Capítulo 59

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  Entre idas e vindas, Eros tentara em vão fugir das rotas repetitivas que buscara para esquecer Lovedale,  e acima de tudo, Anelise. Ele já estava cansado de tudo aquilo e após retornar para a sua casa, deparou-se com um convite inesperado de seu pai; a comemoração de um grande negócio para a empresa de advocacia. E claro, sua família seria devidamente apresentada, e o deus do prazer, não poderia faltar.

Jantares regados à champanhes e caviar, música boa e funcionários livrando-se das preocupações com trabalho. E não poderia faltar a raiz de todos os problemas amorosos de Eros. Olhos castanhos, cachos bem feitos e um cheiro agradável de produto capilar. Como poderia o cupido do amor estar sofrendo por amor? Eros não poderia simplesmente acertar uma flecha em si mesmo? Apaixonar-se por outra pessoa?

Talvez o motivo pelo o qual ele gostava tanto de Anelise, estava ligado ao fato de que eles não podem ficar juntos. Maldição! Literalmente... O que ela havia feito depois de tantos meses? E se tivesse conhecendo outra pessoa? E se... Tantas possibilidades. E apenas uma certeza: humanos são complicados e loucos.

— Você está encantador! — Afrodite pega Eros de surpresa, distraído enquanto ajustava sua gravata borboleta.

— Acho que depois de um tempo, me habituei a usar outros tipos de roupas. — sorri fraco finalizando o ajuste no acessório. 

— Eros... — Afrodite iniciou, e seu filho observou seu vestido justo e preto. Bem alinhado em suas curvas e devidamente sensual. Se ele estivesse fingindo ser Ellyah, certamente iria usar aquela roupa para um jantar. — Você sabe que Anelise estará lá, não sabe?

— E qual seria o problema, mamãe? Eu poderia simplesmente trancar os dois e acabar de vez com essa maldita tensão sexual entre eles. — Anteros adentrou nos aposentos de Eros e o empurrou para que pudesse ajustar sua gravata no espelho do irmão.

— Eu iria arrancar sua cabeça e usar para jogar futebol com os sátiros. — Ele empurrou Anteros de volta, fazendo o irmão gargalhar.

— Aposto que você imaginou como seria ficar trancado com ela. É uma pena que Anelise esteja bebendo muito café com o garoto da contabilidade. Desconfio até que eles estejam tomando bastante sorvete de creme. Esse não era o seu favorito, CiumEros?

Eros teve a súbita ação de empurrar seu irmão contra a parede e segurar em seu colarinho, o deus do amor correspondido apenas sorria, por saber que havia atingido o ponto  fraco de seu irmão.

— Não briguem desse jeito. Principalmente por causa de uma simples mortal. — Afrodite os afastou e ajustou a gravata de ambos — Espero que se comportem como deuses adultos, não como cupidinhos levados. Entenderam? Ou eu irei fazer uma bebida que irá acalmar seus nervos por um bom tempo.

Eles se entreolharam mais uma vez e após minutos de tensão, Ares apareceu e os convocou. Estava na hora de ir e enfrentar seus medos.

[...]

Ao chegar na empresa, Afrodite e o deus da guerra faziam comentários discretos sobre o quão luxuoso o local havia ficado com a decoração. Eros por outro lado, pegara a primeira taça de champanhe que apareceu.

— Você sabe que isso não funciona, certo? Fugir dos problemas usando o álcool é uma coisa bem comum para humanos.

— Cara, você não transa? Não tem ninguém para conversar? Que saco! Vou acertar alguma flecha em alguém só para te dar uma distração. — Eros retrucou, fazendo o irmão pôr as mãos nos bolsos.

— Eu sou a única pessoa nessa festa que não quer estar com você por causa de interesses sexuais. Mamãe e papai estão no próprio mundinho. Anelise, está conversando com o cara gato da contabilidade bem ali. — Ele deu ombros suspirando fundo e apontando na direção dela.

O quê? — Eros anunciou alto demais, chamando a atenção de todos, fazendo até o pianista parar de tocar. Anelise parou rapidamente de conversar com Calleb e o observou.

— Eu preciso beber alguma coisa. — Ele falou baixinho, sem que ninguém ouvisse. Anteros já estava se divertindo e dançando, Eros por outro lado, não conseguia fazer nada disso.

O deus observou discretamente o papo animado que Anelise estava com o tal "garoto da contabilidade", ele era muito bonito. Alto, pele negra, sorriso de dentes brancos e bem alinhados, olhos verdes e alguns centímetros a mais.

— Eros, já te falaram que é feio ficar encarando por tanto tempo? Acho que seu ciúme chama mais atenção do que aquele antigo arco rosa.

— Não estou com ciúmes. Estou apenas analisando as pessoas aqui e notando que eles são insuportáveis. Mamãe e papai estão se divertindo bastante. — Ele suspirou fundo enquanto ambos os deuses dançavam no grande salão.

— Na verdade, papai me pediu um favor. Ele esqueceu uma papelada que precisa entregar para uma tal Monique. É só para verificar se todos os papéis estão lá. Você pode fazer isso? Já estou procurando a Monique. Os papéis estão na sala dela, fica à direita do escritório dele.

— Tudo bem. Não estou fazendo nada mesmo. — Ele bufou e ingeriu todo o álcool que continha em seu copo. — Mas depois disso, irei para casa. Estou cansado dessa festa entediante.

Eros caminhou pelo longo corredor tocando as paredes e ouvindo a música alta que emanava do salão principal. O prédio era grande e o DJ havia se comprometido em fazer daquela festa inesquecível.

Ele hesitou antes na sala e quando abriu a porta, fora surpreendido por Anelise procurando alguma coisa em cima da mesa.

— Você... — O deus suspirou fundo, sentindo ela virar gradativamente e fazer o mesmo.

— Oi. — Anne pôs uma mecha de seu cabelo atrás da orelha e buscou palavras para fugir do clima estranho na sala.

— Vim buscar uns papéis para a Monique, achei que estivessem na mesa dela. E bem, cá estou.  — Eros se explicou, incapaz de olhar para Anelise.

— Deve ter algum engano. Essa sala não é dela. É minha. Anteros me pediu para pegar uns... — Ela se interrompeu, começando a interligar as ações. — Espere! Você pediu para ele fazer isso! Aposto que sim. Só para que fosse inevitável não falar com você.

— Ei, espere aí, está aborrecida pela interrupção da conversa com seu namoradinho? — Ele deu de ombros, enquanto Anelise franzia o cenho.

— Eu vou sair daqui agora mesmo. — Ela caminhou até a porta mas fora impedida de sair, pois, estava trancada.

— Vocês só sairão daí depois que fizerem as pazes e acabarem de vez com isso. Já chega. Não irei deixar que saíam. Então, boa sorte. Se beijem ou se matem. — Ele sorriu malicioso atrás da porta, deixando Eros e Anelise de braços cruzados sem saber como iriam sobreviver um ao outro.

Eros Caindo em Tentação (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora