Capítulo 194

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- O que foi? - A Valentina perguntou - Mariah fala logo.

- Então, deixei vocês dois estarem juntos agora porque o que eu preciso falar vai ser meio delicado pros dois, mas nesse momento é preciso que os dois sejam fortes. O que aconteceu com você, Valentina, foi uma gravidez ectópia conhecida como gravidez tubária, que é quando a gravidez ocorre em uma das trompas de falópio. O que eu quero que você entenda é que quando você tem esse tipo de gravidez não há a possibilidade da gravidez prosseguir, pois quando mais tempo você leva, mais causa danos nas suas estruturas materna, por isso, a gente já realizou a cirurgia pra interromper qualquer chance do feto continuar crescendo. - na minha cabeça nada mais processava, além do fato de que eu tinha acabado de perder um filho, um filho que eu não sabia que já existia e um filho que eu nunca teria a oportunidade de conhecer. Eu olhei pra Valentina e ela procurava uma força no meu olhar que não veio, porque naquele momento eu não tinha força alguma pra passar pra ela, ela ainda não tava chorando, mas deixou soltar tudo quando me viu. Olhei pra Mari tentando que ela me falasse que aquilo tudo era mentira, mas o que eu desejava não veio. Aliás, ta ai mais uma coisa que eu desejava que não veio.

- Doutor, corre algum risco dela não conseguir engravidar mais? - Quando ela disse isso deu pra ouvir um gemido de dor até então baixo saindo da Valentina, segurei na mão dela e beijei.

- Então, graças ao tempo que você estava, que a gente suspeita de que seja de um mês, você vai sim poder ter outros filhos, quantos quiser, mas a gente vai querer também que você faça um acompanhamento, como se fosse um tratamento. Eu sei que a gente sonha em construir uma família e que esse momento está sendo difícil pros dois, mas espero que vocês entendam que isso é algo comum acontecer, pode acontecer com qualquer um, vocês não foram os primeiros e infelizmente não serão os últimos. Boa sorte e Valentina, você terá alta daqui há dois dias, você fez uma cirurgia delicada e é bom que tenha algum acompanhamento médico nas próximas 48 horas.

- Obrigada doutor. - Mari respondeu. - Vou deixar vocês dois um pouquinho a sós, mas já eu volto. - Ela disse e saiu do quarto fechando a porta.

Tive que criar coragem pra olhar pra Valentina, porque tudo que eu não tinha era coragem, me faltava. Eu não suportava a ideia de ver ela triste, não suportava essa situação. Um filho... eu amaria tanto, eu cuidaria tanto, seria tão amado.

- A gente não merece isso. - Foi a única coisa que consegui falar. - Não merecia. - Funguei e limpei as lágrimas.

- Me desculpa...

- Não me pede desculpas. Não. - Beijei a testa dela. - Você não ouviu que você não tem culpa? A gente não tem, isso acontece. Não é culpa sua. - Valentina começou a chorar de soluçar.

- Isso só pode ser castigo, eu sempre negava a ideia de ter um filho, ta ai... a culpa é minha, Bernardo.

- Shiiii.. não vamos sofrer mais do que a gente já ta sofrendo pela situação. Não vamos, você não merece e eu também não mereço. - passei a mão na barriga dela, e ela voltou a chorar.

- A gente amaria tanto ele, porque meu Deus... porque com a gente.

- Fica calma, por favor. - Eu fiquei ali alisando o rosto dela e tentando cuidar dela, Valentina falava varias coisas bem tristes, eu queria conseguir passar mais alguma força pra ela só que não dava, não saia, eu já não tinha mais nem pra mim. Uns 30 minutos depois, ela dormiu, logo a Mari entrou no quarto.

- Bernardo... - ela disse e eu abracei ela, me desmoronando em chorar e ela chorou também. - Calma...

- Porque isso ta acontecendo? Onde foi que a gente errou tanto que não merece ser feliz? Mari, tanta gente que coloca filho no mundo sem ter condições de cuidar, porque isso com a gente, justo agora? Tava tudo indo do jeito que eu tinha planejado e pedido a Deus.

- Eu sei.. eu sei, essas coisas a gente não consegue entender. Não da pra entender, vocês não mereciam. Mas por favor, levanta essa cabeça, escuta o que o médico disse, vocês vão poder ter outro, não vai nem demorar pra isso acontecer, vocês vão conseguir.
- Eu não consigo ter força pra olhar ela nos olhos, que pesadelo, puta que pariu.

- Bernardo, vai comer alguma coisa, eu já liguei pro Mateus, ele ta vindo pra cá também. Esfria um pouco sua mente, eu vou ficar aqui com ela. Fica calmo. - Eu assenti e fui até a praça de alimentação do hospital atrás de comer alguma coisa, porque realmente a fome tinha apertado, mas ao mesmo tempo que eu estava com fome, eu não conseguia sentir gosto na comida, tava tudo sem gosto, comida, a vida, tudo.

Vai namorar comigo sim!Onde histórias criam vida. Descubra agora