Eros aspirava cada cheiro daquele vão e observava com saudade o lugar. A prateleira com livros de romance que Anelise jamais admitiria ter chorado por horas após ter lido. Os bichinhos de pelúcia, a mobília colorida, e em cima da cama, o colar dado por ele. Uma flecha e um arco do mais puro ouro maciço. Possa ter sido um presente diferente, mas o deus não conseguia expressar em palavras o que sentia por Anelise, só queria mostrar que onde ela estivesse, ele estaria o seu lado.
— Ainda tenho tantas coisas para dizer, minha doce Anne. Só gostaria que você estivesse aqui para ouvir todas elas.
Ele deu uma olhada pela última vez, fechando a porta e tendo certeza que Anelise não estava dormindo em seu alojamento. E os pais da garota também não a encontravam com frequência. Onde Anne estava dormindo? E como Sophia poderia estar no lugar dela? Como isso era possível? Na dúvida, ele iria perguntar para alguém bem experiente no assunto.
***
— Eu quero falar com Athena, como poderia invocá-la? — adentrando sem bater, Eros indagou, observando Ares fumar demoradamente um charuto.
— Você descobriu, não é? — O olhar dele parecia distante, perdido, há quanto tempo seu pai sabia?
— Sozinho. Já que não há um certo diálogo aqui, devo acrescentar. — cruzou os braços e fez uma careta. — Há quanto tempo você sabe? É aquela sua Sophia? Que mulher chata! Ela não tem nada para fazer no mundo espiritual? Ou sei lá de onde ela veio!
— Sim. É a Sophia. Descobri a pouco tempo, ainda não sei o que fazer com essa informação. — Ares usou o cinzeiro para apagar o charuto inacabado.
— Que tal fazer o que é certo? Não é justo que Anelise tenha que perder a alma para uma velha ressuscitar e vocês viverem felizes para sempre. Isso é inaceitável! Pai, eu quero a Anelise de volta! — repousou as mãos na mesa de vidro e tentou controlar sua respiração ofegante.
— Não tenho nada a ver com isso. Ela me odeia e não sei o motivo. Eu fiz de tudo para trazer Sophia de volta, eu procurei por todas as partes do mundo. Eu acabei aniquilando uma cidade inteira por causa dela. Não entendo o que Sophia quer, mas tudo que habita nela é o ódio. Aquela não é a sua Anelise, Eros. Mas, também não é a minha Sophia.
— Acho que dizimar uma cidade com todas as pessoas que ela ama não é uma prova de amor muito aceitável, papai. — Eros sentou-se e observou a expressão cansada do pai. — Então, como eu posso falar com a minha titia? Essa reunião de família não vai ser das melhores.
— Quebre isto. Ela virá. — Ares arremessou uma coruja de cerâmica para Eros que a pegou com cuidado. — Mas devo acrescentar, ela não gosta muito de ser chamada. E não vai gostar de me ver com você. Athena não tem senso do humor, não faça brincadeirinhas, da última vez que ela te viu, quase cortou uma de suas asas. — disse simplesmente, fazendo Eros torcer o nariz.
— Pelo menos eu sempre fui um cupidinho levadinho e com bom humor! — Ele sorriu sem mostrar e dentes e arremessou a coruja no chão. — Ares, há quanto tempo você tinha decidido que iria invocar Athena?
— Um pouco antes de você chegar, mas acho que nossa conversa seria menos atrativa se você não estivesse aqui. — Ares fechou os dois botões de seu paletó e observou o filho. Havia uma indiferença que Eros não conseguia identificar, mas agora não era hora para falar sobre isso.
De repente, a sala inteira parecia ter tremido, como se tivesse sido deslocada e realocada em outra instalação. Ouviu-se passos firmes e a porta fora aberta, aguçando todos os sentidos de Eros.
— Quem ousa profanar o meu nome? — A voz firme questionou, enquanto Eros estreitava os olhos para conseguir ver através da espessa camada de fumaça.
— Com licença? — tossiu, usando a mão livre para dissipar a fumaça. — Eu chamei você, Athena. Não foi a minha intenção profanar o seu nome.
— Espere, filho alado de Afrodite. — impetuosa, ela o silenciou e analisou a sala inteira, Eros pôde ver suas feições com clareza.
Com um semblante firme e uma pele negra, Athena usava uma armadura do mais puro ouro, o cabelo escuro dela estava preso num penteado de guerra. Não se recordava de Athena nessa forma, mas eles poderiam ter quantas quisessem.
— Você?! — a deusa da sabedoria empunhou sua espada na direção de Ares, que sequer se mostrou intimidado com a presença dela. — Como se não bastasse destruir o meu templo, ainda constrói o seu prédio em cima dos escombros.
— Bem, podemos observar que alguém aqui tem senso de humor, irmãzinha. Quanto tempo, não vai me dar um abraço? — Ares sorriu malicioso, fazendo Eros quase se perguntar onde foi parar os avisos de seu pai.
— O que você deseja, criatura alada? Diga antes que eu corte suas asas! — resolveu ignorar Ares e voltou sua atenção para o filho dele, que parecia hipnotizado pela beleza por trás da fúria dela. — Você tem as feições de sua mãe e a petulância do seu maldito pai.
— Qual o seu problema com as minhas asas? — o cupido cruzou os braços e bufou. — É, todos me dizem isso. Já estou acostumado.
— Ainda estou aqui, irmãzinha. — Ares acenou antes de sentar-se na poltrona. — Fale logo, Eros. Não temos o dia todo e a presença de Athena aqui é por tempo limitado.
— Por que você usou o corpo da minha doce Anelise para colocar a alma de sua serva? Isso não é justo, sabe? Anelise é muito nova e... — Antes que ele pudesse prosseguir, a deusa da sabedoria o interrompeu.
— Não sei de quem você está falando, criatura. — revirou os olhos, demonstrando total interesse no assunto.
— Sim. Você sabe muito bem quem é. Sophia. 1804. Greenmaze. E agora, Lovedale. Você lembra dela. Athena, não finja que não conhece a mulher que matou! — Ares sibilou, recebendo toda a atenção de Athena que sorria com sarcasmo.
— Vejamos. Ela foi uma das sobreviventes do naufrágio que trouxe os primeiros habitantes para cá, eles construíram a cidade. Cidade essa que você dizimou, vale ressaltar. Você a seduziu somente para me atingir, mas foi fraco e se apaixonou por ela. Pobres homens. Humanos ou deuses, todos vocês são levianos e não escutam a voz da razão.
— Vamos pular essa introdução. Nós já sabemos tudo que você vai dizer sobre isso. Obrigado. O que aconteceu com Sophia? — Eros sentou-se na mesa do pai e os dois observavam o modo teatral da narração de Athena.
— Ela foi morta pelos moradores da cidade. A queimaram viva. Seus familiares não souberam disso, só quando já tinha terminado. Eu não a matei. Minha serva foi consumida pelo fogo, sem piedade mataram Sophia e o seu filho.
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Estamos quase em reta final! Estou ansiosa e previamente triste. Entrem no grupo Harém do CiumEros para não perder as atualizações, teorias, memes e spoilers em primeira mão. Atualização surpresa, em breve teremos outra.
O link do grupo está disponibilizado abaixo da minha descrição da bio.
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Eros Caindo em Tentação (Concluído)
FantasyEros é o deus do prazer, filho mais velho de Afrodite. Vaidoso, egoísta e narcisista, o deus estava cansado da mesmice. Por isso, resolvera agitar a vida dos moradores de uma pequena cidade regada por tabus e conservadorismo. Lançando uma onda de pa...