57- Eu fiz uma escolha

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                              Dora

A visão que tive no dia em que Circe faleceu, foram premonitórias. Nela eu vi Raphay e meus amigos mortos, e a satisfação doentia na cara de um demônio montado numa serpente alada. A visão corroborou com o alerta que as Babas Circe e Sophia me deram. O demônio da visão não apareceu em Melekler, ao menos não como o monstro da visão, e espero que não apareça, pois, é como Nathan disse: contra um ser humano eu aguento uma luta, contra um sobrenatural, não tenho chance. E o que tenho feito até agora não é suficiente para derrotar um vilão como o da minha visão. Fora que se as Yagas, não foram páreo para ele, como eu seria?

 As revelações que recebi quando pequena podem ajudar; todavia o desenho de um casamento, a imagem do meu filho, a destruição de cidades, minhas escolhas... não são de grande ajuda. A luxúria nesse caso não contribui em nada, no entanto, eu conto com o poder da estratégia. E esse poder surgiu na ocasião em que pedi a Raphael para tirar Raphay de Melekler. As estratégias surgiram na minha mente e dançaram como peças de um quebra cabeça, e eu só tive sossego no momento em que o Arcanjo concordou em manter o Garoto do Jardim em segurança. 

O poder, nomeado por mim de Estratégia de Guerra, não é uma arma, no entanto, é a mais poderosa ferramenta que possuo. Ela me ajudará na derrocada do demônio, e na salvação dos meus, pois a morte de Raphay, é apenas o começo dos planos do monstro da serpente alada. 

Usando a Estratégia de Guerra, eu elaborei um plano com Alysson. As últimas semanas não foram fáceis para mim, nem para ela. Nossa convivência não voltará a ser a mesma de quando éramos inocentes. Nós fizemos uma promessa sem saber que seríamos testadas, e que não passaríamos no teste. O resultado foi, inveja, raiva e vingança mútua. É, eu invejei Alysson, a sua beleza, o seu sorriso e fortaleza. Na infância e na adolescência, ela era popular no colégio, enquanto eu não era nada, somente um repelente de pessoas. E quando finalmente consegui viver normalmente, ela tentou me roubar a felicidade, não achei justo, então a puni com a Marca de Caim.

 Talvez a punição que lhe dei, seja outro poder que tenho, mas não quero pensar nele, pois assim como a luxúria, ele não é bom. Mas amaldiçoada por mim ou não, a verdade é que eu e Alysson ainda crianças, quebramos o elo que tínhamos, talvez nunca consigamos reatá-lo. Não por orgulho, e sim porque laços não se constroem de uma hora para outra. Precisamos de tempo, e o ocorrido em Nova Orleans mostrou que o demônio segue firme com seus planos, seja quais forem eles. E nós não estamos seguros. Com o plano traçado, espero, com a graça de Deus, que ninguém saia prejudicado.

— Quantas vezes terei que te desafogar dos próprios pensamentos, Dora? — Alysson sacode meu ombro me tirando do torpor que mergulhei.

— Estava repassando o plano. Você sabe o que fazer, não é? — Torço as mãos, mas meu olhar se mantém firme na ruiva — Depois que entrar na escola e cumprir com meu propósito, pegarei seu carro e sumirei no mundo. Não esqueça de manter o veículo camuflado — recomendo como se o planejado fosse fugir para matar aula.

Na ocasião em que Jules expulsou Aly de casa, eu pensei que ela sofreria financeiramente, mas como Raphael falou, minha mãe é “altruísta”. Minha progenitora “presenteou” Aly com um carro e uma gorda conta bancária, mas obviamente a ruiva teria que viver numa das cabanas de Melekler, bem longe da empoderada Jules. Eu sou parte culpada pela desgraça de Alysson, mas em minha defesa, posso dizer que a maldade que habita meu coração, é hereditária.

— Eu entendi a minha parte no plano, Dora.

— Seus amigos...

— Eles não veem Raphael há um bom tempo, e desde que Raphay foi embora, também não o viram. Eu até entendo sua preocupação com Raphay, mas Raphael é um Arcanjo, sabe se defender.

ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora