ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)

54- Você será reprovado Príncipe Caído

                           Raphael

Na mesa do bar, com uma mão, rodo a garrafa de cerveja pra lá e pra cá; e com a outra, seguro um papel com a foto de Dorotéia. A fotografia não é uma das melhores. Logo abaixo, a palavra desaparecida, foi escrita em letras garrafais. E seu desaparecimento, aconteceu por minha culpa. Eu a abandonei, mas porquê a repeli? Por Nathan. Sempre por ele! 

Todavia, o Lord desviou-se dos seus planos contra o Traidor, tudo porque se apaixonou pela filha do mesmo. Tudo bem se apaixonar pela garota, ela é bonita, qualquer anjo cairia nas graças dela. O problema foi ele tê-la usado, me usado, e manipulado e me tratado como lixo para um propósito que ainda não sei qual é, em breve saberei.

Nathan não me conhece. Nem conhece a verdadeira Dorotéia. A garota que era como um bicho acuado, que desabrochou sua gentileza e mostrou-se, apesar de suas inseguranças, ter opiniões formadas. Todavia Nathan preferiu mantê-la cativa e longe de seus segredos obscuros, e tanto fez que ela escolheu outro. Dorotéia abdicou dele, só não o fez oficialmente, e creio ser esse o desespero do Lord, pois ele se encontra sentado diante de mim visivelmente nervoso. E enquanto bebo pequenos goles de cerveja, ele me esmiúça, me joga dardos para descobrir meus pensamentos, e não consegue nada.

 Antes da forma humana, eu era um tanto ingênuo, acreditava na fidelidade dos meus irmãos, acreditava na minha fidelidade. Contudo, vi com meus próprios olhos, a queda de Lúcifer, de Samyaza e de Azazel; meu irmão de luz. Essas vivências me fizeram crer que somos sujeitos a cair, mas não acreditei que algo do gênero pudesse acontecer comigo. Não que eu tenha caído, continuo o mesmo, mas manchei meu coração. Foco o olhar num dos lustres do bar Anjos e Demônios. Meus pensamentos voam. Sou um traidor; eu contradisse a lealdade que professei ao Lord. Eu desejei e desejo a Prometida dele. Talvez uma punição me faça esquecer Dorotéia e os momentos que passamos juntos. Eu e ela fomos levados a nos beijar, mas minha punição não seria pelo beijo, seria por seguir desejando seus lábios e por não me arrepender de nada do que aconteceu naquele dia. Ela deu um basta ao que vivemos. Porém, Dorotéia é a única mulher em séculos de vivência nesta Terra que despertou algo em mim. Nunca nenhuma mulher me deixou duro, ela me levou a um estado de excitação descomunal. Eu preguei para Dorotéia que ela tinha um Anjo, mas, na verdade, eu estava instituindo a mim mesmo a informação. Creio que não funcionou. 

— O que aconteceu com Dora, Raphael? Eu a procuro há dias e não consigo localizá-la. E por favor, não me esconda nada. Comece pela visita que vocês fizeram a este bar. Não! Melhor, fale de Nova Orleans, o que você fez com ela naquele lugar? — pergunta com maxilar endurecido. Seus disparos me trazem ao presente.

Ao denotar seu tom doentio e autoritário, me felicito: que bom que não me arrependi de beijar a garota. Se tivesse, teria me arrependido de ter me arrependido. Se é que isso faz sentido.

— Olá, Nathan. Faz tempo que não nos vemos. Estava com saudades do seu maravilhoso sorriso — cumprimento, isso é o melhor que posso fazer já que ele nem se dignou a dizer, oi. — Eu vou bem. Fui ferido, emboscado por demônios, mas o Divino me concedeu vitória sobre eles. Claro que, ele usou Dorotéia como instrumento para me ajudar, se não fosse ela eu não estaria encantando o mundo com minha beleza — emendo.

— Depois que Dora conheceu sua família, ela nunca mais foi a mesma, você e sua cabeça de vento e língua solta, mudaram o foco dela. — Franzo a testa ao ouvir o disparate nas palavras dele. Pelo Divino! Ele é que fez da vida da menina um inferno, e eu que sou o culpado?! — O que você fez com ela em Nova Orleans, Raphael?

— Eu a magoei. Agi como você, acusei primeiro e perguntei depois. Dorotéia não merecia ser acusada de assassinato.

— Num relacionamento, é natural haver desconfiança em determinadas situações. Dora é um Espírito da Maldade. Você não sabe do que ela é capaz — Mais uma vez ele a classifica como um ser maligno, e não como um ser humano — Sendo quem é, o que mais você pensaria?