De longe, aquele era o pôr do sol mais lindo que Eros já vira. O céu parecia uma tela recém pintada, pinceladas em laranja, amarelo e rosa. As nuvens pareciam translúcidas, e a cor rosa era notada ao fundo, como se as nuvens tivessem adquirido um novo tom.
O bosque estava silencioso, as ninfas, os sátiros e os pequenos animais não estavam por lá. Eros desconfiava, que eles buscaram outro tipo de divertimento nesta tarde. E pela primeira vez, o silêncio não o incomodou.
Para além das nuvens, ele poderia ser quem realmente era. Com asas, com uma fina camada de tecido cobrindo seu corpo, tudo era tão natural, tão verdadeiramente dele.
— No que está pensando? — Apollo interrompeu a autoavaliação de Eros, que sorriu ao observar aquele traje irresistível e iluminado de sempre.
— Estou pensando que você fica esplêndido com essa roupa e provavelmente irei precisar de mais protetor solar só para passar nos meus olhos. Te olhar assim, irá queimar meus globos oculares.
— Ninguém passa protetor solar nos olhos. — Apollo sorriu ao constatar o óbvio e sentou-se ao lado de Eros, com aquele charme habitual. — Você está fugindo novamente daquela cidade, ou é daquela humana?
A tonalidade azul e verde dos olhos de ambos se encontraram por um tempo, os fazendo ficar em silêncio, analisando em cada um, a beleza singular e estonteante, limitada às divindades.
Eros jamais irá entender o quão fácil é para Apollo ler as suas emoções e necessidades.
— Não precisa falar, se não quiser. — O deus-sol esclareceu, se perdia em pensamentos na contemplação da escuridão que surgia aos poucos. Ele não gostava da noite, era completamente apaixonado pelo dia. O calor, as pessoas, a luz.
— Você já se apaixonou por alguém que não correspondia da mesma forma? Eros indagou, fazendo Apollo se perder naquela pergunta que tinha tantas respostas.
— Já. — desta vez, Apollo não o encarou e concentrou sua atenção em uma pedrinha.
— O que você fez? — A necessidade da resposta estava estampada nos olhos de Eros, que continha muita ingenuidade.
— Eu aceitei o fato de que não podemos dominar os sentimentos de outras pessoas. Sequer dominamos o nosso. Você escolheria se apaixonar, se pudesse?
Eros ponderou, prestando atenção em cada palavrinha, suspirando fundo brevemente.
— Então, o que eu faço é errado? Acertar as pessoas com flechas do amor? — Apollo surpreendeu-se com a pergunta e ficou em silêncio por um tempo, fazendo uma análise de todas as respostas possíveis.
— Não. Você ajuda as pessoas a enxergarem o que antes elas não percebiam. Que o amor pode estar diante de seus olhos, basta apenas parar e ver.
Os dois ficaram calados por um tempo, até que Eros levantou-se e estendeu a mão para Apollo. Na tentativa de deixar para trás suas angústias, sabia que isto era um desperdício de seu tempo divino.
— Vem, está na hora de buscarmos algo divertido para fazer por aqui — seguiram juntos, para um destino ainda incerto.
[...]
Três semanas. Há três semanas Anelise não encontrava Eros ou Ellyah. E pela primeira vez, a ausência da amiga incomodou. O que tinha acontecido? Anne deixara tantas mensagens, ligara tantas vezes mas nada adiantou. Ela decidiu seguir em frente, sabia que cedo ou tarde sua amiga retornaria.
As férias estavam chegando, assim como elas, alguns trabalhos. Após fazer alguns exames e comprovar que estava bem de saúde, Anne fora liberada e enfim pôde voltar para casa.
Quando chegou lá, sua mãe lhe entregou o colar dado pela sua avó, que após uma limpeza na piscina, fora encontrado.
Estava tudo indo bem na sorveteria, e aparentemente, em todos os outros âmbitos também. Mas o que estava faltando? Por que Anelise não conseguira se sentir plenamente feliz?
Anelise observava o ecrã várias vezes, esperava por alguma mensagem, mas nada chegava. O que teria acontecido com Eros que também estava sumido? Deveria ficar preocupada? Guardando o celular no bolso, ela suspirou fundo e voltou às suas funções, até que um colega de trabalho a abordou.
— Anne, deixaram isso aqui para você. Eu não vi quem foi, mas tem o seu nome. — Kenny sorriu, fazendo ela agradecer e se distanciar para ler o bilhete que ao observar melhor, ela pôde ver que era um pergaminho. Ao abrir, se deparou com uma grafia impecável.
×
Eu gostaria de te escrever uma carta, acho que as pessoas românticas fazem isso. Mas, não me sinto romântico o bastante. Apesar de ser o cupido do amor, o deus do sexo. Mesmo que você não acredite.
Peço que não me odeie, eu sei que te darei motivos para isso, mas as razões de partir, sempre serão maiores do que os motivos para ficar. Se escolhesse ficar, seria egoísmo de minha parte, você iria se machucar.
E não quero isso.E eu jamais quis, assim como também não tive a menor intenção de entregar o meu coração para você. Por mais que eu soubesse, isso nunca daria certo. Entre nós, é impossível. Não sei como se sente agora, sequer sei se leu até aqui, mas você despertou em mim algo que eu não achei que sentiria um dia. Apenas fazia com que as pessoas sentissem.
Anelise Sophie Harper, você ajudou a enxergar em mim uma parte de humanidade que nunca pensei ter. Ajudou-me com coisas que eu nem poderia mencionar aqui. Graças a você, sou uma pessoa melhor.
Talvez, um deus melhor. Não para o seu mundo, mas para o mundo de alguém. Aos seus olhos, eu sou falho e pequeno. Uma ateia comparada ao poder do amor que desperto nas pessoas. Não despertei em você.Será que isso tornou tudo tão interessante a mim? Ao te conhecer melhor, pude entender as razões do meu pai abdicar do que abdicou para viver ao lado da amada dele.
E mesmo que eu não esteja fazendo isso com você, meus sentimentos são verdadeiros.Eu te desejo uma vida feliz, com um humano que possa te amar e dar tudo que você sempre quis. Com todo o amor que minhas flechas possam ter,
Eros.
×
Ao sentir as lágrimas molharem seu rosto, Anelise as enxugou depressa, sem entender as razões de Eros se afastar, logo agora que admitia para si mesma o que sentia por ele. Quais eram suas intenções? Após se recompor, ela aproveitou seu horário de almoço para tentar responder seus questionamentos. Indo na direção de um prédio com arquitetura impecável, como se estivesse mostrando sua grandeza em comparação com aquela pequena cidade.
Ao se identificar e aguardar alguns segundos na recepção, a garota de coração partido fora atendida no que a recepcionista chamou internamente de "acontecimento ultra raro". Ao adentrar na sala, ela pediu licença e o saudou com demasiada formalidade.
— Eu sei o que você quer, está aqui para falar sobre o meu filho. — Ares virou-se em sua poltrona confortável e encarou Anelise, sem qualquer traço de cordialidade — Sente-se, nós temos muita coisa para conversar.
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Eros Caindo em Tentação (Concluído)
FantasyEros é o deus do prazer, filho mais velho de Afrodite. Vaidoso, egoísta e narcisista, o deus estava cansado da mesmice. Por isso, resolvera agitar a vida dos moradores de uma pequena cidade regada por tabus e conservadorismo. Lançando uma onda de pa...