Capítulo 37

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Dois Anos Depois.

Eu tinha um motivo para continuaria, não iria sofrer para sempre por alguém que não me valorizou. Doía, não vou mentir, pode falar que sou louca por isso também. Doía muito, mas não era o fim do mundo e eu não o trataria dessa forma.

Eu viveria o presente e basta.

Sou um cara focado e disponibilizei minhas energias para o Real Madrid, para fazer valer a pena o investimento deles em mim, para que a torcida merengue não se decepcionasse comigo, que eu não me decepcionasse.

O futebol sempre foi e ,talvez sempre, será a única coisa que tenho na vida.

Nos próximos dois anos entrei na ascenção  profissional e em declínio na pessoal. Aliás, vida pessoal? O que era isso? É claro que eu tentei me envolver com outras, mas era diferente, faltava algo... Não demorei a perceber que o que faltava era Anahi, por isso, mesmo sem notícias da marrenta mais encantadora que conheci e mesmo com um caso fixo sem compromisso, me proibi envolver mais do que só sexo pós-jogo.

Era isso que Steffanny era pra mim. Sexo. E mais nada.

Mane já havia desistido de mim. –ele detestava Tef –e Maite me tratava como “caso perdido!. Pra ser sincero, eu havia desistido de mim.

Um ser sem coração. Como aconteceu?

Tef: Benzinho... chegou isso pra você?

Peguei o envelope da mão dela. Ninguém me mandava ingressos de ballet, o mundo sabia que aquilo me fazia mal. Steffanny, a morena fogosa e louca para engravidar e se dar bem na vida, me olhava com olhos curiosos enquanto abria a carta junto com o convite.

E gelei.

“Passei horas me perguntando como iniciar esta carta e não cheguei a conclusão alguma. Provavelmente deve estar se perguntando porque disso, depois de dois anos. Não sei te responder, só sei que precisava. Não sei como está sua vida, Poncho, se já me esqueceu, se me odeia, se tem outra. Me enganei todos esses meses me dizendo que sobreviveria e sobrevivi. A gente sempre sobrevive, não é? Mesmo que lhe tirem o coração. Sei que seu tempo é curto e não irei enrolar muito, vou direto ao ponto: Estou realizando meus sonhos, Poncho. Se me dissessem há dois anos que seria a bailarina principal de Cisne Negro e que rodaria o mundo eu riria, mas aqui estou eu, no meu clímax profissional. Deve estar se perguntando agora: e daí? Estou em Madri essa semana e minha estreia é amanha, só queria lhe fazer um pedido, sei que não tenho direito algum e você não precisa ir, mas queria que você me visse, Poncho, é mesmo muito importante para mim que você participasse da realização do meu sonho, sempre fui fascinada pela Espanha, sabe disso, e sempre quis me apresentar aqui. Não espero que venha, mas pode pelo menos pensar no assunto? Nem precisa falar comigo, só precisa estar na plateia. Mane e Maite já receberam o deles e estou mandando dois porque não sei com quem você está e você pode querer leva-la. A história vale a pena, Poncho, faça um esforço. Pelos bons momentos, que seja.

Beijos, Any.”

Fechei a carta e peguei o convite VIP da primeira fileira. Suspirei, de olhos fechados.

Eu não iria. Não importava o quanto queria ou o quanto era importante para ela. Importava, sim, que eu salvasse meu coraçao.

Ou o que ficou dele, pelo menos.
O pessoal tava la em casa jogando video-game. Era assim que minha casa sempre ficava, cheia, para espantar o vazio. Morava no condomínio dos jogadores no centro de Madri, um dos mais caros da cidade. Na casa ao lado ficava o Kaka e sua família feliz, na da frente C.Ronaldo e sua soberba gratuita – apesar disso, e do quanto ele se achava, éramos bons amigos.

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