Capítulo 47

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2 meses depois...

O tilintar de seus saltos no porcelanato claro, ecoava por todo o corredor, enquanto em mãos, os funcionários carregavam pastas e uma xícara generosa de café. Eles se cumprimentavam, como uma espécie de troca de segredos velada, enquanto sorriam uns para os outros. O aroma do café aguça seus sentidos e ajuda no combate à ansiedade de seu primeiro dia de trabalho. O nervosismo de seu primeiro dia estava em cada poro de seu corpo, o que a fez trocar de roupa pelo menos três vezes antes de achar o look ideal. 

— Esta aqui é a sua sala. — interrompendo seus pensamentos, Monique, a secretária, avisou. — Nesses papéis têm toda a instrução normativa da empresa. Assim como os números de cada setor e informações indispensáveis sobre a rotina do chefe. — Seja bem-vinda, Anelise.

  O.k, pensara na tentativa de arquivar todas as instruções dadas em menos de dez minutos. Sentou-se em sua cadeira e por segundos lidava com os pronomes possessivos. Sua mesa. Sua sala. Sua cadeira. Seus papéis. Seu emprego. Anelise havia sido despedida da sorveteria, sem nenhuma causa aparente. O proprietário pediu desculpas e disse que necessitava ceder a vaga para outra pessoa. O que ela teria feito de errado? E o que faria para sustentar-se daqui para a frente?

Então, ela lembrou-se da oportunidade de Ares e não hesitou em aceitar. Em seu primeiro dia, Anne tentava não sentir-se tão nervosa. Afinal, seu emprego exigia comunicação e profissionalismo.

— Toc-toc... — Alguém anunciou, em seguida dando um sorriso. — Bem-vinda, Anelise. Eu tinha certeza de que você não iria recusar a minha proposta. — virou-se sendo surpreendida por Ares que estava segurando a porta, analisando cada traço desta mulher tão similar à sua amada. — Tudo bem por aqui?

— Bom dia, senhor... — ao perceber o leve arquear da sobrancelha dele, Anne corrigiu: — Ares. Bom dia, Ares. Está tudo indo bem sim, e a sua proposta foi difícil de se recusar.

Anelise às vezes sentia-se desconfortável em sua presença. Um homem tão imponente e com um olhar carregado de arrogância e poder que vão além de sua compreensão humana. o jeito que a olhava, como se estivesse buscando algum traço de personalidade dela, algo que ele buscasse em seu interior.

— Ótimo. Se precisar de qualquer coisa, é só me chamar. Mas, creio que Monique era tirar suas dúvidas. —  passou a mão em seu cabelo castanho, enquanto ficara pensativo. Era uma mania que Anelise já tinha observado. — Bem, até logo. Tenho muita coisa para resolver. Peça para que Monique vá até a minha sala, por favor. 

  Após deixá-la sozinha, Ares caminhou enquanto seu humor parecia ter mudado. Anelise observou também, que as pessoas o temiam naquela empresa, ao ponto de interromper quaisquer assunto somente para cumprimentá-lo. Que tipo de influência um homem como ele poderia ter? Ela sequer imaginava.

   Mesmo com o embate silencioso entre o caos e o amor, Lovedale permanecia calma. Alheia aos pecados de seus habitantes. Qual culpa poderia ter uma cidade pelos atos de quem a frequenta? Era apenas uma cidade com poucos habitantes e muitas histórias sombrias para contar.

Ah, Lovedale. Doce Lovedale, se eu pudesse recitar um cântico repleto de lamúrias, todos seriam dedicados à ti.

   Em suas ruas, Eros caminhava atento ao fluxo de pessoas e casas ao seu redor. Havia acordado inquieto naquela manhã, e como não tinha mais Anelise para ocupar seu tempo, ele teria que buscar algo para fazer. E como sempre, envolvia humanos.

  A morte daquela idosa ainda o perturbava, mesmo depois de as autoridades não se mostrassem interessadas em revelar os segredos da cidade, Eros não iria descansar. Sentia-se no papel de investigador da cidade. E iria descobrir tudo que pudesse.

— Olá, Monique. Papai está por aí? Preciso falar com ele sobre uma coisa que está me incomodando. — Eros tentava seduzir a secretária de seu pai, mas sem muito sucesso. Seu coração já pertencia a alguém.

— O senhor Ares está ocupado. Não poderá atendê-lo. — Ajustando seu óculos, a funcionária o encarou. O deus sabia que por trás de roupas formais e um coque ruivo, havia uma mulher incrível.

— Ele te pediu para dizer isso, não é? Aposto que está bastante ocupado com alguma linda mulher de saia em seu escritório. — Eros sorriu malicioso, e uma onda de excitação o atingiu ao perceber a inquietude da secretária. — Eu acertei? Ai meu Deus!

— Senhor, Eros... Não faça isso! — A ruiva tentava em vão alcançar o deus que já se encaminhava para a sala de seu pai.

— Pai, eu preciso fazer algumas pergun... — Ao adentrar na sala sem bater, Eros presenciou seu pai e Anelise envolvidos em uma risada confidente enquanto ela fazia anotações. — O que você está fazendo aqui?

Anelise sentiu um pânico tomar conta de seu rosto, e um frio percorrer sua espinha ao ouvir aquela indagação enciumada. Eros estava ali, depois de semanas sem responder suas mensagens de texto, após uma carta romântica e definitiva para um futuro que jamais poderia existir.

— Perdão, Ares... — começou a reunir suas anotações sobre os compromissos de seu novo patrão, que agora mantinha uma expressão séria.

— Espere. — Ares olhou para a sua assistente e depois para o filho. — Com que direito você acha que pode entrar em minha sala?

— Bem, eu estava pensando que... — Antes que pudesse concluir, seu pai o interrompeu com uma voz impetuosa.

— Nunca mais entre sem permissão, você está ouvindo? Nunca mais! — Anelise sentia-se como o estopim do desentendimento familiar, e a vergonha tomava conta dela. Ao ponto de sequer conseguir olhar para Eros. — E quem eu contrato não é problema seu.

Os deus assentiu, sentindo-se humilhado perante Anelise. Ao mesmo tempo que furioso por ela e seu pai estarem juntos, tão próximos. Íntimos. E ah, como ela estava linda com trajes formais de escritório! Eros poderia até esquecer da raiva que sentira, mas não agora.

— Preciso falar com um dos seus funcionários. Não vai levar muito do tempo deles. — dissera focando sua atenção em um ponto específico da sala. 

— Tudo bem, então, creio que você tenha errado a sala. Monique irá mostrar o caminho. — Tornando a falar com Anelise, ele ordenou com a voz mais calma agora — Pode se retirar, senhorita Harper.

Ela assentiu e baixou a cabeça antes de juntar os papéis e sair da sala. Podia sentir o olhar de Eros em todo o seu corpo e não conseguia ignorar o palpitar forte de seu coração, ameaçando sair pela boca. Anne odiava presenciar brigas e ainda por cima, ser motivo delas. 

[...]

A primeira-dama já estava no local de encontro e a ansiedade era sua pior inimiga. Convidou Paul para um lugar que não fosse suspeito, mas para uma cidade pequena, qualquer lugar era suspeito.

— Está tudo aí, como me pediu. — Paul acendeu um cigarro, observando o interesse genuíno da mulher. — Espere. —  anunciou, quase congelando as mãos dela no ar — Você sabe o que quero em troca? Não é dinheiro...

— Eu sei. Agora me passe logo essa droga. — Inquieta, Susan segurou o pacote e antes que pudesse abrir, questionou: — Como conseguiu tudo isso em tão pouco tempo?

— Você não é a primeira pessoa que se interessa nos segredos do padre, madame. — Susan pensou em questioná-lo, mas sua curiosidade estava incontrolável.

Ao abrir os papéis, ela se deparou com fotos, arquivos, cartas. Um dossiê completo, leu alguns documentos, juntou algumas peças no quebra-cabeça de sua mente.

— Ele... Ele... — Susan pôs a mão na boca, como se tentasse impedir a palavra de escapulir de seus lábios.

— Era isso que procurava, madame? Eis a sua resposta. — Paul se deliciava com a sensação de dever cumprido.

— Josh... É um assassino.

Eros Caindo em Tentação (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora