Capítulo 51

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  Anelise caminhou até Eros, pondo a mão no rosto dele que fechara os olhos com a carícia tênue das mãos dela.

— Você pode me contar qualquer coisa, Eros. Só, me deixe te ajudar. Eu sei você me mandou uma carta estranha. — Ela sorri e observa a expressão triste dele — Mas eu sei que tudo aquilo é mentira. Se fosse verdade, você não estaria aqui, estaria?

Eros suspirou fundo, cogitando revelar todos os seus segredos, mesmo sabendo que ela iria odiá-lo para sempre depois que descobrisse tudo.

— Anne, eu... — Segurando as mãos dela e mantendo seu olhar fixo, iniciou, sendo interrompido por Ares abrindo a porta rapidamente.

— Espere, não faça isso. Eu já cuidei de tudo. Está tudo bem agora. — Ares percebeu toda a ternura de Anelise ao observar Eros, se Afrodite havia dito que ela não poderia amar, por que Eros ainda tinha esse efeito?

— Será que alguém pode me explicar o que está acontecendo? — Pediu com calma, percebendo a expressão vulnerável de Eros mudar.

— Senhorita, Harper. — Ares suspirou fundo, antes de prosseguir: — Deixarei o nosso almoço para uma outra oportunidade, terei que resolver algumas coisas. Podemos falar sobre isso em um outro momento, certo?

— Tudo bem. — Anelise observou Eros mais uma vez antes de sair da sala. No fundo, ele sabia. Precisava contar tudo o mais rápido possível, ou jamais seria perdoado. — Até logo. — Despediu-se ao perceber que sua presença não era mais solicitada.

— Você ia contar tudo, garoto? — Ares o segurou pelo colarinho, chacoalhando o corpo de Eros que permanecia inerte. — O que acha que Anelise vai fazer quando descobrir?

— Por que está tão interessado? Está com medo de que Anelise descubra que você transou com a ancestral dela? Está louco para fazer o mesmo com Anelise, não é? — Eros se desvencilhou de seu pai, afastando-o. — Acha mesmo que eu não percebo o jeito que olha para ela?

— Não seja ridículo. — Ares ajusta seu terno, limpando uma poeira imaginária, Eros tinha razão. Mas ele não iria admitir isso.

— Ela não é a sua Sophia, papai. — O deus sibilou, com um sorriso quase psicótico, jamais visto por Ares. — Eu sei que você mandou o Fred despedi-la, só para ter Anelise em suas mãos. Mas ela é minha! Minha paixão, minha amiga. Você já teve a sua oportunidade e fodeu com tudo. Quer dizer, literalmente.

Perdendo a cabeça, Ares desferiu um soco na boca de Eros, fazendo cair, sem tempo de se levantar, seu pai já estava em cima dele. De punhos levantados, pronto para finalizar esse assunto.

— Qual é o seu problema? Acha que pode falar comigo de qualquer jeito? Afrodite já tem filhos demais, você é apenas mais um dos vários que ela tem. Não faria falta.

— Eu sou especial, sou o primeiro. — sorriu com o sangue pintando seus dentes de vermelho.

— Não. Você não é. É só um filho que eu não consegui criar da forma que deveria. É isso que você sempre quis ouvir de mim, não é? É por isso que você quer que eu te bata? É só para sentir alguma coisa além da dor de perdê-la? 

— Eu não sei do que você está falando. — Eros mordeu a parte interna da bochecha, recusando-se a chorar na frente de seu pai.

— Um dia ela vai morrer, eu sei que você está cansado de saber disso. E sei que isso dói, mas é a verdade. E acho que o tempo que você perde aqui pedindo por uma surra, poderia estar indo atrás de Anelise. 

— Eu. Não. Posso. — Eros sentia a dor do soco começar a se dissipar, enquanto as lágrimas pareciam ter ácido em sua composição, queimando seu rosto. — É egoísta demais. Ela não merece isso, não merece alguém como eu.

— É egoísta, mas é exatamente isso que você vai fazer assim que eu te soltar. Vai correr atrás dela, vai contar toda a verdade e tentar se redimir pelos seus erros. Nossa natureza é egoísta. Nós queremos e vamos em busca do que desejamos. É isso que fazemos. — Ares o ajudou a levantar, suspirando fundo, observando Eros se recompor.

— Obrigado. — Eros virou-se e ajustou o terno, antes que pudesse se arrepender, voltou na direção do pai e o abraçou fortemente. — Eu te amo.

— Eu também amo você. Agora vá embora, antes que eu me arrependa de ter dito isso. — Ares sorriu satisfeito ao ver seu filho sair em busca de sua amada. 

* * *

Anelise caminhava pensando sobre as coisas que tinham acontecido recentemente. Deteve sua atenção num pequeno grupo de pessoas e as viu com cartazes e panfletos escrito "Anti-Eros".

— Anne, Anne. — Megan a segurou pelo braço, fazendo a jovem franzir o cenho. — Por que Eros e Ellyah nunca estão no mesmo lugar?

— O que você quer? — Ela observou Megan com uma camiseta escrita "Anti-Eros", a imagem do rosto dele estava riscada. — O que ele fez? Do que está falando?

— Eros e Ellyah são a mesma pessoa. Eu posso provar, pegue este jornal, leia tudo.  Eles são exatamente o que dizem ser, nós que somos céticos demais para acreditarmos.

— Já chega com essa loucura, Megan. Você está indo longe demais. — Uma voz masculina interrompeu a conversa, puxando Megan para longe. Anelise jamais imaginaria ver o fundador do jornal local assim, tão irritadiço. — Perdão, senhorita Harper. Minha filha não está tendo bons momentos.

— Eu estou sim! — Protestou, cerrando os punhos. Pesquise sobre a sua ancestral, está tudo bem diante dos seus olhos, Anelise. Eros é um deus de verdade, e o pai dele também.

— Já chega. — Pietro a puxou pelo braço, fazendo com que a filha fosse para o carro.

Ela negou com a cabeça, se afastando da confusão e indo para a sua casa. Hoje era o dia da pizza, mas Anne não estava tão animada. Seus pais por outro lado, a parabenizam o tempo todo pelo novo emprego. Após lavar os pratos, uma curiosidade tomou conta dela. As palavras de Megan ainda ecoavam em sua mente. Seus pais e sua irmã já estavam dormindo, por que ela não faz o mesmo? Deixava estava história louca para trás. Mas, se era apenas uma história, que mal faria em dar uma olhadinha? Só para ter certeza.

Ela suspirou fundo e foi em busca de um baú de sua avó; havia produtos pessoais e algumas peças de antiquários ali. Fotos muito antigas de família, e os primeiros dentinhos de Anelise. Vovó Nelice era uma pessoa incrível, e a saudade era algo que Anne às vezes não conseguira lidar.

Olhando com cuidado as coisas no baú, ela suspirou fundo e pegou com delicadeza as fotos exageradamente antigas; preto e branco, amareladas um de papel gasto pelo tempo. Ficara boquiaberta ao perceber sua semelhança com Sophia, a única diferença estava nos cachos cor de caramelo que todos diziam que ela tinha. E as marcas de um trabalho árduo e pesqueiro estava em suas rugas.

— Eu não conseguia lembrar dos rostos antes. Por quê? O que a vovó fez com a minha mente? — Ela suspira fundo e percebe que junto dos pescadores há um homem robusto, forte. Ele parecia familiar. Anelise semicerrou os olhos, buscando traços de familiaridade naquele rosto.  — Ares? Não pode ser! Isso não é...

Antes que Anelise pudesse concluir sua frase, ouviu passos, e quando estava prestes a gritar por ajuda, sentiu algo forte acertar sua cabeça, depois disso, apenas o escuro...

Eros Caindo em Tentação (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora