Capítulo 43

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   Após a conversa franca com o deus da guerra, Eros passeou pela cidade que é a sua casa, seu berço, testemunha de seu nascimento como um deus adulto. Ele observou as pessoas, as crianças brincando na rua e pôde entender o sentimento que teve por essa cidade desde o dia que chegara.

A grama recém cortada, as folhas secas pela rua, tudo parecia íntimo, tudo parecia parte dele.

Anelise já estava em casa, sã e salva, no fundo ele tinha vontade de visitá-la, mas não podia. Como poderia? Algo ruim sempre acontecia quando estavam juntos. E ele não iria descansar até entender o motivo.

Por isso, não tardou em ir buscar as informações que necessitava, no lugar mais improvável. Eros adentrou na redação do jornal de Lovedale, observando os homens que antes o capturaram, mas agora ele poderia chamar de "aliados". Os homens envolvidos naquela noite se entreolharam e com um aceno de cabeça, o deus chamou a atenção deles para qualquer sala vazia.

O líder deles, Paul, ajustou seu óculos antes de levantar-se em busca de um espaço para os acomodar. Eros ouviu alguns comentários sexuais a seu respeito, mas os ignorou.

— Sr. Eros. Em que posso ajudá-lo? — Paul questionou, adentrando na sala juntamente com seus amigos.

— Eu tenho algumas perguntas. — Ele observou o ambiente ao seu redor, uma sala de reuniões. Sentou-se na poltrona de chefe, girando levemente.

— Então? — Paul interrompeu o devaneio de Eros, que cruzava os dedos e assumia uma expressão pensativa.

— Como vocês souberam quem eu sou? — Fitando os homens um por um, ele os encarou por alguns segundos. — Quer dizer, como vocês acreditaram em quem eu sou? Os humanos desconfiam de tudo, até mesmo do que veem. Como vocês acreditaram em mim sem que eu demonstrasse quem era? Na hora, eu não me questionei sobre isso, mas pensando melhor, quero saber.

Paul coçou a barba rala em seu queixo, sem saber como explicar isso. Ou por onde começar. Impaciente, um dos seus colegas, pôs-se a falar.

— Seu pai — ficando pensativo, como se pensasse nas ordem dos fatos, ele suspirou fundo e retomou: — Quando ficamos sabendo do novo empreendimento e do valor econômico para a cidade, fomos lá pedir uma entrevista, até mesmo uma matéria. Acabamos nos deparando com um homem imponente, e astuto que aprofundou o assunto, nos mostrando bem mais do que a vida de um homem bem-sucedido.

Por segundos, Eros franziu o cenho, concentrando sua atenção nos homens enquanto Paul censurava um deles com o olhar. Deixando claro que alguns detalhes, o deus jamais poderia saber.

— ... Então, ele nos contou sobre você. Descreveu suas feições, os detalhes, tudo mesmo. E nos pediu para ficar de olho nas suas ações. Depois ele nos falou sobre Anelise, sobre o colar, a deusa do amor e todo o resto. Aí começamos a estudar sobre tudo a respeito de vocês. Afinal, faz parte da nossa profissão buscar esses fatos.

Eros digeriu cada palavra, ficando pensativo por uns instantes, questionando-se sobre as coisas que talvez não poderia saber sobre o seu pai. Depois de falar tudo que sabiam, os homens voltaram para suas tarefas e o deus saiu da sede do jornal sem dizer mais nada. Temporariamente, havia ficado satisfeito com as informações que descobrira. Ele poderia descobrir se pressionasse o pai ainda mais. Porém, conhecendo Ares, seria difícil pegá-lo pela segunda vez em um dia bom para confessar sobre tudo. Sendo assim, Eros iria buscar a verdade através de outra pessoa. O deus voou para o local inicial dessa história, de onde ele jamais pensara encontrar tantas verdades, algumas delas, completamente danosas.

[...]

O cheiro da grama recém cortada e das flores silvestres atingiam Eros como um doce e sensual beijo proibido. O cheiro fresco de frutas e o perfume das ninfas e das flores. Este era o cheiro de seu lar. Tão cíclico, tão acolhedor e único.

Como de costume, Afrodite estava em seus aposentos, a decoração luxuosa de sempre, os quadros, os tapetes com posições sexuais. Tudo digno de uma deusa do amor. Ela estava distraída tecendo uma calcinha especial, que Eros sequer conseguira pensar na utilidade mágica que esse item teria.

— Olá, mamãe. — O deus a saudou, fisgando sua atenção, ela sorriu brevemente, interrompendo sua atividade.

— Olá, querido. O que desejas? — Pondo o seu cabelo sedoso atrás da orelha, Afrodite analisou o semblante de seu filho, reconheceria aquela expressão em qualquer lugar.

— Eu estive pensando, tem algo que eu não sei, e sinto que vocês estão tentando esconder os próprios rastros. — Ao notar a expressão contrariada no rosto de sua mãe, Eros prosseguiu: — O papai me contou tudo. A respeito de Sophia, Lovedale e sobre o meu renascimento. Eu lembro que você mencionou que ela não significava nada. Mas, na verdade, Sophia era tudo para o papai. Quero que me conte a verdade.

Afrodite ficara inquieta, suspirando fundo e parecendo buscar as palavras para se explicar. Antes que pudesse responder, ambos ouviram uma voz familiar chamar pela deusa.

— Ah, desculpem. Eu não sabia que vocês estavam ocupados. — Anteros degustava um pedaço de bolo que tinha uma coloração diferente, e Eros poderia jurar que o irmão estava testando alguma nova receita vegana.

— Poderia nos dar licença? — calmamente, o deus da libertinagem solicitou, fazendo Anteros pensar por alguns segundos sobre o tema da conversa em particular.

Seu irmão não entendia bem a razão de Eros gostar tanto dos humanos, jamais entenderia. Mas notara que havia um clima tenso nos aposentos de sua mãe, e pela expressão de ambos, o assunto é sobre humanos, uma em especial. 

— É sobre a sua humana, não é? — Indagou enquanto comia mais um pouco de bolo, chamando a atenção de Afrodite e Eros. — Mamãe, por que você não conta logo para ele?

— Me contar o quê? — O deus olhou para o irmão e depois para a sua mãe, sabia que pelo olhar de Afrodite, os dois estavam escondendo algo.

— Anteros, não faça isso. — Afrodite o alertou, chamando a atenção dos dois.

— Ele precisa saber. — Anteros adentrou mais na sala, vendo Eros em pé e Afrodite sentada em uma poltrona de ouro, com o nervosismo cintilando em seus olhos azuis.

— Me digam agora! — Eros esbravejou, irritado e inquieto, ansioso para saber a verdade sobre Anelise. O motivo de a deusa do amor estar envolvida com sua humana predileta.

— Ela é amaldiçoada. Não pode se apaixonar por ninguém, nem mesmo por você. Qualquer indício de amor, é letal para Anelise. — Afrodite suspirou fundo e fez uma breve pausa. — Eu sabia disso o tempo todo.

Eros Caindo em Tentação (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora