16- Primeiro dia de aula

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               dedicado a LehAlbatroz           

             
                              Dora

Conversar não é bem o que tia Sophia faz ao entrarmos no carro, ela põe uma música sobre anjos e demônios e coloca para repetir. Isso quer dizer que terei que ouvi-la durante o percurso até a escola. 

 Juntamente eu e Sophia checamos para ver se não há carros vindos pela direita, minha tia não se surpreende com o enorme portão de ferro que há no final da rua, mas eu sim. Pelo tamanho da entrada, deduzo como deva ser a propriedade. Fico curiosa em saber quem mora no local, infelizmente, não tenho tempo nem de ver o brasão no alto do portão, pois ao ter a estrada liberada, tia Sophia prossegue viagem. Ao longo do caminho vejo casas grandes e luxuosas, a minha também seria assim se não fosse a pintura naqueles tons desbotados de azul. A impressão que tenho, é que já passei por aqui. Experimento um incômodo maior ao ver uma trilha que me é familiar, é como se eu já tivesse passeado por ela. Expiro ruidosamente. Estou cansada de viver esses déjà vús sem sentido.

Seguimos nosso caminho em linha reta, ao chegar numa bifurcação tomamos à direita, após vários minutos passamos por uma curva acentuada e paramos em frente a uma construção imponente. Tia Sophia para o automóvel do outro lado da calçada da High School Melekler. 

Verifico se meus olhos estão vermelhos do choro e borrados de rímel, mas lembro-me que o produto é à prova d'água, e quanto ao choro, ele não deixou marcas.

— Obrigada pela carona, tia. — Lanço um beijo no ar e abro a porta, coloco a metade do corpo para fora do carro, e sou surpreendida com sua pergunta.

— Entendeu nossa conversa? — indago em tom um pouco mais seco do que costuma usar.

 Suspiro e volto à posição anterior.

— Entendi. — digo objetiva.

— Sei… então você está saindo tão rápido sem se despedir direito… a fina camada de suor na sua fronte, as mãos que não param de mexer nesse cordão, são indícios de que seus demônios estão controlados? — Sophia pergunta, e automaticamente passo a mão na testa — Caso eu inspecione sua bolsa, sua amiga estará dentro dela? — Não respondo, fixo a vista no painel do carro — Estou fazendo uma pergunta, Dorotéia— Raramente tia Sophia me chama de Dorotéia, ela só o faz quando cismo em me fazer de desentendida — Me dê! — ordena num abrir e fechar de mão.

Com relutância e raiva abro minha bolsa e tiro "minha amiga" de dentro dela e a entrego.

— Só trouxe a touca por precaução. — argumento.

— Não foi por precaução, sabemos bem disso! — Dou de ombros, apoio o cotovelo na porta do carro e mordo o polegar dobrado — O que aconteceu quando você e sua mãe chegaram aqui no dia da mudança?

Exalo o ar vagarosamente. No meu conceito, o ar sai em forma de medo, desprazer e fracasso. Conto quase todo o ocorrido deixando de lado, a visita ao quarto de Nathan e os momentos que passei com ele na cozinha e no passeio. Também não conto sobre a aura de Gael, e encerro o relato. Aguardo a conclusão ao qual ela chegou apertando a alça da bolsa insistentemente.

— Sua mãe comentou sobre o diagnóstico do médico. Você supõe que desmaiou porque bebeu uma água batizada?

Dou uma risada pelo modo dela falar, mas logo o riso cessa e respondo citando a música que ficou grudada na minha cabeça como goma de mascar.

— Inner demons: "demônios nteriores". O coração é tão pequeno e incapaz de suportar o fogo que os conflitos internos acendem. Às vezes precisamos de "Anjos", pessoas para nos ajudar. 

ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora