Capítulo 4

6.5K 870 370
                                    

    Para Eros, a noite havia sido longa ao lado de alguns mortais e shots de tequila. Os humanos sabiam muito bem como dar uma boa festa e aproveitar o prazer momentâneo. Sabrina estava com seus amigos mortais que dançavam sem parar. Eros beijou alguns deles, dançou, aproveitou a jovialidade que emanava em cada gotícula de suor.

    A vida humana era preciosa e finita. Eles só não sabiam disso, e jamais ligariam para tal fato. Anelise não era encontrada em nenhuma dessas festas. Talvez fosse daquele tipo humano completamente careta que a única objeção na vida era casar e ter filhos. Nada além disso. Eros admirava as pessoas que sempre buscavam mais. Eram audaciosas e apaixonadas pelo perigo. Elas sim merecem sua atenção.

    Após a festa, Eros odiava o fato de ser um deus e não poder se embriagar como os humanos. A bebida tinha um leve efeito em seu organismo, como cócegas no estômago. Apenas uma coisa fazia ele perder completamente a compostura: sexo

    Sexo era a droga mais viciante para ele. Eros tinha uma pequena inveja dos humanos. Alguns transavam por amor, era algo muito além de um desejo carnal. Quando um sentimento estava envolvido, isso deixava os humanos loucos. Mas, isso ele jamais saberia. Era incapaz de sentir um amor genuíno, sempre estava metido em enrascadas amorosas e transava com qualquer humano, deus ou semideus capaz de atestar sua sanidade mental. Isso o satisfaria por um bom tempo.

* * *

    Voltando de seus aposentos, Eros havia parado para jogar conversa fora com algumas garotas e garotos. Seria estúpido se fosse apenas hétero, não aproveitaria com tanto vigor as delícias de uma orgia. Em sua cabeça, não havia sentido algum a negação dos humanos quanto ao prazer, para se encaixar nos seus próprios padrões, mas ele não estava disposto a flertar agora. Algo muito mais interessante estava por vir.

  Novamente na cidade, ele buscava por sua amiga não-amiga humana mas não havia sinal dela.

— Boa tarde, senhoras. Teriam algum segredinho podre por trás desse tricô? Estou entediado e não sei por onde posso começar a espalhar o caos. — Com seu melhor sorriso, uma senhora parou imediatamente o que estava fazendo e olhou para o deus de uma forma assustadora. Como um céu nebuloso e sem estrelas, como se um olhar fosse capaz de penetrar sua alma longínqua. 

— Você parece com ele — pôs se a falar, com os olhos vidrados em Eros, a boca estava aberta como uma fenda. —  Haverá uma grande devastação nessa cidade. Traições, segredos e até mortes. Você e ele trarão isso. Juntos irão transformar a cidade do amor em um lugar devastado pelo ódio. E isso está apenas começando.

Por segundos, a senhora piscou e pareceu ter voltado ao normal. Por trás dela, um espectro sorria diabolicamente enquanto se dissipava no ar. Não era uma manifestação de oráculo, isso estava além da compreensão de Eros. Um leve arrepio tocou sua nuca e ele teve medo por alguns segundos.

— Deve ser uma das brincadeiras do papai, ele adora fazer isso. — Eros sorriu nervoso, voltando a observar as mulheres, era orgulhoso demais para deixar o medo tomar conta dele.

— Ouvi dizer que um novo empresário está na cidade. Ainda não sabemos o tipo de negócio dele. Mas disseram que se chama Ares, é bonito, rico e cobiçado. — Outra mulher, não tão velha quanto as demais respondera.

— Interessante, onde posso encontrar esse Ares? — Isso foi tudo que Eros havia perguntado, quando a resposta fora obtida, ele partiu em busca de seu pai.

[...]

   Ares estava magnífico na sua roupa de empresário. Terno azul escuro, sapatos lustrosos, cabelos ondulados que estavam bem penteados, juntamente com uma barba simétrica e perfeita.

Ele estava numa fábrica antiga, afastada da cidade e perto de um lago que não se podia nadar. Não importa o que estivesse ali, era devidamente proibido para os moradores.

— Papai? — Eros gritou, chamando o deus que de longe reconhecera seu filho. Afinal, quantos mundanos tinha uma pele tão clara quanto os cabelos?

—Eros! O que está fazendo aqui? — Com suas vestes formais e postura implacável, Ares saudou seu filho como sempre fizera: com frieza.

— Estou há uns dias nessa cidade, como veio parar aqui? — Algo na postura de seu pai, incomodava-o. Ele parecia ter sempre o peso do mundo em suas costas. — A mamãe te contou onde eu estava?

— Não. Estou nessa cidade por interesse próprio e há mais tempo do que possa imaginar, talvez o mesmo caos que habita em mim, o chamou para cá também. Tenho grandes planos para Lovedale. Inclusive, que nome cafona! — sorriu com desdém.

— Quais são seus planos? Poderia me contar? — Eros questionou com cuidado. Seu pai não era do tipo maleável ou afável. Trocar carinho com Ares era como socar uma parede. Provavelmente, ele ficaria mais feliz em lutar até a morte com alguém do que dar um abraço.

— Você nunca se interessou pelos meus negócios. Isso não te diz respeito agora. Inclusive, não está se alimentando direito? O aspecto de sua pele está similar ao que os humanos gostam de retratar nos filmes adolescentes sobre vampiros. — Ares sorriu, divertindo-se com a expressão mal humorada do filho.

—Escuta aqui, papai. Eu não sou o Edward de Crepúsculo, sabia? Se bem que, se eu estivesse sido convidado para o papel, não iria recusar. Mas, acho que seria difícil. Eu seria o protagonista e ficaria na dúvida entre a Bella ou Jacob, na dúvida, transaria com os dois.

Ares estava prestes a fazer uma piadinha infame sobre filmes adolescentes e suas representações, mas um de seus funcionários que estavam fazendo uma vistoria no local chamou sua atenção.

— Senhor, temos um problema. — Constatou, chamando a atenção deles. Os três caminharam até uma parte de acesso ao lago.

— O que...? — Eros olhou com atenção para o corpo que estava sendo trazido pelos trabalhadores e não tardou em reconhecê-lo.

Se tratava da humilde senhora que havia sido usada para mandar-lhe um recado. E quem quer que seja o remetente, definitivamente não queria ser encontrado.

Não muito longe dali, uma figura observava Ares e seu filho que se estabeleciam aos poucos na cidade. Muitos segredos estavam escondidos, há guerras e mortes sem explicações. E quanto mais longe eles estivessem de lá, era mais fácil tomar o poder da pacata cidade do amor que em breve provará o sabor amargo do ódio.

Eros Caindo em Tentação (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora