Capítulo 2

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    Caminho como se uma música do filme mais famoso do John Travolta estivesse tocando. Estou com uma camisa de botões florida, óculos estilo aviador, sapatos lustrosos, sorriso perfeito e um bronze californiano — não, eu não sou da Califórnia.

As pessoas estão olhando em minha direção como se tivesse sido arrancado de uma página de revista de moda, então, sorriu para elas como se fosse um popstar. Não consigo ouvir seus pensamentos, exceto, se forem sexuais. É delicioso saber o que se passa em cada mente peculiar de Lovedale, o nome era audacioso, já que a cidade era marcada por guerras civis. Os moradores resolveram mudá-lo para que as guerras e mortes não fossem a ruína da cidade. Apesar do nome inusitado, isso não atraía muitos curiosos, pois ela ainda se tratava de uma cidade pequena e sem muitos acontecimentos — pelo menos por enquanto. 

  Para onde um deus do prazer iria? Ah, sim. Para um lugar cheio de jovens com hormônios borbulhando, ansiosos para sentir cada fibra do desejo. Meu ponto é específico e claro: a faculdade. O prazer aqui era convidativo, mas conflituoso em contraste com a tensão de notas excelentes para decidir sua vida.

Continuo meu trajeto, até que vejo uma garota loira com roupa de líder de torcida. Sua beleza me atrai, assim como seus pensamentos sexuais a respeito dos caras populares do time de futebol. 

— Até que enfim te achei. — Sorrio tirando o óculos dando meu melhor sorriso.

— Desculpe, nos conhecemos? — Ela segurou o aplicador de gloss nos lábios e pude ouvir seus pensamentos maliciosos, enquanto seus olhos azuis passeiam pelo meu corpo. "Gostoso desse jeito, eu não esqueceria."

Na verdade, não. Mas, todo livro bom tem uma garota que adora ser a vadia da cidade. Às vezes até as feministas gostam de ler sobre vadias perversas de cidades pequenas.  — Tem algo para fazer agora? Preciso sair para espalhar o caos e conhecer este local repleto de mistérios e você parece ser uma ótima companhia. Vem comigo? Ah, obrigada pelos pensamentos pecaminosos. Eu realmente sou muito gostoso. 

— Eu não te conheço, mas não tenho nada para fazer agora. Meus treinos acabaram. Podemos ir. Não há companhia melhor do que a filha do prefeito. — Ela sorri e põe a embalagem de gloss dentro do armário, fechando-o em seguida. — Como? — a loira franze o cenho e olha na minha direção com bastante atenção. — A propósito, meu nome é Sabrina.

— Esquece. É muito complexo para sua cabecinha. Filha do prefeito? Agora tenho certeza de que estou em ótima companhia. — Ponho meu óculos de volta e estendo o braço para a garota.  — Eu sou o cupido do amor, mas pode me chamar de Eros.

Apesar de sua estranheza, minha nova companheira do caos não diz nada, apenas compartilha algumas fofocas quentes do momento. Seguimos o caminho para fora da faculdade enquanto lanço minhas flechas para alguns alunos nerds sem que a loira perceba. Todos merecem provar dos pequenos prazeres da vida, e eu estou generoso hoje.

Mas, ao passarmos por uma menina. Ela simplesmente não nota a minha presença. Dou meu melhor sorriso mas ela não corresponde,nem sequer nos olha no corredor. Não escuto seus pensamentos pecaminosos a meu respeito. Talvez, eu não tenha sido notado. Mas, isso nunca aconteceu. Como poderia...?

A loira que eu agora conheço por Sabrina, faz um breve resumo sobre os acontecimentos locais e um pouco da história da cidade. E, estamos na estaca zero. No centro da cidade. Observo as idosas gentis conversarem sobre as pessoas da cidade e tortas de maçãs.

Na outra extremidade da rua, vejo a mulher do prefeito adentrar na igreja. Tão elegante e bonita quanto Sabrina havia mencionado, sem poupar elogios para sua mãe. Porém, não é isso que chama a minha atenção. Há um boato de um novo padre que estava vindo para substituir o falecido Edgard da paróquia e isso despertou bem mais do que a curiosidade dos religiosos. Seguimos até a igreja e enquanto Sabrina faz suas preces rapidamente, fico parado na entrada, observando a arquitetura: apesar de pequena, os bancos de madeira são bem distribuídos e o altar é bonito e repleto de castiçais; o que a torna não só aconchegante, mas espaçosa também.

— Perdoe-me, padre. Eu pequei. — Leio sua mente, mas não preciso estar longe o bastante para escutar a voz no confessionário, deixando escapar de seus lábios, a mesma sentença pecaminosa que rondava sua mente. 

Nos afastamos daquele lugar enquanto Sabrina não parava de falar sobre festa a fantasia de universitários que acontecerá em breve. Sem dúvidas, estarei lá. Caminhamos até uma sorveteria e observo como tudo nesta cidade é tão clichê, até mesmo a ambientação dos anos 50 no estabelecimento.  Então, eu vejo a garota novamente. Pele cor de ébano, cabelo preto encaracolado e longo. Transborda confiança a cada passo que dá, peço para que Sabrina espere um pouco e vou até ela.

— Oi, meu nome é Eros. — Sorrio para a garota que não demonstra reação nenhuma. — Qual é o seu nome, princesa?

— Não estamos na Disney, príncipe. E eu não tenho interesse em saber seu nome. — A garota caminha despreocupada na direção contrária, Sabrina vem até mim.

— Oi, seu nome é Eros mesmo? Tipo aquele dos livros de mitologia grega? —  a loira parece ofegante após correr para nos alcançar, como se somente agora tivesse questionado meu nome; observo a outra universitária prosseguir sem olhar para trás.

— Exatamente. — Respondo sem muito interesse. O que diabos tinha de errado com aquela garota? — Quem é aquela ali? — Aponto, chamando a atenção de Sabrina para o meu mais novo alvo.

— Ela se chama Anelise. É nova na cidade, não tem amigos além dos livros e está focada em terminar o curso de Psicologia. Por quê? — Sabrina lança um olhar curioso.

— Nada. Anelise parece ser uma mortal interessante. Um enigma que terei o prazer de desvendar.  — Sorrio malicioso e passo a mão no meu cabelo platinado.

— Mas por que ela é interessante? Nem é popular. Só é uma garota estudiosa e exemplar. Quem gosta de ser certinha quando se pode perder a linha? Beber e sair nas festas da faculdade? — Ela suspira fundo, não entendendo minha curiosidade.

— Porque eu sempre consigo o que eu quero, Sabrina. Nunca fui recusado por ninguém. Essa não vai ser a minha primeira vez. Agora, vamos.

[...]

Eu estava voltando para os meus aposentos divinos quando ouvi vozes e meu lado travesso fora despertado. Encolhi meu corpo esguio por trás de um arbusto e observei a primeira dama e o padre numa conversa sobre ajudar os mais necessitados, enquanto saíam da igreja.

— Padre, o senhor será de grande importância para nossa comunidade. Lovedale precisa de paz. São tempos difíceis, não podemos deixar que os moradores voltem à estaca zero. — Ela suspira cansada e o padre toca gentilmente sua mão.

— Filha, não desanime. Juntos podemos fazer dessa comunidade um lugar melhor. Todos os moradores podem trazer a paz que tanto almejam. — Padre Joshua, como eu havia descoberto recentemente, sorriu para a mulher e ambos ficaram envoltos num olhar de caridade e compaixão.

Eu sei que era errado, mas não pude resistir. Puxei meu arco que — invisível para os humanos —,  sempre estava nas minhas costas. Puxei a flecha logo em seguida, posicionando-a no lugar adequado para aprimorar a minha mira. Tenho dez segundos para decidir se vou ou não estragar a vida desses mortais com uma paixão proibida. Levo dois segundos para decidir que sim. Então, simplesmente acerto os dois.

E esse...talvez venha ser apenas um dos meus maiores erros.

Num ato impensável, a primeira dama beija o padre aproveitando a calada da noite. Os dois estão envoltos num beijo quente e demorado. Após alguns segundos os recém- apaixonados se separam.

— Perdão, eu não sei o que aconteceu... Desculpe-me.... — A primeira dama corre para longe do padre e permaneço ali. Observando os pensamentos pecaminosos que um beijo ocasionou.

O primeiro, de muitos conflitos que ainda surgirão nessa cidade pequena. Ah, já estou me sentindo em casa!

© 2018, Bruna Torres.

Eros Caindo em Tentação (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora