longe da luta. Eu não sei o que pensar, pois nunca imaginei Raphael como um lutador.

— Dora, não resista! Não podemos ficar perto do portal, e não se preocupe com Raphael, ele procurou e... — Gael fala alto e me sacode para me despertar, e percebo que não me movi.

ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora