Capítulo 10

3.9K 588 278
                                    

Novamente como Ellyah, Eros caminhou como se estivesse tocando a discografia de Britney Spears a cada passo que ele dava.

Como mulher, suas roupas não deixavam de chamar atenção. Aderindo ao look "vadia colegial", Ellyah vestiu-se com uma saia quadriculada, botas de cano longo pretas, um penteado estilo rabo de cavalo, uma camiseta rosa escrita "Bitch Nº1", e para finalizar, uma bolsa Channel e óculos estilo coração. Ellyah adentrou na sorveteria quase fazendo Anelise esconder-se por trás do cardápio.

- Olá, vadia anti social. - A loira sorriu mandando um beijinho para os rapazes que não tiravam os olhos dela.

- Alguém acordou de bom humor hoje, não foi? - Anne, que estava com um vestido simples, não conseguia entender as excentricidades da "amiga".

- Estou de ótimo humor. Por que me chamou? Já estava com saudades? - Ellyah lançou seu melhor sorriso para o atendente que serviu um sundae de morango por "conta da casa"

- Na verdade, sei que não nos conhecemos bem mas eu preciso ir para uma festa. Odeio essas coisas, mas o meu professor vai estar lá e fez um experimento social com os alunos. Uma festa à fantasia, bastante chata e eu não queria ir sozinha. - Anne fez uma expressão melosa, torcendo para que a "amiga" acreditasse.

- Claro, eu vou adorar essas festinhas. Minha fantasia vai ser de deusa grega do amor e do sexo. - Ellyah sorriu satisfeita, sabendo que iria aparecer na festa de ambos os jeitos.

- Tudo bem, não faço ideia de como irei me vestir. Mas estou sendo quase obrigada. - Anne bufou, bebericando seu refrigerante e suspirando fundo - A propósito, você está na faculdade, né? Qual o curso?

- Artes sexuais. - Dissera de forma distraída, fazendo Anelise se engasgar, percebendo o olhar dela, Ellyah acrescentou - Visuais. Artes visuais. Faz pouco tempo que estou nessa cidade, por isso não nos vimos antes na faculdade.

- Tudo bem. - Ela mexeu naquela maldita caixinha brilhante e lançou um olhar frustrado para Ellyah. - Tenho que ir, uma emergência lá em casa. Papai está na dúvida se vai fazer pizza ou macarrão, mamãe está brigando com ele para decidir o sabor.

- É bom? Indagou rapidamente, recebendo um olhar confuso de volta - Ter pais humanos que são unidos? Que gostem de você? Digo, ter uma família?

Anelise fez um biquinho, sensibilizando-se com a pergunta, era um pensamento diferente desta vez. Ela estava com pena. Eros odiava a pena de alguém.

- Quer dizer, meus pais são loucos. Vivem viajando e bancando meus luxos, não que eu reclame. Adoro muito tudo isso, assim posso ser a vadia rancorosa de sempre e usar isso como escudo quando for praticar minhas atrocidades. - Ellyah forçou um sorriso e Anne respondera com um leve tapinha no ombro dela.

- Isso é mais um caso para a psicóloga Anelise, mas, agora ela precisa ir antes que aconteça uma terceira guerra mundial advinda da gastronomia italiana. - Anelise pegara sua bolsa e levantou-se, dando um beijo estalado na bochecha de Ellyah. - Se cuida, te vejo depois.

Eros, que nunca havia recebido qualquer tipo de afeto, agora repousava a mão no rosto, como se aquilo pudesse prolongar a sensação de carinho em sua bochecha.

Por que Anelise havia sido tão malvada com Eros, mas tão doce com Ellyah? Qual era o problema que ele tinha? Será que sua versão feminina conseguia ser melhor do que na masculina? "Morte ao patriarcado" pensara, mas gargalhou com o próprio pensamento. Havia algo misterioso em Anelise. Ele não iria descansar até descobrir do que se tratava.

[...]

- O que temos aqui, Bryan? - o xerife questionou, usando as mãos para levantar a sua calça e apertar o cinto. Havia algo sinistro em necrotérios. Ele odiava o quão gélido o lugar parecia ser, ao passo que, necessitava estar nesses lugares quando a morte não era ocasionada por fins naturais.

- Existe um padrão aqui, isso é claro. - Bryan retirou a máscara por algum tempo, já estava acostumado com o cheiro de cadáveres. - Duas mulheres na faixa de 60 a 70. Bem sucedidas, inteligentes e ricas. Não sei exatamente o que significa, mas, as características dos assassinatos, revelam que suas línguas foram cortadas durante o enforcamento. O que é bastante estranho, isso nos revela algo interessante.

Woody escutava tudo em silêncio, afinal, o que poderia ter de interessante? E mais, como diabos Bryan conseguia respirar sem essa máscara? O xerife já estava incomodado por permanecer mais de cinco minutos no local.

- Então? - incentivou a prosseguir, desejando que esse pesadelo acabasse logo. A luz do ambiente, as gavetas, o silêncio, o cadáver exposto. Era agonizante.

- Então... Bem, sou fanático por história e sempre gostei de ler sobre civilizações. - Os olhos do legista brilhavam, pois, seu conhecimento e profissão não eram tão importantes para as pessoas da cidade que em suma só morriam por causa da velhice. Odiava admitir, mas essas mortes o deixavam com um pouco mais de respeito. - Alguns historiadores acreditavam que outras civilizações passaram por aqui, antes do nosso povo. Havia algo benigno nesta terra, que enchia os bolsos e olhos dos curiosos. Existem teses de que havia algo mágico que era defendido por guardiões. Ninguém nunca deu muitos detalhes, mas parece que os guardiões eram perseguidos por causa desse segredos. Negando-se completamente a falar, suas línguas eram cortadas, enquanto eles eram agredidos e enforcados.

- Isso é interessante, características de um serial killer psicótico que acredita em histórias para dormir. - Woody acrescentou, fazendo Bryan encolher-se - Algo mais a acrescentar?

- Ah, claro. Existem relatos de que os guardiões possuíam um colar mágico, que servia de chave para guardar algo precioso, que apenas eles sabiam. É tudo muito misterioso e escasso de fontes. Mas, algumas pessoas queriam aquele poder, ou talvez aquele objeto. Bem, por curiosidade, as duas idosas tinham colares similares em seus pescoços. Eu ainda estou com eles para a perícia. Até onde eu li sobre essas civilizações, é necessário juntar todos os colares para se abrir alguma coisa. Eles só funcionam juntos.

- Ótimo, ótimo. Belo trabalho, Bryan. Agora eu preciso ir, odeio esse lugar. Qualquer nova informação, me ligue. E tente descansar um pouco, acho que os dias de trabalho estão afetando um pouco a sua mente. Mande lembranças para a sua esposa.

- Pode deixar, xerife. - Bryan acenou, pois, sempre era tido como louco por gostar e pesquisar história. Mas, no fundo, ele sabia que tolos são aqueles que não pesquisam sobre o próprio passado, pois, só ele mostrará o que colheremos no futuro.

Woody saiu às pressas do necrotério, aproveitando-se de uma lixeira para vomitar as rosquinhas e o café preto que havia ingerido um pouco antes de adentrar ali. Suspirando fundo, ele caminhou até a viatura e voltou para a delegacia.

Bryan, por outro lado, estava fazendo a limpeza costumeira antes de finalmente voltar para casa. Guardando os colares em uma caixa, indo entregar para seu colega, ele suspirou fundo e caminhou distraído pelo corredor, trocando SMS com a esposa. No entanto, o corredor apagou-se rapidamente, fazendo com que ele parasse.

- Olá? Quem está aí? - questionou, ao ver uma figura no final do corredor. A cada passo que a figura dava, uma luz acendia.

- Foi fascinante ouvir sua aula de história, só assim para que eu pudesse desvendar o mistério daqueles colares. - Uma voz na escuridão respondera.

- Quem é você? - Ele pôs as chaves nos bolsos e a cada passo que a criatura dava, Bryan conseguia distinguir aos poucos. - Você! Eu já li sobre você... O que quer? Não tenho o que você deseja, me deixe ir!

- Ah, você tem exatamente o que eu preciso, humano miserável... Você queria ser respeitado? Irei fazer isso... - a voz inumana retrucou, em instantes, todas as luzes se acenderam e apagaram com um único grito mortal de Bryan.

Eros Caindo em Tentação (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora