Ao acordar num sobressalto, Anelise observou Ellyah sentada à sua frente, lendo uma revista de fofoca sobre famosos. Ajustando-se na cama, a morena semicerrou os olhos.
— O que você está fazendo aqui? — Desviando seu olhar da revista, a loira sorriu.
— Você me chamou e eu vim. Simples. — A fofoca estava atrativa, pois nada tirava a atenção da revista, enquanto ela cruzava as pernas. Porém, Eros só estava tentando disfarçar o susto em vê-la desmaiada.
— Como eu vim parar aqui? Eu não me lembro de nada. — Suspirando fundo, Anne começou a levantar, tendo alguns flashes de memória.
— Quando eu cheguei você já estava dormindo. Recebi as suas mensagens. Aí eu não quis te acordar. Você estava roncando tão bonitinho. — Gargalhou, fazendo Anelise se encolher constrangida.
— Eu não ronco! — defendeu-se arrancando sorrisos da amiga. — Que dia é hoje? Acho que tenho alguma coisa para fazer, mas não consigo lembrar.
— Deve ser isso aqui. — Ellyah balançou o papel da contratação da sorveteria. — Inclusive, parabéns. Você vai ser uma deliciosa calda de chocolate no meu sundae.
— Você é inacreditável, Ellyah. — Levantando-se, Anelise foi em direção ao banheiro. — Você desapareceu. Sempre acontece a mesma coisa com o Eros. Isso é combinado? — A morena adentrou no banheiro, enquanto Ellyah pensava se foi ou não uma boa ideia ter voltado para Lovedale.
— Temos uma família complicada. Bastante, eu diria. Sempre estamos nessas reuniões chatas. Essas coisas de sempre. — Bufou, lembrando das obrigações de ser um deus grego. Tanta coisa para fazer. Tantas flechas para atirar.
Após tomar um banho relaxante e demorar mais do que o necessário, ela notou um pequeno bilhete deixado por Ellyah com os dizeres: "Estou te esperando na praça. Não se atrase."
A comemoração de Lovedale estava dando o que falar, Ellyah jamais perderia. Anelise também não. Mas tinha algo estranho. Será que tinha sonhado? As memórias voltavam aos poucos, tudo ainda estava confuso em sua cabeça.
[...]
Após vestir-se com um modelito típico para um bom fim de tarde, Anne caminhou pela rua observando os balões e as cores vívidas da cidade. Lembrara o que estudou uma vez. Por essas ruas, muito sangue inocente havia sido derramado. Ao ponto das pessoas simplesmente tentarem esquecer o antigo nome da cidade. Uma nova data foi criada, novos costumes. Havia um passado sombrio por trás de cada composição do asfalto, um segredo milenar que em breve seria descoberto.
Um pouco distante, o prefeito e a primeira dama saudavam os moradores usando suas máscaras de "casal perfeito" que sempre enganavam as pessoas. Após se afastar de Robert, Susan notou uma movimentação entre as crianças, Joshua estava entregando doces e brinquedos para elas.
Susan observava com admiração, a beleza interna e externa daquele homem. Tão lindo, tão proibido. Como se tivesse um ímã puxando seu olhar, o padre observou-a por um tempo, encarando por alguns segundos. Mas, virando logo em seguida. Odiava essa atração irresistível que sentia por ela. Porém, necessitava aprender a lidar com isso. Essa atração custava caro.
— Feliz Loveday, padre. — Saudou aproximando-se, fazendo as crianças saírem na direção contrária. Estavam animadas e corriam sem parar.
— Feliz Loveday, madame. — Retrucou, com um leve sorriso, fazendo a atenção dela se concentrar ali por longos segundos. — Você tem alguma comida favorita?
— Como? — indagou ainda perdida naquele sorriso largo de dentes brancos. — Ah, comida. Bem, eu amo algodão doce.
— Vamos pegá-lo? — Convidou, iniciando sua caminhada lentamente, acompanhado por Susan. — E então, como estão as coisas com o prefeito?
— Eu ainda não o matei durante o sono da noite, então, acho que temos um avanço. — Os dois sorriram, mas Joshua deu um sorriso contido. Chegando na barraca de algodão doce, Susan pediu o maior que tinha. — Você quer? — ofereceu um pedaço que fora recusado gentilmente.
— Não. Obrigado. Estou numa dieta zero açúcar. — sorriu para a mulher que voltou a comer o doce com vigor. Ele reparou num carro preto parado ao longe, sabia que o conhecia de algum lugar.
O vidro do banco traseiro fora baixado lentamente, revelando uma ruiva de lábios vermelhos acenando para ele.
— ... As coisas andam bem diferentes e eu achei que... — Antes que Susan pudesse responder, o padre a interrompeu.
— Me perdoe, lembrei que preciso fazer uma coisa. Poderia chamar o prefeito até aqui? Estarei esperando. — Susan concordou, meio desconfiada com o jeito estranho dele.
— Tudo bem. — Assentiu, pegando mais um pedaço e se distanciando aos poucos. Mas, não tanto quanto ele esperava.
Joshua deu uma volta nas barracas, tentando despistar os olhares curiosos. O carro entrou em uma rua escura e ele adentrou no veículo após verificar se ninguém havia o seguido.
— Olá, Josh. Estava com saudades de mim? — a ruiva retirou seu óculos preto e mandou um beijinho.
— O que você quer? — disparou enfurecido, sabia que quando Amanda estava presente, ele tinha problemas.
— Quando eu apareço, você sempre sabe o que é. Por que toda essa raiva? Seu coração precisa de amor, Josh. — ela sorriu desdenhosa — Você sabe que se eles descobrirem... — ela passou o indicador no clérgima* dele, recebendo um olhar furioso em troca.
— Eu já te disse que vou pagar essa merda! — vociferou, afastando a mão feminina rapidamente. — Mas eu não tenho o dinheiro agora, preciso de dois dias. Até lá eu terei o dinheiro e essa vai ser a última vez. Não vou pagar mais nada!
De longe, Susan observava com cuidado para não ser vista. Afinal, o que Joshua fazia naquele carro?! Ela não conseguia ver muita coisa, estava longe, mas não o bastante para vê-lo sair do carro e se despedir de uma ruiva.
Afastando-se rapidamente, a primeira dama voltou à concentração local. O prefeito estava prestes a fazer um discurso chato. Mas a sua curiosidade estava aguçada. Quem era aquela mulher? E por que Joshua necessitava encontrá-la de forma tão discreta?!
Os moradores já estavam reunidos em volta do pequeno palco improvisado, todos sorridentes e segurando os típicos balões cor de rosa para soltar no ar.
— Boa tarde, moradores de Lovedale. Como prefeito, tenho uma linda mensagem para vocês. — Robert iniciou, sinalizando para que Susan ficasse ao seu lado. Dando um sorriso, ela se posicionou como esposa troféu.
Ellyah e Anelise chegaram bem na hora do discurso, enquanto Ellyah mordiscava uma maçã do amor.
— O recado que eu tenho é: — Robert iniciou, mas parou por alguns segundos, antes que sua voz fosse substituída por uma inumana. — Todos nós vamos morrer, em cinzas a cidade queimará. Ninguém sobreviverá. O amor que vocês tanto prega é uma farsa. Eros, eu sei que está entre nós. A disseminação dos seus pecados irá acabar. Essa cidade terá seu fim.
Continua...
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Eros Caindo em Tentação (Concluído)
FantasyEros é o deus do prazer, filho mais velho de Afrodite. Vaidoso, egoísta e narcisista, o deus estava cansado da mesmice. Por isso, resolvera agitar a vida dos moradores de uma pequena cidade regada por tabus e conservadorismo. Lançando uma onda de pa...