Epílogo.

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Alguns aninhos depois, eu não vou especificar porque não quero que você descubra a minha idade, oi?Tudo bem, tudo bem, você vai descobrir de qualquer jeito mesmo.

Unrun, eu morava em Madri e ainda era casada –aliás muito bem casada, run, é melhor tirar a inveja de cima –ele ainda me provocava, especialmente me chamando de “loirinha” toda vez que não entendia algo e adorava me irritar, mas fazer o que se eu amava esse homem? Eu continuei a dançar por alguns meses mas a profecia do Alfonso se tornou real –dá para acreditar? – e eu fiquei grávida. Hoje, mesmo com Thiago já com três anos –não faça as contas da minha idade! –eu não tinha pretensão alguma de voltar a dançar. Adorava ainda, mas também gostava de ser dona de casa. Além do mais, acha que cuidar do dinheiro de Alfonso, dele e do seu filho encapetado é tarefa fácil?

Thiago tinha os cabelos de Poncho, cheios de cachos e pretos, e os meus olhos. E, como eu costumava a dizer, a teimosia do pai e a inteligência da mãe. –tenho que puxar sardinha pro meu lado, né? E , para desespero de Kaká e diversão minha e de Poncho, Thiago era grudado com Bella, para ter uma ideia, depois de mama, papa, padinho, Bella havia sido sua primeira palavra. Ficavam tão juntos que até para ir pra escolinha tinham que ir no mesmo carro.

Até eu tinha ciúme às vezes, tudo bem, quase sempre,

Abri o e-mail e sorri, falava com Christian todos os dias, ele morava com o namorado aqui do ladinho, em Paris, mas eu estava tentando convencê-los a vir pra Madri. Ainda era estranho morar a mais de uma quadra de distância do meu melhor amigo. Já havia convencido Chris, faltava só Pierre.

Fiz uma careta com o link que ele mandou, eu já havia visto, é claro. Dulce, mesmo depois de tanto tempo, não desistia. Dulce começou no site falando mal de jogadores famosos que não lhe deram bola –preciso dizer quem era seu alvo preferido? Agora era pratocinada por um tabloide idiota e ganhava a vida difamando casais famosos –novamente, preciso dizer quem eram os alvos?

Alfonso já nem ligava. Havia ganhado, esse ano, o troféu de melhor jogador do mundo pela FIFA, então, realmente, tablóides sensacionalistas não o abalavam em nada. Ele só ficava bravo quando mexiam com o Thiago, mas isso só aconteceu uma vez e o processo que receberam foi tão forte que nunca mais tentaram nada. Mane e Mai –finalmente casados, achei que nunca fosse ver isso –e eu éramos os responsáveis por filtrar as notícias. Eu tentava não falar com Alfonso porque tudo pra ele se resolvia com um processo e tentava não ficar mal por Dulce, que foi minha amiga, ser a maior responsável. Era mais fácil a cada dia.

Fechei a matéria cujo título era “O Príncipe Herdeiro Protegido do Rei” que falava de Thiago. Eu nem queria ver a fúria de Alfonso quando ele chegasse e visse isso e comecei a responder meu amigo.

“Sim, eu vi. O que não quero ver é Alfonso depois que ele ler, todo mundo sabe que é só falar de Thiago que ele perde a pouca educação que lhe resta –que não é muita, vale acrescentar. Problema da editora com o processo que vai receber.

Por falar em seu afilhado, ele está morrendo de saudade e querendo saber quando vão se mudar. Diga a Pierre que a casa com preço bom a uma quadra daqui não vai espera-los para sempre. É melhor fecharem o contrato logo, não se acham boas chances muitas vezes na vida.

Beijos peruo!”

Quando Alfonso chegou eu estava eufórica com a resposta curta de Christian: “Para de usar meu afilhado para nos comever, já estamos de mudança e você estragou a surpresa, bandida!” e limpava o hall de entrada, aquele lotado de troféus e medalhas que agora também exibia, no centro da parede de frente para porta, uma foto enorme do nosso casamento e outra do nosso filho, os maiores troféus de Alfonso, como ele mesmo dizia.

Ele abriu a porta e eu dei um pulo em seu colo, fechando as pernas em sua cintura. Alfonso riu fechando a porta, deixando a mochila cair para me beijar.

Alfonso: Isso tudo é saudade, amor? –mordeu meu queixo.

Tinha quase uma semana que não o via, só conversávamos por telefone, porque o Real Madrid não estava em Madri, haviam ido jogar pela Champion League, algo assim–é, eu ainda odiava e pouco entendia de futebol e não creio que isso mudaria algum dia.

Anahi: Também –cheirei seu pescoço.

Alfonso: Também? O que mais?

Anahi: Christian e Pierre vão se mudar! Comprei aquela casa a uma quadra daqui e a pus a venda a preço de banana, finalmente os convenci. Não é o máximo?

Alfonso: Deus, Any, seu amigo tem razão, você é uma bandida mesmo. É capaz de provocar a terceira guerra mundial com essa sua teimosia e determinação e esse seu sorriso lindo.

Eu ri, descarada.

Poncho: Onde está Thiago?

Anahi: Adivinha? –rolei os olhos –Na casa do lado, com Bella, é claro.

Alfonso: Tá me dizendo que essa casa é só nossa? –sorriu, tarado

Anahi: Sim. No que está pensando? –fingi inocência, porque inocência sempre deixa Poncho maluco.

Alfonso: Que está na hora de dar uma irmãzinha para Thiago.

Anahi: Ah, não, Poncho, está profetizando de novo? –rolei os olhos.

Alfonso: Ainda não. Depois pode ser uma profecia.

Anahi: Você não toma jeito mesmo –ri, com ele me levando para o quarto.

Alfonso: Não com você do meu lado. Além disso, nessa casa falta uma princesa, não acha?

Anahi: E se vier outro menino? –disse, quando ele me pôs na cama.

Alfonso: Não se preocupe, nós vamos tentar até ter uma menininha, obstinada e teimosa, como a mãe. Capaz de fazer um homem começar uma guerra por ela. Como você.

Anahi: Está preparado para os marmanjos que virão atras dela? –afrouxei sua gravata.

Alfonso: Ah, Thiago será um grande aliado. Espantarei todos. Um por um.

Anahi: Eu a ajudarei. –avisei, feminista como sempre.

Alfonso: Sei que sim –riu –Mas vou pensar nisso daqui quinze anos, que tal? –tirou minha blusa e eu sabia.

Sabia que daqui 15 anos continuaríamos unidos, com nossas mesmas brincadeiras e provocações, cuidando e irritando um ao outro, independente de modelos que aparecerem, tabloides sensacionalista, meus medos idiotas e nossas enormes diferenças.

Porque era assim que tinha que ser. O certo e o errado. O incompleto e o perfeito. Tão opostos quanto possível, sem deixar de sermos semelhantes no mais importante, no amor que sentimos um pelo outro.

Éramos como a água e o vinho na mesma taça.

E é claro que eu era o vinho.

Mas éramos um só. Ontem, hoje, amanhã.

Para sempre.

E nem venham me dizer que ele não existe!

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