Capítulo 54

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   As ruas estavam um caos, as ruas estavam repleta de cartazes e teorias da conspiração. Adúlteros usaram as flechas de Eros como desculpas para suas traições, e algumas pessoas se perguntavam se estavam mesmo apaixonadas ou aquilo fora ocasionado pelo cupido do amor.

Anelise, apagava as mensagens de texto, as fotos que havia tirado de Ellyah — a versão feminina de Eros. Há dias não aparecia na casa de seus pais, muito menos no trabalho. Ela precisava desse tempo, mas já estava na hora de seguir em frente. Assim como todos os moradores de Lovedale estavam tentando fazer.

Por isso, Anelise fora ao salão, fez um corte novo, deu um trato nas unhas, sobrancelhas, arriscou até usar salto e maquiagem. Seria difícil se libertar de meses ao lado de Eros, mas ela precisava apagar quaisquer resquícios da Anelise tola que deixara no passado.

Ao chegar na empresa, todos olharam para a garota que agora era o centro das atenções onde quer que estive. Paul havia se mandado da cidade, por uma razão desconhecida, a família inteira de Megan tinha feito o mesmo. Talvez, houvesse motivos reais para temerem o deus da guerra.

Mas Anelise Sophie Harper, não poderia se atrever a sentir isso agora.

Bom dia, senhor Ares. — Seu tom de voz era impessoal, ofendido. Toda aquela leveza havia se dissipado. Ares estava de costas, apreciando a vista que serpenteava por sua janela.

— Bom dia, senhorita Harper. — virou-se gradativamente, tentando evitando o choque ao vê-la tão diferente, tão bonita e ao mesmo tempo tão agressiva. — Há quanto tempo. Pensei que não quisesse mais a sua vaga aqui. — soou despretensioso, enquanto bebericava seu whisky.

Quem bebia às nove da manhã? Ah, eles são deuses, podem tudo. Ou quase tudo.

Na verdade, eu gostaria de falar sobre a minha demissão. Sei que ando faltando com os meus compromissos, não cumpro o horário e... — Ares estendeu uma mão, impedindo-a de falar.

— Eu não estou demitindo você. Acho justo todo tempo que tirou para recuar-se de tantas coisas. — "Tantas coisas", pensara Anelise, tantas coisas que envolviam Eros.

— E todas elas, envolvendo o seu filho. — Algo brincou no rosto de Ares, talvez tenha sido a leveza do atrevimento de Anelise.

— As coisas que Eros faz, não me diz respeito. Exceto, se me envolver. — pousou o copo sob a mesa, entrelaçando os dedos e apoiando seu queixo marcado. — Se está aqui para falar do meu filho, creio que os problemas de Eros não estão incluídos no meu planejamento de tarefas diárias. Se está aqui para recuperar o seu emprego, será bem-vinda. Já se o assunto for Eros... Acho melhor você procurar Afrodite. Ela é especialista de suas proles.

— Não. Eu não quero falar sobre ele. Não mesmo. — Anne passou a mão em seu cabelo, sentindo-se quase tão tola quanto há meses, quando o encontrou pela primeira vez. — Estou aqui pelo meu emprego. Gostaria de recuperá-lo.

— Venha aqui, Anelise. — A voz dele soou autoritária, mas não continha raiva. Ela caminhou até a mesa, sentindo uma vibração estranha em seu corpo.

Ares levantou-se de sua cadeira e a conduziu até a janela, ambos fitavam as ondas quebrarem suavemente na areia.

— Respire fundo. Observe as ondas, sinta-se como elas. Destemida, agressiva, capaz de fazer qualquer coisa. É assim que você é. — Os olhares se encontraram, e Anelise não quebrou o contato visual.

— Eu sei quem você é, e o que você fez com a Sophia. — Ares não se intimidou, tentou ler a expressão dela, mas estava indecifrável. — Eros também tentou fazer isso comigo, mas não obteve sucesso. Isso é algum ataque pessoal à minha família?

— Não. Eu estava tentando me vingar de Athena. Sophia foi um acaso. Eu não tive a intenção de me apaixonar por ela. Assim como Eros também não teve a intenção de fazer isso com você.

— E mesmo assim, cá estamos. Após décadas. — ignorou o aperto no peito ao sentir a menção do nome dele. Aquilo ainda doía, e não passaria tão facilmente. — Por que Eros veio para cá?

— Porque ele estava furioso com os humanos que não queriam mais amar, que não queriam mais se entregar aos pequenos prazeres da vida. Não foi intencional. E quando ele descobriu sobre a sua maldição, ficou enlouquecido. — Ares passou a mão em seu cabelo castanho e suspirou fundo.

— Maldição? — Ela soou alheia, tentando digerir tudo aquilo.

— As mulheres da sua família, elas não podem se apaixonar. É letal. Exceto, quando Athena permitir. — Ares passou um olhar de confiança, enquanto Anne sentia seu coração palpitante no peito.

— E como a minha mãe se apaixonou pelo meu pai? — Ares observou o colar que ela carregava, era o mesmo que Sophia, ele conteve a sensação quase irresistível de tocá-lo.

— Algumas mulheres são mais atingidas do que outras. Eu não conheço bem a maldição, apenas a causei. Sinto muito, eu sei que isso é minha culpa. — Ele suspirou fundo, achando que Anne iria chorar, ou surtar depois dessa informação.

— Que bom então. — as palavras proferidas pela raiva, pegaram Ares de surpresa, fazendo-o arquear a sobrancelha. — O amor só me trouxe dor e nada além disso.

— Anelise... — O deus estava prestes a explicar algo para ela, que estendeu a mão para continuar a falar.

— O amor nos deixa vulneráveis a qualquer situação. Somos facilmente magoados. E, eu sempre fui assim, a minha vida inteira. Sou muito mais forte do que uma patética maldição. —  se recompôs, afastando-se da janela, organizando as pastas com cuidado na mesa e declarando: — Todos os seus compromissos estão agendados por ordem de relevância, se precisar de mim, estarei na minha sala. Tenha um bom dia, Ares.

Sem ouvir a reposta, ela saiu da sala, deixando o deus da guerra confuso. Aquela não era a Anelise que havia conhecido. Uma menina doce e tímida, que às vezes deixava que as pessoas a vissem. Esta nova versão era diferente. Sem o deus do amor por perto, Anelise havia endurecido seu coração. E o deus da guerra entendeu o quão poderosa era essa ligação entre seu filho e aquela mortal que não era tão comum assim. Ele só precisava pensar em alguma coisa, para uni-los novamente. Pois, Anelise precisava tanto de Eros, quanto ele dela.

Eros Caindo em Tentação (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora