46- A ironia é...

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        Perdão, esse capítulo ficou gigantesco 😢 mas tem um quebra de página 😁

                           Dora

Os clientes e funcionários me olham. Sinto como se houvesse uma expectativa em cada um e em mim também. Caminho vagarosamente até a junke box e escolho uma música aleatória. Os primeiros acordes soam. Cabeças e troncos remexem no ritmo musical, e em poucos segundos, as pessoas puxam uma à outra rumo à pequena pista de dança. Seus corpos movimentam-se num ritmo sensual. Eu observo. Os movimentos dos quadris, o roçar e levantar das mãos, o fogo nos olhos dos homens ao verem as mulheres que acariciam o próprio corpo, a fumaça dos cigarros soprada para o ar e o cheiro de bebida, me contagiam. Há luxúria no ambiente. E de repente me vejo rodeada por pessoas e criaturas que parecem transmitir sua sensualidade para mim. Duas mãos tocam meus quadris impondo neles o ritmo da batida, meu corpo amolece e me deixo ser guiada. Os homens parecem gostar, cruzo os braços acima da cabeça e cada vez mais me entrego à dança. Talvez seja exagero, mas me sinto livre; desejada; feliz; no meu habitat.

Sorrio. Cogito me aproximar do corpo do homem que guia meus quadris, mas no instante em que penso nessa possibilidade seu toque suave é substituído por um aperto poderoso na minha cintura, e logo sou puxada, como eu queria, para um corpo sólido.

— Vamos embora! — Raphael rosna impaciente no meu ouvido.

— Por quê? A investigação acabou? — pergunto, fingindo que não me abalei com seu toque e continuo dançando.

— Sim. Eu queria que você fizesse aquele negócio que fez comigo ontem, mas não deu certo, sua valentia estragou tudo — justifica.

— O Senhor é ingênuo, Doutor. — afirmo. Viro-me, coloco as mãos para cima e rebolo diante dele. — Não se preocupe, eu faço agora, é só me pedir. — resfolego só em pensar. 

As esferas do Arcanjo cintilam. Pelo canto do olho vejo as mulheres babando por ele. Sorrio extasiada.

— É… sou ingênuo mesmo, você é mais perigosa do que pensei.

— Doutor, você apostou errado. — falo no seu ouvido e inspiro seu perfume — O senhor não deveria ter me apresentado como uma deusa e dado o poder aquela cadela. Nenhuma mulher gosta de ser rebaixada. Por mais que fosse uma brincadeira, não quis perder. — Colo meu corpo ao dele.

— Desculpe, eu não brinquei, unicamente quis descobrir uma coisa, mas nossa excursão acabou.

— Negativo, nossa excursão ainda está ativa. — Com os lábios no seu pescoço sorrio perigosamente. — Diga algo para mim da mesma maneira que Raphay diz — peço como uma gatinha, deslizo as mãos pelo seu peitoral e viro de costas para ele.

— Você pirou? Não sou Raphay!

— Não é… você não consegue; entendo. — provoco.

— Qual seu jogo Dorotéia? Se estiver me usando...

— Não é jogo. As ideias pipocam na minha mente e eu as coloco para fora, é como se eu fosse guiada, como se fosse uma estratégia. Mas, não são só ideias, eu também quero isso. É mais forte que eu. Então...

Raphael solta uma exclamação incrédula.

— E tenho que acreditar no que você diz?

ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora