Capítulo 26

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   As teorias não paravam de surgir na mente de Eros. Qual a ligação de Ares com a ancestral de Anelise? Por que ele estava naquela foto?!

Com a insônia de quem tem a vida inteira para dormir, ele foi em busca de respostas. Talvez não obtivesse sucesso, mas naquela noite em especial, não sentia sono algum.

Ele caminhou até o templo de Afrodite, repleto de pétalas de flores, deusas auxiliares tocando harpas e sua habitual decoração charmosa.
A tonalidade era de um rosa claro, com o mármore decorando o chão e as paredes, cobertas por quadros de pintores famosos e vários utensílios de ouro maciço.

— Olá, mamãe. — Eros sorriu e Afrodite continuou concentrada no que estava fazendo, as deusas deram uma risadinha e acenaram para ele.

— Olá, querido. Está tudo bem? — Sem tirar a atenção de sua tarefa, Afrodite questionou, fazendo Eros se aproximar e observar o que a distraia.

A deusa estava sentada em meio aos tapetes macios de veludo, bordando uma manta com posições sexuais. Seu cabelo estava preso numa trança delicada e sua pele coberta por um fino tecido de linho. Seus lábios continham uma tonalidade vermelho e seus olhos azuis estavam concentrados no bordado.

— Está tudo bem, é que eu gostaria de fazer algumas perguntas... — Eros suspirou fundo e Afrodite o incentivou a prosseguir, enquanto seu filho passava a mão na nuca um pouco desconcertado. — Em particular... — olhou para as deusas que sentiram-se ofendidas, mas saíram do templo.

— Vão embora, meninas. Nos encontraremos em breve. — Ela incentivou, fazendo suas servas saírem. Eros nunca pareceu tão inquieto sobre algum assunto. Afrodite deixou sua atividade de lado e o encarou. — O que você quer saber, querido?

— O papai já se envolveu com humanas, certo? Você conhece alguma chamada Sophia? — Seus olhos continham uma curiosidade e sede de conhecimento que Afrodite jamais vira.

— Nós já vivemos por tanto tempo, Eros. É claro que seu pai se envolveu com uma humana. Com várias, nenhuma em especial. Você sabe que eles morrem. Nós não podemos nos envolver com humanos. Apesar de que, alguns são exageradamente deliciosos. — Ela sorriu com o pensamento malicioso, mas Eros parecia exageradamente interessado nesse assunto.

— Às vezes eu acho que ter escolhido Lovedale não foi por acaso, acho que ela me escolheu. — Ele suspirou fundo, enquanto sua mãe ficava pensativa.

Sophia, Lovedale, Ares, Humanos. Lovedale, atualmente, Lovedale. Antiga... Ah! Afrodite sabia exatamente quem era Sophia. Agora estava lembrando e não tinha conseguido esconder isso em seu semblante.

— Não sei, querido. Perdão. — Ela voltou a bordar a manta e ignorou Eros.

— Eu sei que você sabe, mamãe. É uma péssima mentirosa. — Protestou, fazendo-a fingir estar ofendida.

— Eu jamais mentiria para você, Eros. Nunca. Não sei quem é Sophia. Seu pai já deitou com muitas mortais, ela não é a primeira, nem será a última. Agora por favor, me dê licença. Eu preciso terminar esse presente.

— Se não me ajudar, mamãe... Vou descobrir sozinho, você sabe que eu odeio mentiras. Odeio que me enganem, espero que isso não esteja acontecendo... — Eros falou calmamente, mas havia uma ameaça velada em sua voz. — Eu sei que para vocês os humanos são insignificantes, mas eu gosto de uma em especial. Ela é minha amiga.

Eros suspirou fundo e virou as costas, caminhando na direção contrária. Ouvindo no corredor apenas seus passos, Afrodite chamou sua atenção ao dizer:

— Você está se envolvendo demais, Eros. Deixe que os humanos resolvam sozinhos os problemas deles. Não são seus. — Ela deu o conselho como deusa e mãe, mas ele apenas ignorou e saiu do templo.

[...]

   Eros voltou para Lovedale, iria confrontar seu pai e descobrir a verdade. Afinal, depois de todo esse tempo, qual a ligação de Ares com a cidade e por que só agora ele teria voltado?! Após tantas décadas, por que agora?!

Ele estava prestes a virar a rua, quando um "hey", chamou sua atenção. Eros estreitou os olhos, buscando a origem do som. Até ver um homem de baixa estatura chamar sua atenção.

— Olá? Quem está aí? — Questionou ao estranho. — Aproximando-se gradativamente, antes que ele pudesse perguntar alguma coisa, ouviu passos e sentiu que havia sido golpeado na cabeça.

Acordando gradativamente, ele sentiu a dor aos poucos ser amenizada. Seu processo de cura era mais acelerado do que o dos humanos, afinal, quem havia golpeado ele?!

— Onde estou? — Indagou, ao ver vários homens o cercando.

Seus olhos percorreram o lugar e ele pôde perceber que estava num local úmido e escuro. Não havia detalhes nas paredes, nada além de uma luz fraca no topo de sua cabeça e cinco homens ao seu redor.

— Diga nos o que você veio fazer em Lovedale, Eros! — O homem que inicialmente chamara sua atenção vociferou.

— Hey?! Você me enganou! — Acusou desconfiado. Só agora estava começando a enxergar os homens com clareza. O menor deles tinha feições comuns, era negro e usava óculos, suas roupas eram quadriculadas e ele usava uma boina xadrez.

Eros poderia se soltar daquelas cordas ou até mesmo quebrar aquela cadeira,  mas queria ver até onde os humanos iriam.

— Nós sabemos quem você é! Filho de Ares e Afrodite, deus do prazer. E nas horas vagas, disseminador do caos! — Um outro homem com um crachá escrito "Paul", acusou.

— Finalmente! — Eros sorriu satisfeito e jogou o cabelo na direção contrária. — Até que enfim alguém nessa cidade sabe quem eu sou. Mas por que tanta violência? Sou o deus do prazer, não da agressão.

— Não confiamos em você, sabemos que pode nos acertar com uma flecha e trapacear. Diga-nos o que quer aqui. — Paul anunciou, observando Eros ponderar se eles valiam a pena ou não.

— Eu estava entediado e resolvi dar um passeio para acertar algumas flechas, conhecer algumas garotas e garotos. Você sabe como é, né? — Eros deu o seu melhor sorriso, mas não conseguia ouvir os pensamentos sórdidos deles. — Por que vocês não têm pensamentos sexuais sobre mim?

— Somos casados, temos filhos e somos apaixonados por nossas mulheres. E homem. — Paul acrescentou, e o amigo acenou agradecendo, já que era gay. — Isso nos deixa "imunes" ao seu charme. Eu andei pesquisando. — Paul deu um sorrisinho de satisfação e uma piscadela para Eros.

— Adoro quando fazem o dever de casa. Mas, será que poderiam me soltar? Vocês sabem que essa corda não me segura, eu posso simplesmente levantar e ir embora. Não quero estragá-las, vocês fazem sempre isso? Amarram pessoas? Não foi legal. Irei castigá-los com meu poder do caos. — Ele forçou uma expressão séria, enquanto um dos homens implorava por misericórdia. — Ah, é brincadeira. Só, me soltem educadamente, o golpe na cabeça já foi o bastante. O que querem saber?

— Queremos saber qual a sua ligação com as mortes que estão acontecendo em Lovedale, principalmente, pelo fato de que todos envolvem o colar de sua amiga, Anelise Harper.

— Esperem, como vocês sabem disso? — Questionou levando-se rapidamente, deixando a cadeira em pedaços, sentindo uma fúria descomunal enquanto segurava Paul pelo colarinho de sua camisa.

Eros Caindo em Tentação (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora