Capítulo 31

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— Eu achei que isso tinha acabado — Anne confessara em lágrimas. — Essas vozes, elas não se calam. O que tem de errado comigo?

— Ponha o colar, querida. Sua avó pediu para que você nunca o tirasse. — Seu pai ordenou calmamente. — Sabe que dia é amanhã?

— A droga do meu aniversário? — Suspirou fundo, encostando a cabeça no travesseiro.

— Não diga isso, Anelise. — Censurou sua mãe, afagando seu cabelo cacheado. — É o seu vigésimo primeiro aniversário.

— Vinte e um anos, mamãe. Falando desse jeito, parece até que estamos num monólogo sobre um romance de época. — Sorriu, ao ver a mãe dar de ombros.

— Não importa. Mas, eu e seu pai temos uma surpresa. Agora, volte a dormir. Ponha o colar, você sabe que os pesadelos irão embora. Nós te amamos, filha.

Anelise obedeceu e pôs o colar de volta em seu pescoço. Odiava superstição, mas algo ruim sempre acontecia quando ela removia o acessório. Ou será que isso é coisa da sua cabeça? Afinal, quem era o mensageiro do amor?!

* * *

    Para ela, o seu aniversário era só um dia como qualquer outro. Odiava essas festividades, gostava apenas de ficar em seu quarto e não ser incomodada. Mas, os seus pais adoravam as comemorações deste dia. Não era novidade que eles farão uma festa "surpresa", e assim como todos os anos, ela fingia que não sabia.

Depois do falecimento de sua avó, tudo aquilo pareceu perder o sentido para Anne. Seu aniversário já fora sua data favorita, agora, era só mais um dia qualquer.

Ao adentrar na sorveteira, ela ajustou sua farda e o pequeno broche com seu nome. Para sua não-surpresa, Eros estava lá, saboreando uma deliciosa rosquinha que também era servida no estabelecimento.

— Bom dia, Anelise. Parece que alguém acordou no lado esquerdo do coral hoje. — Eros sorriu malicioso, mordiscando a rosquinha e dobrando o jornal sob a mesa. Somente para encará-la.

— Não acredito que você está usando referência de Barbie: Mermaidia para falar comigo. — Ela sorriu minimamente, fazendo Eros assentir. 

— Que vasto conhecimento em clássicos, qual seu filme favorito da Barbie? Se falar que é o Barbie Princesa da Ilha, nossa amizade termina aqui. — Os dois sorriram, fazendo Anelise negar.

— Eu gosto de todos, mas, Diário da Barbie é o meu favorito. — Ela deu de ombros, indo atender outra mesa, mas logo voltando para a de Eros. — Ei, onde está a Ellyah? Engraçado como vocês sempre somem e nunca estão no mesmo lugar. Aliás, de onde vem o seu conhecimento sobre os filmes da Barbie?

— Bem, às vezes eu ficava um pouco entediado com as minhas obrigações. Chantageava os sátiros para trazer alguns filmes para me entreter. Ellyah? Somos primos, doce Anne. Não gêmeos siameses. Quer mandar algum recado? Vocês estão bastante próximas ultimamente, não é? — Eros sorriu malicioso, deixando Anelise constrangida. Será que Ellyah havia comentado sobre o beijo?

— Somos melhores amigas, doce Eros. Não gêmeas siamesas. Estamos bastante próximas sim. Fala para ela que hoje é meu aniversário, meus pais sempre fazem alguma coisa na minha casa. Você também está convidado.

— Ellyah está viajando com Anteros, eles precisaram resolver um negócio de família. Seu aniversário? Por que não me contou antes? Eu não sei o que te dar de presente. — Bufou frustrado, mas logo assentindo. — Estaremos lá, só diga-me uma coisa. Eu ficaria melhor com um laço cor de rosa ou azul?

Ela sorriu, tentando não mostrar o dedo do meio e voltou a fazer suas atividades. Eros costumava importuná-la com uma frequência absurda. Mas, desta vez, ele não iria irritá-la no dia de seu aniversário.

[...]

   Após sair do trabalho, Anelise foi até o alojamento para tomar banho e comer algo antes de ir para o jantar em família camuflado de festa surpresa. Seus pais já estavam mandando vários SMS perguntando se ela iria, a garota respondia todas as mensagens, inclusive a de amigos que ela não via há anos.

Desde que fora morar em Lovedale, o contato com seus amigos acabara se perdendo. Não tinha amigos na escola, somente os dois irmãos que eram seus vizinhos.

Livrando-se dos pensamentos nostálgicos, ela pôs uma roupa simples e confortável. Deu uma bela caprichada em seus cachos e por último, investiu em um batom vermelho para dar uma cor aos seus lábios.

— Nada mal. — Sorriu ao ver seu reflexo no espelho e pegou o celular novamente, para verificar se Ellyah havia mandando alguma mensagem.

Indo para a casa de seus pais, ela observou o roteiro de sempre: luzes apagadas, silêncio profundo e calmaria. A garota bateu na porta antes de abrir e adentrar na sala. Sendo surpreendida por vizinhos e colegas de seus pais gritando em uníssono um "surpresa".

Ela observou a sala cheia de balões coloridos, serpentina e vários outros itens de decoração. Recebendo alguns presentes, Anne os levou para o seu quarto.

— Essa não é a nossa única surpresa, querida. — Sua mãe surgira rapidamente na porta do quarto, fazendo-a franzir o cenho.

— Como assim? — sorriu sem entender a expressão de sua mãe.

— Sabíamos que você sente falta de uma pessoa em especial, seu antigo melhor amigo de infância. Então, o trouxemos até aqui. — A mãe dela sorriu animada, batendo palminhas e agitando sem parar os cachos longos. — Pode entrar, não tenha medo. — Ela falou com alguém que estava do lado de fora, fazendo Anelise ficar desconfiada.

Nathan? —  anunciou surpresa, correndo na direção dele e o abraçando com força, quando o moreno surgiu. — Como você está? Nossa, quanto tempo!

— Eu mesmo, mais bonito ao vivo. — Ele sorriu, exibindo dentes perfeitamente brancos. — Estou bem, andei fazendo algumas merdas que você se envergonharia de mim.

— Então, me conta sobre essas merdas. — Anelise puxou Nathan pelo braço e o levou para fora de seu quarto.

— Primeiro quero me justificar dizendo que eu não queria fazer o que fiz. — Nathan dá de ombros, enquanto Anelise tenta decifrar sobre o que ele está falando.

— Meu Deus! Você engravidou alguma menina do colégio? — Anelise gargalhou, pegando dois refrigerante e entregando um para Nathan.

— Eu me apaixonei como nunca achei que fosse acontecer. — Ele suspirou fundo, ficando pensativo.

— Apaixonado? Como assim o cupido do amor acertou o seu coração? Quem é a sortuda da vez? — Anelise sorriu com entusiasmo.

— Não diria que ela é sortuda, diria que eu sou sortudo, Olivia é muito bonita. — ele suspira fundo. — Mas, o problema é um pouco maior, tem outra garota também.

— Opa, espera um pouco. Não quero ir para aniversários de bebês agora. Que tal o seu diploma primeiro? — Ela sorri, pondo uma mecha de seu cabelo castanho atrás da orelha, após ouvir tudo com atenção. — Espera um pouco, duas garotas? Nathan, nem preciso te dizer que isso vai dar muito errado, né?

— O diploma do ensino médio talvez venha, difícil vai ser o da faculdade. — Nathan diz desanimado apontando para a tala que ainda cobre seu tornozelo. — Eu acho que já deu. — Ele diz passando a mão na nuca.

— Ah, é verdade. Lembro de quando nos falamos pela última vez e você mencionou o acidente. — Ela sorriu minimamente, caminhando até uma mesa e sentando-se — Não desanime, você é bem mais do que isso e muito inteligente também. Me conta mais sobre isso, quero decidir se peço para o meu pai te enterrar no quintal por enganar duas garotas ao mesmo tempo.

— Eu fingi para a garota que gosto que sou um típico bad boy popular e desejado, e agora ela realmente acha que eu sou. — Nathan sorri fraco. — E a outra garota é minha nova vizinha que eu tive que beijar para um trabalho da escola.

Continua...

Eros Caindo em Tentação (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora