Após toda a confusão expressa na reação dos moradores de Lovedale, o prefeito falou baixo, ouvindo sua voz normal outra vez. A primeira dama tomou à frente no palanque e desculpou-se.
— Robert está tão brincalhão hoje! — Ela forçou um sorriso, enquanto o homem tentava entender o que estava acontecendo, passando um lenço em sua testa suada. — Ele fez apenas uma brincadeira, para assustar vocês. Só queríamos desejar um bom Loveday para todos. Amanhã teremos um feriado extra para compensar o dia de hoje.
Ainda sem entender o que havia acontecido, os cidadãos apenas comemoraram a folga extra. Por outro lado, Anelise recordava daquela voz e então tudo ficou claro em sua cabeça.
— Eros! Onde ele está? Ellyah! — chamou a atenção da amiga que de forma cínica fingia que não era de sua versão original e masculina que ela estava falando. — Ellyah!
— Olha, eu não tenho culpa por ser gostosa. — Abocanhando a maçã, observou o prefeito de longe. O que diabos aquele homem queria com Eros?
— Preciso te contar uma coisa, vem cá. — Anelise puxou-a para longe, sentando com a amiga num banco. — Ontem aconteceu algo estranho, achei que tinha sonhado, mas não foi um sonho. — Ouvindo com atenção, a loira assentiu, incentivando-a para que continuasse.
Ellyah não expressou nada, até ouvir a última palavra de Anelise. Estava ouvindo cada detalhe, cada entonação e medo na voz da garota. Afinal, o que essa criatura queria com Eros?! Vingança? Desejo?!
— ... Então, eu gostaria de continuar a nossa aposta. Quero conhecê-lo melhor, quero saber mais sobre ele. Isso não é uma coincidência. — Anelise prosseguiu, tirando a amiga de seu devaneio.
— Você tem certeza disso? E se você descobrisse algo que não gostasse? Quero dizer, poucas pessoas são capazes de nos deixar ver o que elas têm por trás de seu véu de hipocrisia. — olhando fundo nos olhos da amiga, Ellyah prosseguiu. — Algumas coisas, precisam ficar escondidas, Anne.
— Vou descobrir todas elas, Ellyah. Preciso entender a ligação dele. — Segurando o colar com força, Anelise suspirou fundo. — Estou tendo uns sonhos estranhos. Visões, ou sei lá, minha cabeça está confusa.
— Nada que um sundae de morango não resolva. — Ellyah sorriu, levantando-se e estendendo a mão para Anelise. — Vamos, eu pago quantos sorvetes você quiser. Podemos conversar melhor sobre isso.
Com certa relutância, a garota assentiu. Mas, não deixaria que essa conversa acabasse daquele jeito. Ela iria descobrir tudo sobre Eros. Tudo que julgasse ser necessário. Enquanto isso, O prefeito descia às pressas do palco improvisado, com Susan ao seu lado.
— O que diabos foi aquilo? — Ela segurou-o pelo braço, fazendo o homem prestar atenção em sua pergunta.
— Não faço ideia, por um tempo, eu não consegui controlar minha voz. Foi estranho... Acho que não tomei meus remédios hoje cedo. Quer dizer, porra! Não faço ideia do que aconteceu... Preciso ir, eu vou... — Afastando-se rapidamente, ele deixou Susan sozinha, de braços cruzados.
Tudo estava tão estranho naquela cidade, alguns moradores em particular, após a chegada deles a cidade tinha ficado perturbada. Então, como aquele maldito ímã, que os cercava, o padre Josh olhava para ela. Susan caminhou sem parar até onde ele estava, esbarrando em seu ombro de propósito.
Josh não tardou em seguir aquela mulher com sua expressão ameaçadora. Será que ela havia descoberto seu segredo? O que aconteceria agora?!
— Olá, Susan. Algum problema? — Ele parou atrás da barraca de algodão doce.
— Eu vi tudo. — Anunciou de forma misteriosa, tentando fazê-lo abrir o jogo. — Olhando nos olhos do padre, Susan procurava sinais de surpresa, mas não havia nada ali.
— O quê? — Ajustando seu clérgima* Josh voltou para seu personagem de padre imaculado.
— Você e aquela ruiva bonita. Encontrar uma mulher naquelas circunstâncias, não é coisa de padre. — Ela censurou, enciumada.
— Beijar um padre também não é coisa de uma mulher casada. — Retrucou sem perder a postura, fazendo-a cerrar os punhos.
— Isso não vem ao caso agora. Foi só um momento de carência, nada mais. Também não é coisa de padre retribuir o beijo. — Defendeu-se, fazendo Josh revirar os olhos.
— O que você quer? Saber quem era? — Ele suspirou fundo, cogitando qual mentira iria usar desta vez. — É uma mulher com um cargo importante, ela quer me levar para ser padre em outra cidade.
— E você vai aceitar? — Susan baixou sua defensa, estava interessada em saber se ele iria embora. Não queria isso.
— Não. Eu tenho vários motivos para permanecer aqui. — Josh deu um passo na direção dela, fazendo Susan recuar.
— Queridos, se quiserem fazer joguinhos sexuais, é melhor irem para um local mais reservado. — Ellyah apareceu, interrompendo os dois, enquanto se deliciava com um algodão doce.
Deixando os dois atônitos, ela se distanciou, voltando novamente para onde Anelise estava. Após tantos sundaes, elas haviam voltado para comer mais algodão doce.
— Demorei? — sentou-se ao lado da amiga, fazendo-a negar em resposta. — Estava observando a conversa quente do meu casal favorito, mas sei lá, acho que a autora queria que eu interrompesse.
— O que disse? — Anelise franziu o cenho, observando o generoso pedaço de algodão doce que Ellyah devorava. Pondo uma mecha de seu cabelo cacheado atrás da orelha, ela observou a amiga.
— Uma semana. Esse é todo o tempo que você tem para conhecer Eros. Sete dias. Sete segredos. — anunciou, fazendo Anne assentir. — Mas, devo te avisar que a escolha é toda sua.
— Você é tão misteriosa! Tudo bem, eu aceito. Sem apostas. Sem nada além de duas pessoas conversando e se conhecendo. Talvez possamos nos tornamos amigos, o que acha? Sairmos juntos?
— Eu acho que é impossível, mas vou te incentivar a acreditar nessa possibilidade. — Sorriu desdenhosa, estendendo a mão para Anelise que não tardou em apertar.
— Temos um acordo. Sete dias, sete segredos. — Após selar o acordo, as duas caminharam observando o pôr do sol que se estendia ao horizonte.
Conversando sobre "coisas de garotas", elas seguiram adiante, enquanto os cidadãos voltavam para suas casas naquele maravilhoso fim de Loveday. Anelise só não esperava, que em breve iria descobrir os segredos mais sombrios de Eros, até mesmo os seus próprios segredos. De uma vida que ela havia sido privada, mas agora teria chance de conhecer o seu passado e de sua família. Coisas que mudarão sua vida para sempre.
*Clérgima é um colarinho eclesiástico branco, usados pelos clérigos da Igreja Católica.
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Eros Caindo em Tentação (Concluído)
FantasyEros é o deus do prazer, filho mais velho de Afrodite. Vaidoso, egoísta e narcisista, o deus estava cansado da mesmice. Por isso, resolvera agitar a vida dos moradores de uma pequena cidade regada por tabus e conservadorismo. Lançando uma onda de pa...