2 temporada- capítulo 11.

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Tirei o dia para brincar com meus filhos, tinha muito tempo que eu não fazia isso. Nenhum jornal ainda havia descoberto que era Any e não Mai que estava internada. A morena –ou às vezes até Mane –me ligavam de uma em uma hora para dar noticias.

Ellie, a babá indiscreta e inconveniente, quase se jogava sobre mim enquanto jogava PS3 com os meninos e quando fomos brincar de War ela queria porque queria fazer parte do grupo quando Chris disse que não era justo ele ser par de Filipe e eu de Thiago –e claro que Ellie não participou e,novamente, claro que nós demos uma lavada nos dois.

A falação foi tanta que na batalha naval Thiago fez dupla com Chris, o que não evitou minha vitória.

Só paramos quando Chris, coitado, se cansou de perder e nossas opções de jogos acabaram. Prometi aos meninos que compraria outros jogos e que teríamos outra tarde tão divertida como aquela, quando os coloquei na cama. Nada disso, no entanto, me fez esquecer o que aconteceu, e como poderia?

E, no quarto sozinho, me permiti chorar.

Fingir para a sociedade, pros meus filhos, pros meus amigos era fácil; difícil era fingir para mim mesmo.

Lurdes já havia limpado o quarto, Mai não deixara o bilhete de despedida a vista –provavelmente para me poupar –ainda assim eu podia imaginar a cena. Ainda assim queria descobrir aonde Any conseguiu tanto remédio, suficiente para lhe causar uma overdose.
Nenhum remédio que ela tomava –e eram três tipos diferentes –ficava no quarto, eu tinha essa precaução. E, como ela já havia tentado antes quela mesma coisa, eu havia guardado qualquer remédio bem longe.

Any nunca saia do quarto, então, alguém levou para ela ou os remédios tem asa.

Sou só eu que estou achando que quem levou é o mesmo de quem ta surrupiando as coisas da minha mulher?

Quando Anahi deu sua primeira crise eu não achei nada de mais. Ela havia acabado de sair do hospital e teve um acesso de choro ao ver o quarto montado de Line vazio, evei horas para acalma-la e faze-la dormir. O fato dela não querer sair do quarto nem falar com ninguém também não me estranhou, ela estava se recuperando, era o que eu dizia para todos.

Minha aposentadoria precoce tão planejada não podia ter vindo em hora melhor.

Foi depois de um mês que os acessos de choro deram lugar aos acessos de fúria de Any e que ela quebrou o primeiro abajur em mim –exatamente nas minhas costas –Mane foi o primeiro a dizer que eu precisava leva-la ao médico, que Any não era mais a mesma.

Minha Any, minha doce Any, alegre, divertida, de bem com a vida e alto astral, precisando de tratamento?

Bobagem!

Ela era forte, iria superar aquilo fácil, tirar de letra e ainda marcar um gol de craque.

Doce ilusão.

Enquanto eu esperava sua recuperação ela foi piorando gradualmente, eu podia ver enquanto ela caminhava pela linha do real e do imaginário sem saber o que era o que. Até que criei coragem e chamei um médico e um psicólogo aqui em casa.

Eles não levaram cinco minutos para diagnosticar.

Depressão. O mal do século. –foram palavras deles.

E desde então meu mundo não era mais o mesmo.

Fui ate o closet e peguei nosso álbum de casamento; dei um sorriso olhando como era a Any por quem me apaixonei, sorridente e feliz, em seu vestido de noiva. Ela quis casar antes que a barriga crescesse –eu nem liguei, óbvio –e exigiu uma cerimonia simples e discreta, o que deixou a imprensa louca pela decisão.

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