Capítulo 3

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   Eros caminhou lentamente até os aposentos de Afrodite. Tapetes com figuras de posições sexuais estavam na parede, uma arquitetura grega e neoclássica tomava conta do lugar. Marfim e tons claros brincavam numa mistura de cores e pedras preciosas.  Ao fundo, gemidos inundavam o local. Um pequeno grupo de deuses auxiliares estavam em uma orgia.

— Olá, mamãe. — Saudou com um sorriso que logo fora correspondido.

— Eros, querido. Como você está? — Afrodite respondera tirando a atenção de uma mesa circular de ouro, dava para ver todo o globo nela. Era necessário apenas pensar em um local.

— Estou bem. — Observou a mãe pensativa por alguns segundos. — Aconteceu uma coisa inusitada hoje no mundo dos humanos.

— O quê? Eles estão matando uns aos outros novamente? Isso não é novidade, querido. — Afrodite fechara os olhos por alguns segundos e o mapa desapareceu, voltando a ser apenas uma mesa sem figuras. A deusa estava com uma túnica de seda rosa, cabelo bem penteado e em ondas perfeitas de um louro quase similar a cor de ouro. Seus olhos azuis intensos observavam o filho favorito.

— Uma humana, parece ser imune ao meu charme. As mulheres e homens sempre estão caindo os meus pés. Por que ela não? — Indagou frustrado e com um olhar mimado que a deusa do amor conhecia bem.

— Eu não sei, querido. Talvez ela esteja ocupada demais com alguma tarefa humana. Aliás, por que você está se envolvendo com eles novamente? Eros... Quantas guerras irá causar em nome do amor? Seja pelo país, seja por uma ideologia. Humanos são tolos. Não compreendem nossos presentes.

— Bem, talvez ela realmente esteja ocupada. Mas eu sou o deus do prazer. Todos me querem, todos têm pensamentos sexuais sobre mim. Menos, ela.

— Eu sei, querido.  — Ela suspirou fundo e passou a mão no rosto de seu amado filho. — Olhos tempestuosos e cabelo cor de nuvem. Você é perfeito, Eros. Essa mundana é apenas um pedaço de carne com prazo de validade. Nós somos imortais. Esqueça essa garota e espalhe um pouco de caos amoroso naquela cidade sem graça. Deixe a mamãe orgulhosa.

— Sem problemas, mamãe. Caos e luxúria são a minha especialidade. Mas, que roupa eu usaria se quisesse chamar a atenção de uma mulher como ela? — Após bater palminhas exageradas, Eros suspirou fundo.

— Mulheres adoram homens de terno. São elegantes. Formais e sensuais. Você ficaria muito elegante num terno preto, filho. Deveria investir. — Ela beijou a testa dele e sorriu. — Agora nos dê licença, a mamãe está na hora do intervalo. Meus convidados estão esperando.

[...]

Ao voltar para Lovedale, Eros passou a mão no ombro como se estivesse se livrando de uma poeira imaginária. Suas asas curtas e pontiagudas sempre permaneciam escondidas mas às vezes elas incomodavam por chamarem atenção quando ele estrava distraído. Como uma ereção em locais inapropriados. 

— Senhoras... — saudou um grupo de velhinhas fazendo tricô e sussurrando sobre as roupas chamativas deles.

Era uma tarde agradável de sábado e as pessoas só tinham dois locais como fuga da monotonia eminente: lago ou sorveteira. O deus sabia onde encontrar seu alvo, que por sinal, estava distraída com seu óculos vermelho com formato de coração e milk shake sabor morango.

— Boa tarde, acho que não fomos devidamente apresentados. Meu nome é Eros, e você é...? — novamente, a abordagem com um lindo sorriso, que as mulheres nunca resistem.

— Tipo o deus do sexo? Quem é a sua mãe? Afrodite? — deu um sorriso divertido e tirou seu óculos para fitar o garoto de olhos azuis e cabelo cinza.

— Exatamente! Como adivinhou? Sou tão lindo quanto ela? Ou será que você é um oráculo? — Questionou com empolgação e sorriu.

— O que você quer? — Ela levou o canudo até os lábios e o encarou, sugando o líquido lentamente. — a universitária estava com uma saia jeans, uma blusa amarela de alcinhas, tênis e seu cabelo longo e cacheado estava preso num coque.

— Na verdade, eu vim perguntar se estou atraente o suficiente. O que achou do meu visual? — Eros pôs as mãos nos bolsos e deu um sorriso encantador. As pessoas olhavam na direção dele na pequena sorveteria com traços dos anos 50: a decoração xadrez e o piso lustroso entram em harmonia com a iluminação e os pôsteres antigos. Cada mesa com quatro cadeiras têm uma tonalidade pastel que varia entre rosa, verde-claro e azul, deixando o ambiente acolhedor. Discos de vinil também fazem parte da decoração, enfeitando as paredes e dando o toque final na ambientação do local.

— Depende. Você está indo para um funeral ou fazendo cosplay de Homens de Preto? — uma pessoa que estava atrás de Anelise deu uma risadinha abafada, prestando atenção no visual inusitado do forasteiro. 

— Aquele com o Will Smith? Os filhos deles são lindos, né? Naquele dia, eu estava bastante inspirado na dose de sexualidade que botei no casal. Às vezes a mulher já ajuda escolhendo a lingerie certa. Aliás, qual é o seu nome? —  Ele sentou-se na frente dela, observando a garota com cuidado.

— Cara, você tem problemas? — sorriu, achando mesmo que talvez ele tivesse algum transtorno ou estava querendo falhar miseravelmente em uma cantada. — Meu nome é Anelise. 

— Anne, a mamãe e o papai já estão no carro esperando. Podemos ir? — A irmã dela surgira, lançando agora um olhar curioso para Eros.

— Ai que bonitinha, você tem um sátiro de estimação. Esse até usa peruca, qual seu nome criaturinha? Eu também tenho um sátiro, o nome dele é Eustácio. — Anelise franziu o cenho para sua irmã Annabeth que sorria com o jeito de Eros.

— Ela não é um sátiro, é só uma garotinha de 6 anos. Vamos, Beth. — Anelise levantou-se olhando para ele uma última vez. — Até mais, Eros. Foi um prazer rir de você e com você.

— Até mais, Anelise. Em breve irei ouvir todos os seus pensamentos ao meu respeito. — Eros sorriu e pôs os pés na mesa, pedindo um sundae de chocolate.

Logo após pagar com moedas gregas, o deus saiu caminhando pelas ruas com as mãos nos bolsos e assobiando a cada pensamento de libertinagem que ouvia. Mas, alguns gemidos chamaram sua atenção. Quando se tratava de pensamentos dos mortais, a mente de Eros era atraída no mesmo instante, da mesma forma que um caçador era atraído por sua presa. Por outro lado, ele ficava muito mais animado quando seus ouvidos eram agraciados pela luxúria de um casal fazendo amor, era como se estivessem usufruindo do presente dado por ele e sua mãe. Antes que seus olhos alcançassem a cena, seus ouvidos foram preenchidos por uma série de gemidos.

— Não deixe que nos vejam, Robert. Não quero encrencas. Sua mulher não pode descobrir.  — Uma ruiva ofegava enquanto o homem fazia movimentos pélvicos bem precisos.

— Ninguém vai descobrir, Bettany. Susan jamais desconfiaria da melhor amiga. — Ele sorriu malicioso, depositando um beijo sem afeto na mulher. — Esqueça isso e se concentre no que estamos fazendo aqui.

   Eros livrou-se daquelas vozes em sua cabeça e por alguma razão, tinha se incomodado. Para um deus do sexo, aquilo era satisfatório. Mas, para o que ele entendia por caráter humano, era desprezível. Talvez tivesse feito o certo em atirar uma flecha na mulher do prefeito e no padre. Dando de ombros, ele usou suas asas para voltar para casa, pensar no caos que iria espalhar no dia seguinte.

Eros Caindo em Tentação (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora