Capítulo 55

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   Sexo era tudo que emanava de Eros, era tudo que mantinha sua sanidade mental, enquanto transava não só com uma, mas com todas as ninfas do bosque, em seu exílio pessoal e íntimo.

Elas sussurravam coisas que o cupido não pensava, não queria pensar. Apenas se satisfazer até cansar. Mas ele nunca cansava, era insaciável.  Apollo o encontrou em uma dessas noites, Eros estava mais sensual do que nunca, e tinha um brilho perverso e vazio em seu olhar.

O deus-sol recusara o flerte, entendia o estado mental dele, e não teria coragem de transar com Eros. Por mais que sua energia estivesse brilhante e sexual, Eros estava vazio de sentimentos. Por isso, Apollo assistia à festa de orgia que ocorria no tempo de Afrodite, sem a presença da deusa que tinha aberto as portas para seu filho e seus convidados.

Seus olhos verdes procuravam por satisfação no rosto de Eros, cada vez que ele chegava ao clímax, mas não havia nada. Nada, e Apollo não sabia como ajudar. E quando tentou, fora afastado por Eros que recusava qualquer ajuda, ameaçando até fugir dali. Ele se satisfez em observar e beber o melhor vinho de Dionísio.

— Esse rapaz sabe dar festas melhor do que eu. —  anunciou, com uma enorme taça de vinho em mãos. Sua aparência era despreocupada, se fosse humano, provavelmente estaria pescando agora.

— Onde está Afrodite? Acho que Eros está passando dos limites. — Apollo suspirou irritado, será que era o único que percebia que Eros não estava bem?!

— Ele sabe bem o que fazer com a própria genitália. E sabe mesmo como dar uma festa. — Ele deu ênfase nessa afirmação. — Me sinto na Grécia antiga. Não é preciso ser o deus do amor para saber que está apaixonado pelo cupidinho ali.

— Do que você está falando? — Apollo bebericou o vinho, incapaz de olhar para a expressão travessa de Dionísio.

— É o meu vinho que está no seu organismo, lembra? — Ele sorriu novamente, arrancando uma espécie de erva daninha que estava na composição de suas roupas.

— Faça com que Eros coma isso, vai diminuir o apetite dele por um tempo. Ambos os apetites. E se ele descobrir, irei negar tudo. — Dionísio entregou a erva para Apollo e saiu de perto dele sorrateiramente.

Ao se aproximar de Eros, cercado por deuses e deusas inferiores, Apollo suspirou fundo, odiando vê-lo naquele estado tão deplorável.

— Eros. Preciso que você coma isto. — ele anunciou, fazendo todos o olharem, o deus do prazer arqueou a sobrancelha, desafiado. Então, Apollo mentiu: — É afrodisíaco. — Os deuses o incentivaram a comer, então, ele assim o fez.

O deus-sol sabia da fúria que ele sentiria quando descobrisse, por isso, foi até uma das enormes janelas revestidas com ouro. Suspirou fundo e sentou-se na parapeito. Contemplando as nuvens e estrelas que se formavam no céu escuro.

— Você mentiu. — Eros apareceu quase desnudo, cheirava a sexo e álcool.

— Sim. Eu menti porque você precisava. — Confessou, dando de ombros e o encarando.

— Eu não preciso da sua proteção, por que não vai queimar as pessoas? Sei lá, causar alguma explosão solar? — questionou irritado. — Você inibiu a minha vontade de beber e transar. O que quer de mim?

— Eu quero que volte a ser como era antes. Está nisso há dias, Eros. Quando irá parar? Quando será o bastante? — Apollo levantou-se, encarando Eros que tinha pelo menos 10 cm a mais de vantagem.

— Não posso ser quem eu era antes, o que fazia ser aquele Eros do passado, era ela. — suspirou fundo, os olhos num azul tão profundo que parecia um céu tempestuoso.

— Eu não sei como te ajudar. Eu juro que estou tentando. Todas as vezes, todos esses séculos, você sempre me procurou quando estava mal. Me desculpe se não estou sendo o bastante. — Ele ajustou seu terno reluzente, suspirando fundo e deixando a taça de vinho de lado. — Me diga como te ajudar.

— Você não pode. Ninguém pode. — Eros sentiu uma lágrima escorreu em seus olhos, gostaria de culpar o álcool, mas ele não conseguia ficar bêbado por muito tempo. — Eu estou banido daquela cidade, da minha cidade. Eu gostava daquelas pessoas, me envolvi com elas. Sei que o que fiz foi errado, mas no fundo, algumas flechas eu pensei que ajudariam. Mas eu estraguei tudo.

Apollo o abraçou, como se fosse capaz de inibir toda a dor de Eros. O deus se agarrou ao cheiro de praia e mar que estavam no terno de Apollo. Ele era tão ensolarado, por que ainda ajudava em sua tempestade?!

— Acabou a festa, saíam todos agora. — Ares bateu com a sua bengala feita de ouro e diamante, fazendo uma chama serpentear pelo chão. Transformando-se em uma cobra sinuosa feita do fogo mais ardente.

Todos saíram aos tropeços, sem olhar para trás e causando tumultos. Ares estalou o dedo e sua bengala voltou ao normal. Notou toda a devoção de Apollo com seu filho, e suspirou fundo ao ver o estado deplorável de Eros.

— Você não pode ficar assim. Precisa cumprir suas obrigações divinas. Nós não fizemos um deus do prazer que parece o deus da morte. — Eros conteve a risada, no fundo, estava feliz pela interdição de seu pai.

— Senhor Ares. Eu não sei mais o que fazer. Ele está assim há dias. — Apollo o incentivou a falar sobre o que estava sentido.

— Onde está Afrodite? Eu não a vejo há meses. — Ares bateu palmas para chamar os auxiliares da deusa do amor, que começavam a limpar todo o templo.

— Acho que está num evento internacional de sex shop's. Negócios, você sabe. — Ares deu de ombros, sabia como Afrodite era focada em suas obrigações divinas.

— E por que você não foi com ela? Está na hora de encarar que você não é humano. Não pode se comportar como tal. Entende? E ser um deus do prazer não envolve apenas transar. Você tem obrigações, está na hora de cumprir.

— É, eu sei. É exatamente isso que estou fazendo. Agora, se me dão licença, irei para a minha cama macia e feita de nuvens. Boa noite. — Dando as costas, Eros deixou os outros sem saberem o que fazer.

— Acho que já tenho uma solução, mas você terá que ir na fonte dos problemas dele. — Ares encarou o semblante do deus-sol, e ele estava carregado de determinação e curiosidade.

— Lovedale? — Apollo quis saber, enquanto seus olhos verdes estampavam sagacidade.

— Sim. Você terá que procurá-la. E eu sei muito bem onde ela está. — Ares disse por fim, fazendo Apollo pensar em todas as possibilidades daquela viagem.

Eros Caindo em Tentação (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora