Capítulo 36

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Alguem pode me dizer o que está acontecendo?

Anahí sempre ficava empolgada escolhendo a gravata que usaria, mas ela parecia apática  na cama, distante, sem responder a nada que eu perguntasse. Talvez aquilo fosse parte do jogo, sabe como é, para que eu não desconfiasse da festa surpresa que eu já sabia. Eu estava feliz naquele dia. O São Paulo me liberou e ia ser a primeira vez em sete meses que jantaria fora com Any. Mas seu silêncio começava a me perturbar.

Ela me olhou e deu um sorriso, não era um sorriso feliz, então  se aproximou, em silêncio  pegou uma gravata fina preta e passou pelo meu pescoço, mas parecia um robô ao dar o nó, jamais me olhando nos olhos.


Alfonso: Any... –segurei o rosto dela entre as maos –O que houve?

Ela se desvincilhou, me deixando mais nervoso. Pegou uma caixinha do guarda-roupa e me entregou.

Anahi: Feliz aniversario –disse, seca.

Alfonso: Obrigado –dei um beijo nela.

Frio, sem emoção, insosso, foi assim que me beijou.

Tentei não pensar nisso e abri a caixa. O relógio brilhava ali, lindo, eu sorri. Adorava ganhar relógio e comprar. Era um colecionador.

Alfonso: Me ajuda a por? –sugeri, só pra que ela ficasse mais perto.

Ainda em silêncio, ela o colocou em meu braço esquerdo, passou o dedo sobre ele e suspirou.

Alfonso: Vai me dizer o que está acontecendo? Ou pretende me enlouquecer?

Anahi: Você prometeu me deixar arrumar emprego sempre se metar, Alfonso.

Ah, não! Não! Droga, como ela descobriu? Fechei os olhos agora entendendo todas as açoes dela quando cheguei.

Alfonso: Eu ia te falar.

Anahi: Quando? –agora era uma acusação, agora a raiva brilhava em seus olhos –Quando a gente brigasse e você jogasse em minha cara que lhe devo minha sobrevivência em São Paulo? Droga, Alfonso! –se afastou mais –Tudo o que queria era provar para mim mesma que sou capaz!

Alfonso: Mas você é, só precisava de uma oportunidade... Por que não me agradece? É o que a maioria faria.

Anahi: Obrigada –disse cetica, os olhos escuros –Satisfeito, agora?

Alfonso: Droga, Any! –eu perdi a paciência –Venho me esforçando todo esse tempo para lhe agradar. Aguentei sua amiga idiota que só tentou nos separar, que criou aquele maldito site de “É tudo farsa” falando de nós, aguentei você a defendendo o tempo todo. Suportei seu gênio, e me esforcei para controlar o meu. Para que? Para você ficar com raivinha porque consegui um maldito emprego na tv, ganhando mais do que qualquer pessoa recem-formada? Te dei carinho, amor e atenção, para que? Para você estragar tudo no dia do meu aniversário por causa de um maldito orgulhozinho ferido? Qual é o seu problema?

Anahi: Vou te dizer qual é o meu problema! –gritou –O meu problema foi ter escolhido você ao inves de uma amizade!

Alfonso: Não tem jeito mesmo, não é? –sibilei –Dulce sempre vai estar entre a gente.
Nós ficamos em silêncio.

Alfonso: É meu aniversário, Any –murmurei –Por que está fazendo isso? Comigo? Com a gente?

Anahi: Você destruiu a confiança que eu tinha em você, Alfonso. Se eu tivesse descoberto por você não doeria tanto. Teve sete meses para me contar... –suspirou –Você está fazendo isso, Alfonso. É tudo culpa sua. Lutei contra meus princípios, perdi uma amizade, me entreguei por você. Para que? Para me tratar como uma maria-chuteira? Eu não queria um emprego importante. Tudo o que quis nessa vida era provar a minha mãe que sou capaz de chegar aonde quero por minhas próprias pernas! Disse isso várias vezes, mas você não quis escutar. Nunca deviamos ter tentado, Alfonso, nos destruído assim –nos encaramos –Somos completamente diferentes, antagônicos.... Eu tive coragem de lutar pelo que queria e não vou deixar que um covarde destrua o que consegui.

Alfonso: Eu te amo, Any –tentei, sabendo, inultimente

Ela estava certa. Eu era um covarde, covarde de mais para a coragem destemida dela, que veio para São Paulo sem conhecer ninguém e quase sem dinheiro por seus sonhos. E eu, covarde como era, quase abri mão do meu por ela. Ela não me merecia.

Nós não nos mereciamos.

Anahi: Vai viver sua vida na Espanha, Poncho –disse baixo.

Eu a beijei, desesperado, uma última tentativa de evitar o náufrago. Mas era tarde de mais. Sempre foi tarde de mais para nós dois.

Alfonso: E você? –sussurrei.

Anahi: Vou sobreviver, sempre sobrevivo. Acabou, Poncho. Boa sorte.

Ela saiu e bateu a porta. Sem forças, apenas fechei os olhos e deixei as lágrimas rolarem. Doía. Doía muito. Não deveria ser assim, terminar assim.

Mas era.

Mas terminou.
Parecia que aquilo iria me matar, quase como se tivesse, sem anestesia, cortado meu peito e tirado meu coração com a mão, mas que mesmo com ele sangrando em meus dedos, ainda continuava viva, ofegando, sucumbindo, morrendo tao lentamente que parecia me enlouquecer.

Apesar disso, sabia que havia feito o certo. Você pode me julgar, pode não entender, mas esse era o único jeito que tinhamos de não nos matarmos mutualmente.

Ele precisava ir atrás do seu sonho e eu do meu. Se não fizessemos isso, daqui um tempo iriamos nos arrepender e culpar um ao outro. Não havia soluções para nós, nem finais felizes, ninguém pode saber o que vai acontecer daqui para frente. Era a chance da vida dele. Você deixaria? Que o grande amor de sua vida fechasse a porta na cara de seu sonho por puro egoísmo? Só para que ele ficasse ao seu lado? Desculpa, eu não posso, para mim o amor é muito mais grandioso do que ter a presença dele ao meu lado. Posso abrir mão do amor e sobreviver, como sei que vou, mas o que seriamos de nós se abrissemos mao de nossos sonhos?

Mais cedo ou mais tarde, sucumbiríamos. Era melhor assim. Agora. Sem culpados. Ou acusados.

Fui para casa sem derramar nenhuma lágrima . Por dentro continuava sangrando, por fora, o sentimento da coisa certe ter sido feita, prevalecia, me impedindo de chorar. Não teria chorado, eu sei, se no dia seguinte não tivesse aberto meu e-mail e visto uma mensagem de Marcelo com uma só palavra, mas que certamente expressava tudo e muito mais do que se fosse um texto.
“Obrigado”


E mais nada. Só dor. E lágrimas. E fim. E sem esperanças. Mais nada. E só sonhos.

Destroçados.
Me perguntei, não uma mas, várias vezes, durante aqueles três dias insanos em prantos quando a vontade de chorar e ficar abraçada a mim mesma na cama passariam. Se é que passariam. Sem compromissos –havia pedido demissão antes de demitir Poncho como namorado –não me restava muito além de chorar. Christian tentou me levantar, mas não funcionou, suas frases que sempre me divertiram, agora, me irritavam ao ponto deu ter gritado: Para, me deixa sofrer em paz!

Sei que Alfonso me ligou duas vezes, não tive coragem de atender. E falar o que? Eu estou bem? Não estava. Não ia mentir. A dor em minha voz me denunciaria. Não confiava em mim mesma. Quantas foram as vezes que, desesperada, quase liguei pra ele para pedir para me perdoar e voltar? As palavras me trairiam. Meu coraçao me trairia.

Mane também ligou, inúmeras vezes e também não atendi. Maite não ficou atras, mandando mensagem a cada cinco minutos, dizendo que eu deveria atender. Para que? Não respondi, não atendi. Ela mandou a hora e dia do vôo de Alfonso, até o numero do portao de embarque, dizendo que ainda dava tempo, ainda havia chances.

Não fui.

Ao invés disso, apaguei todas as mensagens, de qualquer um que me lembrasse Alfonso. Depois tirei os números de minha agenda, para que não caísse em tentaçao. Fiz o mesmo no e-mail, no Twitter, no msn. Não queria ver e ter nenhuma ligação com ele, nada, ninguém. Depois guardei as fotos longe dos meus olhos e apaguei o plano de fundo do computador.

Era uma pena que não tivesse o mesmo poder sobre meu coração e minhas lembranças. Foi apenas na segunda semana que eu apresentei uma melhora significativa de espírito. Quando comecei a sentir fome e necessidade de me exercitar –leia-se andar do quarto ate a cozinha. Christian estava lá quando saí da hibernação, e me perdoou pelos berros insanos. Meu melhor amigo continuou com suas palhaçadas normais e estas já não me irritavam tanto. Eu me permiti sorrir, vejam só! Achei que nunca mais conseguiria fazer isso de novo!

Dulce não se manifestou em nada, o que me magoou um pouco. Tudo bem, muito. Ela parecia não ver o quanto eu ficava mal sendo praticamente obrigada a assistir o campeonato espanhol e o vendo ali.. tao lindo com sua camisa 11.

Christian disse que era proposital, que estava na hora de enxergar de verdade quem era Dulce, encarar os fatos como a adulta que era. Discordei nas primeiras vezes, depois fui vendo, pouco a pouco, o quanto estive errada nos últimos meses, insistindo numa farsa e ressucitando uma amizade que nunca existiu.

Não era coisa da minha cabeça, ela parecia bem mais feliz agora, que eu estava solteira. Não estava tão mal humorada e mal educada. Ela não ligava para os meus soluços incontroláveis, continuava vendo aquele campeonato ridículo europeu. Alfonso estava certo, sempre esteve certo. Eu era ingênua de mais para morar em São Paulo.

Me odiei todas as vezes em que briguei com ele por sua causa, por ter perdido. Tanto tempo em sua defesa. Agora, depois do fim, aqueles minutos me pareciam preciosos. Eu os queria de volta.

Eu queria socar a cara dela.

Eu queria me socar. Cansada de aturar jogos, -não os via nem quando era namorada dele! – e mais ainda de ser tratada como trouxa e idiota, decidida a resolver logo isso, desliguei a tv sem avisar. Christian, que só pra não variar estava em minha casa, me olhou com espanto e curiosidade, mas não disse nada. Ele me conhecia muito bem.

Dulce: Ei! Eu estava vendo! –deu um pulo.

Anahi: Não me diga? –ironizei me sentando –Não sei se você percebeu, Dulce, então vou deixar uma coisa clara: eu terminei com Alfonso e não suporto ver jogos. Pode ser compreensiva uma vez na vida?


Dulce: Também pago a assinatura da SKY, Anahi. E só porque terminou com ele tenho que parar de ver as coisas que gosto.

Ela ligou a tv de novo, mas eu puxei o fio sem paciência.

Dulce: Qual é o seu problema?

Anahi: Você quer mesmo saber? Passei as ultimas duas semanas chorando incontrolavelmente no quarto ao lado do seu e o que você fez? Nada! Nada a não ser ver esse maldito campeonato espanhol! Me desminta se estou enganada, mas acho que seu desejo é me provocar. Pois bem, já conseguiu, Maria. Achei que eramos amigas, mas me enganei –suspirei.

Dulcw: Eu achei que era sua amiga, mas você foi pra cama com o homem da minha vida!

Rolei os olhos.

Anahi: Me apaixonei por ele, Dulce, e tive a sorte de ser correspondida. Ninguém teve culpa –me levantei irritada.

Dulce: Você, sempre você! Sempre tentando monopolizar os homens de sua volta sem se importar com o sentimento de ninguém. Christian é seu grande exemplo, sempre caído aos seus pés, fazendo as suas vontades!

Christian: Quando foi que eu entrei no assunto? –ele murmurou Mal ouvi o resmungo de Christian, a furia me consumia e minha única reação me fez me sentir dez quilos mais leve, como se eu sempre esperasse por isso, quisesse, fazer isso, meti a mão na cara dela. Com mais força do que quando bati em Poncho, meus dedos marcados em sua face esquerda.

Anahi: Sempre eu, Dulce? –cuspi –Lutei contra mim todos esses malditos meses, me sentindo a pior das pessoas por você. Alfonso não te suporta, garota. Não faz idéia de quantas vezes briguei com ele por sua culpa, porque lhe defendi. E é isso que ganho em troca?

Dulce: Alfonso era meu! Meu ídolo, meu amor. Você sempre detestou qualquer coisa de futebol! –acusou –E ele só não gostava de mim por sua causa!

Anahi: Saia da minha casa, Dulce. Arrume suas malas e saia. Alias, -continuei furiosa –compre uma passagem para Madri e vá lamber meu resto!

Dulce: Ele seria muito mais feliz, comigo. Eu sei tudo sobre ele.

Anahi: Você não sabe de nada, Dulce. Não sabe 1/3 do que ele é realmente, Não conheceu seu coração .

Dulce: E você conheceu? –sorriu ironico –Pelo jeito não, ela te abandonou para ir pra Espanha!

Bom, aquilo era mesmo engraçado.

Anahi: Vai embora. Eu não vou pedir na terceira vez.

Dulcw: Eu vou. Mas porque não suporto mais olhar para você –passou por mim e foi pro quarto

Christian me abraçou

Christian: Estou orgulhoso de você, perua –beijou minha testa

Anahi: Acho que, mais uma vez, somos só nós, amigo.

Christian: Sempre foi, sempre vai ser. –me encarou e secou minhas lagrimas –Bola pra frente, cabeça erguida que a vida vai melhorar!

Era o que desejava, desesperadamente.

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Olá, gatenhaaas!!
Sei que to atrasada aqui, maas a culpa foi e não foi minha: primeiramente, eu tinha esquecido de postar domingo(e a preguiça compactuou com isso) e ontem, sério, ontem eu tive um crise de sinusite(até hoje, na vdd) e tava impossível de vim aqui, mas como está tuudo melhor aqui estou!!!

Vamos lá!!!
Okok, esse cap acabou comigo, sério, a Any foi muito forte pra fazer isso, mas tinha oposição em todos os lados e, por hora, era melhor assim... aah, pelo menos essa separação serviu pra algo, ela enxergou a verdadeira "Dul", amei tanto o tapa. 😉
E vcs, o que acharam? Comentem aí, pra eu saber.

Beijos e até domingo(ou antes??).

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