2 temporada- capítulo 2.

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Anahi estava tendo mais um acesso de raiva, tão furiosa que, sem ver, atirava várias coisas no chão. Já havia perdido a conta de quantas vezes ela já quebrou nosso quarto, felizmente os meninos não estavam, Maite os levara para passear, então, não havia perigo deles presenciarem aquela cena.

Não era todos os dias que aquilo acontecia.

Às vezes ela levantava doce e calma, quase como antes de tudo, exceto pela tristeza de seus olhos. Às vezes ela conseguia ficar o dia todo assim, mas na maioria dos dias era assim que acordava. Eu era sua maior vítima, quando sua mente descontrolada fantasiava que eu estava com outra mulher ou que eu era o culpado de tudo. Ás vezes ela estava bem, mas quando me via começava a gritar e chorar e quebrar tudo em cima de mim.

Como agora.

Abaixei vendo o terceiro abajur da semana vir em minha direção, às vezes dava mesmo vontade de abandonar tudo, jogar tudo pro alto, arrumar as malas e deixa-la tendo crises sozinha. Mas, não, porque essa mulher que grita, que me odeia, e que já jogou uma faca em mim é a mesma que me deu dois filhos maravilhosos, que disse que me amava, que aguentou meu choramingos e crises estúpidas. Essa mulher descontrolada, com depressão profunda e início de síndrome de pânico, é a mulher da minha vida, a única que um dia eu amei e a única que amarei para sempre.

Mesmo com toda a dificuldade, é com ela que e sempre vou querer ficar.

Esperei, com a experiência de longos meses, que a crise dela diminuisse. Quando suas forças acabassem e ela sentasse no chão do quarto abraçada àquele maldito urso de pelúcia e eu pudesse lhe cedar. Odiava ter que força-la a tomar remédio, era triste de fazer com ela como fazíamos com Floquinho, mas apesar de sentir meu coração parar toda vez que o fazia, era necessário e o único jeito para acalma-la.

Ela se debateu, como sempre, em meus braços, mas engoliu o remédio- o antidepressivo era tão forte que dali a alguns minutos ela estaria inconsciente. A peguei no colo e a aconcheguei na cama, a abraçando, ouvindo seu choro diminuir lentamente. Anahi havia emagrecido tanto nos últimos dias meses que a maioria de seus ossos já eram evidentes.

Comecei a cantar para ela. Antes eu cantava uma cantiga espanhola, mas percebi que A la Nanita Nana (A la nanita nana nanita ella nanita ella mi niña tiene sueño bendito sea bendito sea ) a deixava, mesmo insconsciente, inquieta. Então me lembrei que antes de tudo acontecer era essa a música que cantava com a mão em sua barriga. Tive que relembrar velhas cantigas de ninar que ouvia quando era um bebê, antes da minha mãe se for, para escolher a melhor.

-Nessa rua, nessa rua tem um bosque que se chama, que se chama, solidão. Dentro dele dentro dele mora um anjo, que roubou que roubou meu coração. –diminui o tom enquanto ela se entregava ao torpor –Se eu roubei se eu roubei seu coração é porque tu roubaste o meu também. Se eu roubei se eu roubei teu coração é porque é porque te quero bem. –ela fechou os olhos dando um suspiro e eu terminei –Se essa rua se essa rua fosse minha eu mandava eu mandava ladrilhar, com pedrinhas com pedrinhas de brilhante só pro meu só pro meu amor passar...

Totalmente desacordada, entre ao sono, dei um beijo na testa dela e peguei a revista, causa de seu ataque de hoje.

Eu não podia fazer milagres, não quando tenho uma inimiga que não desiste como Dulce como jornalista e empregados tão incopetentes. Me pergunto porque gasto uma fortuna com uma legião deles se não são capazes de cumprir uma mísera ordem!

Entrei na cozinha e todos estavam alí, fofocando, é claro, por outra crise da patroa. Só não os demitia, um por um, porque realmente precisava deles. De todos, a única que prestava era minha fiel cozinheira, Lurdes, a única que realmente sentia por Anahi estar daquele jeito. A pior delas era uma das babás, Ellie, que não fazia nada além de as unhas ou de ficar se insinuando para qualquer macho que entrasse nessa casa. Só não a demiti ainda porque não tenho tempo para procurar outra com Any piorando a cada dia.

Alfonso: Ótimo, estão todos aqui. Podem me dizer quem deixou essa droga de revista chegar nas mãos de Any?

Joguei a revista na mesa. A montagem da capa era tão medonha que, se tivesse sido há um ano atrás, Any e eu teríamos rido por horas. Infelizmente agora minha mulher não estava em seu melhor e qualquer coisa era motivo de desconfiança, até mesmo uma capa como aquela com uma mulher que nunca vi na vida! Como se eu realmente tivesse tempo de jantar fora. Mesmo aposentado –parei de jogar com 33 anos, um ano atrás – pouco antes de tudo acontecer para aproveitar a família –não tinha tempo nem para mim. Cuidar de Any e de um menino de sete e outro de quatro não era fácil.

É claro que nenhum deles assumiu a culpa.

Alfonso: Quantas vezes vou precisar repetir que não quero nenhuma revista de fofoca e trabloides idiotas nessa casa? E que, muito menos, chegue as mãos de Anahi?

Todos, menos Lurdes, abaixaram a cabeça.

Alfonso: Já é a segunda vez em duas semans –grunhi –Acho que vocês ganham bem o suficiente para obedecerem e respeitarem as regras da casa, não?

Eles continuaram quietos, como de costume.

Alfonso: A próxima vez que isso entrar aqui, e eu não vou nem perguntar quem foi o culpado, estarão todos –eu olhei cada um, menos Lurdes –eu disse todos, na rua.

-Papai! –Filipe abraçou minhas pernas.

Alfonso: Lurdes, queime isso –peguei meu filho no colo –E vocês estão dispensados por hoje.

Filipe: Tava ton sodade. –ele sorriu, mostrando suas covinhas e estreitando os olhos azuis idênticos ao da mãe.

Thiago: Estava com saudade, bobão. –rolou os olhos –Devia aprender a falar direito.

Thiago não só estava na fase em que achava que sabia tudo, porque isso ele sempre soube. Já havia sido adiantado um ano por causa disso, toda vez que olhava pra esse menino ele tava ou em cima dos livros ou enfurnado na internet e, isso tudo, eu sabia, era pra chamar a atenção de Bella, agora já com 10 anos, que não lhe dava atenção mais. Mas, com certeza, ele estava na fase de corrigir o irmão que aprendia a falar.

Alfonso : Thiago –coloquei Filipe no chão e me ajoelhei –Já conversamos sobre consertar seu irmão.

Thiago: Eu não tenho culpa se ele é um burro!

Alfonso: Você falava do mesmo jeito com três anos.

Thiago: Não falava, não! –falou alto.

Suspirei.

Mane: Não vai adiantar, Poncho –riu, logo atrás –Esse garoto é impossível, herdou o gênio da mãe, esqueceu?

Alfonso: Cadê a Mai?

Mane: No carro, com a Mel. Você sabe, ficou com medo de entrar e acontecer de novo...

Assenti de leve, nem tinha coragem de relembrar a cena!

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