RaphaelUma noite regada a vinho, boa música, ótima comida e uma companhia agradável, — este foi o pedido de Dorotéia. Bem, não foi exatamente da maneira que descrevi, mas de algum modo eu teria que realizar o desejo dela. E ao vê-la acompanhar a recepcionista até a mesa onde Raphay sentou-se, medito se acertei em falar com ele sobre o pedido dela.
Dorotéia pensa que sou eu sentado à mesa. Também creio que não deveria ter promovido o encontro deles, ao menos não agora. Porque deveria ser eu; a mesa, eu; gostaria de estar sentado diante dela para elogiá-la.
O vestido negro moldou perfeitamente suas curvas. E como toda mulher que usa os atributos e armas que tem para conquistar, ela prendeu o cabelo de lado, deixando suas costas desnudas, e seu ar de jovem mulher, aflorar. Modelo seu corpo com os olhos, realmente eu queria estar no lugar de Raphay e...
Bufo exasperado e volto minha atenção para o livro que tenho em mãos. Leio um parágrafo procurando me concentrar, me distrair, mas a protagonista da vez, não consegue me prender. Sinto-me um traíra, a garota tem um Anjo, e não é um Anjo comum, ela é do Lord. Decerto, eu não deveria pensar nela como mulher e ser contra qualquer envolvimento dela com Raphay, mas ao longo dos séculos, Nathan não foi um exemplo de amigo e de líder. Eu me doei a ele, e o que recebi em troca?
— A ninguém devolvei mal por mal, mas sim pagai o mal com o bem. Procurai proceder corretamente diante de todas as pessoas. Aos romanos capítulo doze versículo dezessete.
Claro. Mas é claro que, além de todos os pensamentos confusos que permeiam minha mente, Fatum chegaria para se intrometer e bagunçar minha vida mais uma vez.
— Larga do meu pé! Você não tem outro anjo pra atazanar o juízo não? — pergunto soltando o ar pela boca.
Sento na mureta do mezanino, e assisto à interação de Dorotéia e Raphay. Bato o livro na mão. O som produzido, é calmante, é uma forma de ignorá-lo; mas Fatum, é insistente e irritante.
— Você é o primeiro da minha lista — Fatum imita minha posição. Dou as costas ao casal, porém permaneço sentado. — Mais uma das suas mulheres fictícias? — inquiri esticando o pescoço para expiar.
— Você não gravou o nome delas, quando espionou minhas coisas?
— Eu não vi este nome ainda. Dalila?
— O que você quer? — pergunto rudemente.
— O que veio fazer em Nova Orleans? — rebate curioso.
— Vim me divertir. — Guardo o livro na parte de trás do cós da calça e acendo um cigarro, ele torna-se impalpável como eu.
— Não, você veio alegrar a vida da garota — Fatum fala com divertimento — Ultimamente você tem sido bondoso com ela.
— Tenho pena dela, e não faça disso o acontecimento do ano— falo com desinteresse e dou uma longa tragada.
— Aceitarei sua resposta como uma desculpa, e não uma mentira — Ralha com o olhar. — Raphay se dá bem com ela — diz com um ar esperançado.
— Quem não se dá bem com ela, Fatum? Só aquela ruiva dos diabos e a mãe dela, aquela filha da...
— Quando estou por perto, você fuma, bebe, xinga, fala e pensa em sexo, para me convencer de que é pecador, porém, esquece que eu conheço sua alma e espírito. Cigarros não fazem bem à saúde, apague-o — comanda com voz suave. — E não xingue Jules. O que aconteceu com ela poderia acontecer com qualquer um. Não seja rancoroso, este sentimento não faz parte de suas características — Levanta o dedo e o balança em minha direção. — E não fale de Alysson, você não a conhece, no entanto, os dois são extremamente parecidos — Ele me impede quando ameaço falar. Arqueio a sobrancelha, pois a comparação é desvairada. — Os dois sofreram, foram obrigados a esconder os sentimentos e o verdadeiro eu. Creio que se vocês se conhecessem, se dariam bem — Eu nunca me daria bem com aquela ruiva! Protesto mentalmente, e me pego apagando o cigarro.
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ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)
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