Capítulo 134

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Maratona 4/7

KAIO.
Passei o dia nervoso, não consegui nem dormir direito pra te falar a verdade, com essa parada da minha filha. O que eu fico puto é que esse tipo de coisa só acontece quando você menos espera, namoral. Vontade de sair arregaçando, pedi até pra Isadora não levar a Júlia no colégio pra eu poder passar o dia com ela. Fiquei com a minha filha a manhã toda, ela me maquiou todo, porque ela me faz de boneco e eu amo, minha princesa, pode fazer o que quiser comigo, fui dar um banho nela depois do almoço e tomei o meu. Tava sem nada pra fazer então decidi ir na minha mãe, não gosto de ficar brigado com ela não, minha mãe sempre fez de tudo por mim, passava a mão na minha cabeça pelo que podia e não podia, tudo mesmo ela era capaz de fazer pra me ver bem, esses tempos que a gente ficou sem se falar foi foda, porque eu falava com ela todo santo dia. Eu era o neném da mamãe, porque meu irmão que era pra ser mais velho morreu no parto, minha mãe ficou malzona com isso, então quando ela descobriu que tava grávida de mim foi aquelas coisas.

- Filha, cê quer ir lá na vovó?

- Quero! Mas quero sorvete também.

- Tá, mas não é pra contar pra mamãe que te dei sorvete ein?

- Pode deixar. — Ela disse e nós fizemos um toque de mão. Coloquei uma camisa e peguei as chaves do carro, segurei na mão da Júlia e fomos descendo pelo elevador até o estacionamento do condomínio, de lá passei na sorveteria favorita da minha princesa, ela escolheu lá o sorvete dela e fomos pra casa da minha mãe. Eu tenho o controle da garagem, então acionei e estacionei o carro lá dentro, quando entrei pela cozinha estranhei porque tinha uma empregada em casa e se tinha uma coisa que minha mãe não gostava era de dar trabalho de casa pros outros, ela fazia questão de fazer isso.

- Quem é o senhor? — A mulher perguntou.

- Sou o filho. — Eu disse sorrindo.

- Ah sim, garoto sua mãe fala muito de você. Já almoçaram? Tem almoço feito. E essa princesa, quem é?

- Minha filha, já almoçamos sim. Aí, minha mãe tá em casa?

- Tá sim e seu pai já tá chegando, ele foi só na farmácia.

- Ah tá. Tem como olhar ela um segundinho? — Falei apontando pra Júlia. — Vou lá em cima falar com minha mãe.

- Tá certo! Mas acho que ela tá dormindo.

Concordei com a cabeça, dei um beijo na testa da Júlia e subi pro quarto da minha mãe.

- Aou mãezinha, decidiu que não vai ser mais a empregada dessa casa? — Falei enquanto abria a porta e quando ela abriu totalmente eu me calei e paralisei. Nunca na minha vida eu achei que sentiria esse sentimento que tô sentindo, minha mãe tava deitada na cama, com aquelas paradas que colocam no nariz pra ajudar a respirar, ela tava dormindo tão quieta que por um segundo achei que ela não tivesse mais aqui, os olhos estavam fundos e o cabelo não tinha mais cabelo ali. Nenhuma teoria que eu tentava formar na minha cabeça se encaixava e eu ficava me perguntando onde eu tava esse tempo todo que não notei? Sentei na ponta da cama e fiquei olhando ela, um sentimento de desespero começou a me invadir e qualquer tentativa se segurar as lágrimas naquele momento eram falhas.

Não sei quanto tempo eu fiquei ali, olhando pra ela e prestando atenção se ela tava realmente respirando, mas só voltei pra realidade quando a porta do quarto abriu e meu pai apareceu. Ele me olhava com dó, não sei se de mim ou da situação. Fiquei sustentando o olhar no dele, até que ele começou a falar...

- Filho, vamos conversar aqui no corredor. — Eu assenti com a cabeça. Ele saiu e eu fui atras dele fechando a porta. — Kaio, eu...

- Pai, se isso for algum tipo de brincadeira eu juro que não falo nunca mais com vocês.

- Eu queria que fosse...

- Não é verdade não, como é que pode? Até ontem tava tudo bem, do dia pra noite a pessoa tá morrendo? Caralho! É bom começar a me explicar porque eu não to entendendo nada.

- Eu sei que isso é difícil e eu entendo o que você tá sentindo, porque eu fiquei assim quando eu descobri também... — Ele começou a me contar toda a história, eu ouvi tudo calado, engolindo aquela porra toda no seco.

- Eu não to acreditando que vocês fizeram isso comigo não. Porra, eu não sou de vidro. Esse bagulho acontecendo durante dois anos e eu sem saber de nada? Isso é muito egoísmo, eu não mereço. E aí, vocês iam me contar ou eu só ia ser chamado pro enterro?! É a minha mãe ali, é a minha mãe que vai morrer, a primeira mulher da minha vida, ela é tudo que eu tenho desde que eu me entendo por gente e resolve simplesmente me esconder que tá morrendo? Como eu fico? Como é que eu fico agora, pai? Eu não sei de nada dessa merda de vida, quando eu acho que tá tudo dando certo, volta pro inferno de novo. Como é que em menos de 24 horas eu posso perder minha mãe e minha filha? Como? Me diz? Isso não entra na minha cabeça, não dá pra acreditar que eu sou uma pessoa tão ruim assim que só merece sofrer nessa porra. — Eu disse tudo aquilo em desespero, com lágrimas incontroláveis nos outros, cheguei a soluçar. Não era brincadeira, não era um pesadelo, era real... real até demais. Meu pai me abraçou e eu chorei ainda mais no seu ombro.

- Se eu pudesse eu tirava todo esse sofrimento de você, filho. De você, da sua mãe e colocava ele todo em mim. Mas eu não posso, sei que não foi certo ela não contar pra você, mas o que ela não queria era te ver assim, te ver sofrer. Sua mãe te ama tanto, às vezes eu me sinto até mal por não conseguir demonstrar esse amor por você que ela demonstra. Eu errei também em não te contar, mas meu filho, não é o momento pra se preocupar com os erros e sim tentar fazer com que exista ainda mais momentos bons pra serem lembrados. Sua mãe te ama, ela daria a vida por você.
Ele disse e desfez o abraço, ouviu minha mãe chamar ele e abriu a porta do quarto. Eu tava logo atras dele.

- Eu acho que sonhei com o Kaio, me lembro de ouvir a voz dele, parecia tão perto... como se ele tivesse aqui. — Ela disse com uma voz fraca.

- E eu to mãe. — Eu disse saindo de trás do meu pai. Ela me olhou surpresa e piscou várias e várias vezes. Eu não consegui me fazer de forte vendo ela assim pela segunda vez e cada vez que eu chorava ela chorava também. Me deitei no colo dela, ainda chorando enquanto ela passava a mão no meu cabelo.  Porque mãe? Porque você não me contou? Porque você fez isso comigo? Eu merecia saber, eu te amo tanto mãe. Me desculpa por nem de longe ter sido um filho perfeito pra você, por não ter te dado orgulho, por ter brigado com você. Eu te amo, mãe. Não vai embora não, não me deixa aqui, eu não sei nada ainda... por favor, fica aqui pra me ensinar. Sem você não vai ser a mesma coisa.

- Ô meu amor... desculpa a mãe, tá? Eu só queria te poupar disso. Eu te amo, Kaio. Você foi a realidade do meu maior sonho, que era ser mãe... — Ela falou alisando os meus cabelos e na sua voz dava pra perceber o choro.

Vai namorar comigo sim!Onde histórias criam vida. Descubra agora