Capítulo 44

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— Como pôde fazer isso comigo? — a voz de Eros saiu mais fraca do que ele esperava, enquanto sentia-se traído.

— Eu não achei que você iria se envolver com aquela humana tão profundamente. — Defendeu-se Afrodite, levantando-se de sua poltrona e indo em direção ao filho.

— Não me toque! — Afastando-se, ele notou que Anteros ainda estava na sala. — E você? — Apontou para o irmão e caminhou na direção dele. — Você sabia disso o tempo todo?

— Sim. Desculpe-me por isso, Eros. Não foi a minha intenção esconder algo assim. Sei o quanto odeia mentiras. Mas eu não consegui dizer a verdade. Foi por isso que a mamãe me chamou. Eu estava fazendo viagens pelo mundo, aproveitando a tecnologia e inovação desta era. Quando retornei, me deparei com o charme daquela cidade, as pessoas, e então eu a vi. E ela era encantadora. Eu entendi as suas razões.

— E mesmo assim você continuou mentindo para mim. — Eros completou a frase, sentindo-se claustrofóbico naquele ambiente repleto de amor e sexo, na mesma proporção, mentiras. — Já chega!

— Eros, espere. — Afrodite chamou sua atenção, fazendo Anteros aproveitar a oportunidade e sair dali rapidamente. Jamais poderia imaginar o caos que tal revelação traria na vida do irmão. — Há um motivo para isso acontecer, eu posso explicar. 

Ainda de costas, o deus virou-se lentamente, buscando traços de verdade no rosto de sua mãe. Se alguma vez desejava sentir o que os humanos sentiam, poderia agora chegar perto disso. Pois o seu coração estava partido.

— Quando Athena descobriu que seu pai tinha desvirtuado uma serva tão fiel quanto Sophia, ela castigou a mulher, punindo-a com a morte eminente. A deusa da sabedoria amaldiçoou todas as mulheres da família de Sophia. De formas distintas. Seu pai ainda mantinha a esperança de encontrá-la viva, e como isso não aconteceu... Em retaliação, Ares destruiu tudo na cidade, matando os servos, os moradores. Pessoas inocentes, filho. É isso que acontece quando algum de nós, se apaixona por humanos. Não medimos a nossa força para nos vingar, apenas acabamos com tudo. E a vida, é a única coisa preciosa que eles têm.

— Isso... É cruel demais. Athena sempre foi egoísta, mas nunca imaginei que seria tão cruel desta forma. — Eros suspirou fundo. — Por que Anelise? Por que ela tem pesadelos com esta maldição? Isso não é justo. — Passando as mãos no cabelo platinado, ele reergueu-se novamente.

— É por sua causa. Os pesadelos dela terem voltado. As idas aos hospitais, é tudo por causa dos sentimentos que você faz ela sentir. Anelise já o ama, Eros. Mesmo que ainda não tenha tido coragem para admitir. Por isso é tão letal, é tão nocivo. Isso irá matá-la.

— Por que isso não acontece quando eu me disfarçava de Ellyah? — Afrodite ponderou um pouco, alheia ao desespero de Eros em saber todas as respostas.

— Porque ela nunca amou a Ellyah o quanto ama você, não é o mesmo tipo de amor. A sua versão feminina, é tudo que Anelise conheceu, o mais perto que chegou de ter uma amiga. Você a notou pela primeira vez nessa cidade, Eros. Ninguém mais a percebeu.

Ele suspirou fundo, esgotado, cansado. Pensando em tudo que poderia fazer para livrar-se dessa dor em seu peito.

— É por isso que eu me perguntei várias vezes: será que ele a ama de verdade, ou apenas a idealização de que pode ter todos os homens e mulheres que quiser? — Afrodite viu a expressão pensativa de seu filho, o que a instigava a continuar. — Será que você a ama de verdade, ou só quis ficar com ela por causa de um flerte recusado?

Eros sentiu-se ofendido, mas parou para analisar todos os momentos que tivera com Anelise. Havia sido real, era real. E nada mudava o fato de que os dois não poderiam ficar juntos.

— Ela é humana, Eros. Talvez um dia Athena a liberte dessa maldição. Com 30, 40, ou até mesmo 50 anos. Mas, Anelise continuará sendo uma frágil humana. Que morrerá. Esse é o problema de amar os humanos, eles morrem, filho. E nós continuaremos aqui, sofrendo por suas perdas. Vivendo para sempre a nossa imortalidade. Você é filho de Ares, que destruiu os planos dela. E por isso Athena castigou Anelise com essa maldição.

Eros questionou-se por alguns segundos. Será que a mãe dele conhecera algum humano especial? Ou talvez fosse apenas algo de sua cabeça. Não importa o que tenha acontecido, ele só conseguia pensar no que faria algo para se libertar do amor que sentia por Anelise. Pois, não havia outra forma de escapar do destino cruel de sua amada.

* * *

  Após as confissões feitas para o deus do amor, Paul temia a cada instante ser castigado por Ares. Ele lembrara bem da vez em que seus colegas de trabalho foram em busca de uma entrevista e saíram de lá com a vida mudada.

  Ares havia mostrado seu poder, sua fúria e deixado claro que iria fazer qualquer coisa para proteger quem ele ama. E, por mais que não demonstrasse, amava Eros com todas as suas forças. Por isso, era necessário protegê-lo. No fundo, sabia que Athena iria contra-atacar novamente. E não demoraria muito para que isso acontecesse.

Com a pasta cheia de fotos e arquivos sobre o cupido do amor — todo o material cedido por Ares —, seu ceticismo havia acabado ao ver as fotos, as asas, o arco e flecha. Ele duvidou da própria sanidade diversas vezes, o que o acalmava era não ter passado por aquilo sozinho. Seus amigos sabiam também.

Após chegar em casa e sentar-se no sofá, Paul suspirou fundo e pôs as mãos em seu cabelo crespo, retirando o óculos e limpando-o na manga de sua camiseta. Ele quase teve um ataque do coração quando sua irmã apareceu, pegando-o de surpresa.

— O papai está chamando você no escritório. Parece ser importante. — Ela analisou a expressão exausta do irmão enquanto dava de ombros.

Não havia muita semelhança entre eles, apenas alguns traços do nariz e o formato dos olhos. Paul a encarou por alguns segundos, pondo seu material de trabalho no sofá.

Megan. Avise que eu já estou indo. Só irei tomar um banho antes. — Levantando-se preguiçosamente, o jornalista caminhou, sendo interrompido por seu pai que surgira do escritório com um amigo.

Sem alternativas, ele caminhou até o seu pai que falava com orgulho sobre ascensão do filho no jornal local. Megan revirou os olhos e analisou suas unhas mais uma vez, sentindo uma leve voz soprar em seu ouvido. Despertando uma curiosidade anormal no trabalho de Paul.

Ela caminhou até o sofá e deu uma olhada para verificar se alguém mais estava no corredor. Certificando-se que estava sozinha, Megan abriu a bolsa de Paul e viu alguns papéis avulsos, documentos do irmão, algumas fotos pessoais. Mas, ao vasculhar um pouco mais, ela percebeu algo incomum. Todo o material sobre o deus estava lá. Dados históricos, fotos e outros arquivos.

— Não pode ser! — exclamou ao se deparar com todas aquelas verdades sobre Eros.

Eros Caindo em Tentação (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora