Capítulo 25

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   Eros assentiu e os dois desceram do carro em silêncio, caminhando até a entrada. Ao abrir a porta, Anne se deparou com seus pais arrumando a mesa e sua irmãzinha assistindo desenhos na televisão.

— Boa noite. — Saudou Eros, trazendo flores em um pequeno vaso para a mãe de Anelise.

— Ah! Obrigada, querido. Eu adoro hortências. — Ela sorriu, indo colocar o presente na cozinha.

Eros cumprimentou o pai de Anelise e os dois sentaram no sofá. A morena foi até a cozinha conversar com sua mãe, e a caçula fazia o que toda criança na idade dela faz: fingir que não está prestando atenção na conversa dos adultos.

— Você sabe que precisa cuidar da minha garota, não sabe? Ela é muito preciosa para nós.

— Claro, Sr. Harper. Se eu pudesse acertar uma flecha do amor em mim, certamente escolheria sua filha. — Os dois sorriram, mas Harper não entendeu nada.

— Ela já te explicou a razão de ter escolhido psicologia, não é? Anne é uma menina doce, que se camufla por trás de todo aquele jeito dela, quando era criança, já teve que fazer terapia, já que...

— Do que vocês estão falando? — Anelise surgiu rapidamente, fazendo Eros quase pular do sofá.

— De casamento, querida. Afinal, você já tem idade suficiente para... — tentou mudar o assunto, mesmo sabendo que ela iria ficar enfurecida.

— O único casamento que eu quero é com o meu diploma, papai! Eu e o Eros não somos namorados, somos apenas amigos. Ele é gay. — Vociferou, fazendo Eros abrir a boca em protesto, mas se calou com o olhar furioso dela.

— Ah, é...? — O homem ajustou seu óculos redondo e observou o rapaz de forma desconcertada.

— Que bobinha! Ela estragou nossa brincadeira. Desculpe, Sr. Harper. — disse afinando a voz e cruzando as pernas, entrando no joguinho de Anelise. — Eu só estava fingindo ter uma namorada para agradar meus pais.

— Ah, claro. Desculpe querida, eu não quis forçar o assunto casamento, só estava brincando. Eros me perguntou qual assunto te deixava mais irritada, por isso falei.

Trapaceiro! Pensara Eros. Agora ele sabia a fonte das mentiras rápidas de Anelise. Mas o que será que aconteceu com ela na infância?

— Isso é bem a cara dele mesmo! — Cruzando os braços ela negou com a cabeça. — Mamãe está chamando, o jantar está pronto.

Beth e o pai saíram na frente, enquanto Eros sorria desdenhoso e arqueava as sobrancelhas.

— Gay? Essa foi sua melhor desculpa? — Levantando lentamente, ele parou na frente dela que permanecia de braços cruzados. — Sorte a sua que minha masculinidade não é frágil. É mais forte do que esse desejo reprimido que você sente por mim.

Ele deu uma risadinha, e caminhou até a cozinha fazendo aquela voz aguda novamente.

— Estou sentindo um cheirinho delicioso de pizza. — Sentando-se à mesa por último, Anelise evitava olhar para Eros.

— Eu fui o cozinheiro esta noite. Minha comida é a melhor daqui, ainda bem que você não vai casar com Anelise. Ela é péssima na cozinha. Querida, você lembra quando ela era criança e cozinhou uma meia junto à sopa? — Todos fizeram uma expressão de nojo e logo após sorriram, menos Anelise.

— Está incrível, vou até sair da minha dieta para ingerir tanto carboidrato. Homem na cozinha é um sonho, eu sou um completo desastre. — Eros pôs uma fatia generosa e os pais de Anne iniciaram outro assunto.

Após o jantar, Anelise avisou que estava exausta, se despediu e foi dormir. Queria evitar Eros o máximo possível. Seus pais continuaram conversando com ele, sobre os mais diversos assuntos e o deus adorava o jeito que o pai dela ficava empolgado ao falar sobre história e geografia. Sobre conflitos, guerras, adorava conhecer pessoas assim. A mãe de Anelise foi levar a mais nova para dormir, enquanto eles conversavam animadamente.

— Querido, Beth quer que você leia algo para ela dormir. Está com insônia. — A mulher apareceu sorrindo e o marido levantou-se, dando um beijo estalado no rosto dela e despedindo-se de Eros.

— Foi um prazer, rapaz. Você sempre será bem vindo em nossa casa. Desculpem-nos por qualquer coisa. Lembre sempre que não existe pizza mais saborosa que a minha.

— Pode deixar, senhor Harper. Tenha uma boa noite. — Eros sorriu, ao vê a mulher à sua frente. Era tão bonita quanto Anelise, mas seus olhos eram mais expressivos. Havia um brilho de felicidade neles.

— Desculpe por Anelise sair assim rapidamente, ela estava cansada do trabalho. Mas deve gostar muito de você. Nenhum amigo veio até aqui. Acho que ela tem vergonha de nós, não sei.

— Não pense nisso, vocês são uma família linda. Ela fala sempre bem da família e é grata por tudo que tem. — Eros disse gentilmente, já estava na hora de ir embora.

— Ela tem algum amigo além de você? Uma amiga, talvez? — perguntou triste, fazendo Eros franzir o cenho.

— Sim. Ela é bastante amiga da minha prima. São quase como irmãs. Mas eu não lembro se ela tem outras amigas, talvez eu ainda não conheça.

— Tudo bem, ao menos eu sei que ela tem alguém. Sabe, por muito tempo Anelise se afastou das pessoas. Ela tinha medo que rissem dela novamente. — Levantando-se, a mulher caminhou até uma prateleira com livros e levou um álbum de fotos. Quando ela era criança, tinha muitos pesadelos. Acordava chorando sempre. Gritando palavras confusas. — A Sra. Harper abriu o álbum e sorriu saudosa ao ver o sorriso no rosto de sua pequena.

— E o que aconteceu? — Incentivou, fazendo-a prosseguir. Estava interessado demais no assunto.

— Um dia ela teve um tipo de colapso nervoso, começou a falar em uma língua desconhecida. Falou sobre uma profecia, disse palavras desconexas, assustou a todos na turma. Talvez fossem as histórias que minha mãe contava para ela dormir. Sobre a nossa ancestral, minha tataravó, Sophia. Ela ajudou a fundar esta cidade.

— Que interessante, conte mais. Quero saber tudo sobre isso. — Seu olhar era curioso e a mulher tinha toda sua atenção.

— Após essas crises, eu confrontei a minha mãe e ela disse que poderia ajudar. Então, Anelise passou algumas semanas com ela, indo em encontros que eu não sabia do que se tratava. Mas fiz de tudo para ajudar minha pequena. Alguns meses depois, ela já estava bem e pôde voltar para as aulas, mas os boatos haviam sido espalhados pela escola. Ninguém queria ter amizade com Anelise, não deixavam ela brincar com os outros. Às vezes ela lanchava no banheiro por causa da exclusão dos demais.

A mãe de Anelise limpou uma lágrima solitária de seu rosto, enquanto folheava as páginas do álbum de fotografias. Eros não sabia o que fazer, então, apenas a consolou com palavras.

— Mas, eu fico feliz que ela esteja bem ao seu lado. — Sorrindo mesmo com o semblante triste, seus longos cabelos cacheados e pretos cobriam boa parte de seu rosto. — Bem, aqui está a única foto que temos como lembrança de Sophia.

Eros a pegou e observou o cenário da foto antiga. A jovem mulher estava sorrindo, junto a um grupo de pescadores. Seus traços eram tão parecidos com os de Anelise que elas poderiam facilmente ser a mesma pessoa. Porém, algo chamou a atenção de Eros. Não se tratava da beleza exuberante da mulher que era similar a uma deusa grega; Ares também estava na foto.

Obrigada pelo #11k

Eros Caindo em Tentação (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora