Capítulo 52

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Anelise acordava gradativamente, enquanto tudo ao seu redor parecia girar. Sua cabeça doía cada vez que tentava se mexer ou entender onde estava. Mas ao se movimentar, percebera que estava amarrada, e com pelo menos dez metros de altura sob seus pés. Seu grito fora instantâneo e agudo, fazendo ela balançar o próprio corpo. Isso é um sonho. Repetia para si mesma. Isso não é um sonho. E se você cair, você morrerá. 

— Calma, Anelise. Não se mexa. — Aquela voz familiar inundava o pequeno campo de futebol de Lovedale.

— O que eu estou fazendo aqui? Você quer me matar? Por que está fazendo isso? — Ela gritou, enquanto seus olhos buscavam Megan na escuridão.

— Eu tentei te avisar da melhor forma possível, mas você não acreditou. Ninguém acreditou, e me desculpe por isso. Mas tenho certeza que irá me agradecer depois. Ah, e eu também peguei o seu celular.

— O que você quer de mim? — Anelise sentia uma base de alumínio firmar os seus pés, e ela recusava-se a olhar para baixo. Mas falhou em sua missão.

— De você? Eu juro que não quero nada. Não irei te machucar. Mas preciso de uma coisinha sua. Prometo que não vai doer. Exceto, se ele te deixa cair.— A voz se dissipou pelo campo, fazendo a microfonia irritar Anelise, mas não tanto quanto sua proximidade com a morte.

Anne estreitou os olhos e pôde ver a silhueta de Megan, não tão distante. Microfones estavam espalhados por todos os lados, inclusive, também tinha um na roupa de Anelise. Mas o que estava acontecendo?! Numa sala protegida, Megan que agora usava o celular de Anelise, enviou uma mensagem para Eros, que num tempo recorde chegou no campo de futebol.

— O que está acontecendo? — Ao perceber a escuridão e os holofotes voltados para Anelise, Eros quase correu na direção dela, mas algo o impediu. 

— Espere. Não tão rápido, Eros. Primeiro, nós precisamos dar uma palavrinha. — A voz de Megan ecoou novamente.

— Maldita! Se Anelise cair, eu juro que matarei você, Megan. Eu juro! — O deus vociferou, notando o desespero de Anelise que chorava sem parar.

— Eu avisei, Eros. Avisei que você iria se arrepender. E cá estamos nós. Uma pena que para um final tão trágico. Mas você pode mudar isso, só você. Vamos, confesse tudo! Confesse as coisas que fez. Eu prometo que nada acontecerá com Anelise.

— Sua raiva lhe faz virar-se contra a sua própria espécie? — Ele provocou, querendo descobrir em qual das cabines ela estava.

— Confesse, o tempo está passando, Eros. Tique-taque. Tique-taque. Tique-taque. — Megan estalava a língua, enquanto pensava no que dizer primeiro.

— Anelise, vai ficar tudo bem. Olhe para mim. — Ele pediu calmamente, passando a mão em seu cabelo cinza. — Bem, a Megan tem razão. Ela não está mentindo. Eu sou o deus do prazer, do sexo, cupido do amor. Me chame do que quiser, mas tudo em meu nome envolve desejo. E céus! Como eu desejei você desde o princípio. — Havia microfones espalhados por todo o campo, e apesar da altura, a imagem de Eros estava sendo transmitida num telão, assim como a de Anelise.

— Eu não acredito, Eros. É só isso que ela quer? Por favor, me tire daqui. — A morena pediu, chorando ainda mais. Seu ponto fraco estava na altura. Ela odiava lugares altos e graças a Megan, isso se concretizou ainda mais.

— Eu me transformei em Ellyah, só para me aproximar de você. Sei que foi errado, mas eu acabei me disfarçando de mulher. Para aprender sobre você, para estar com você. E isso só fez com que eu me apaixonasse ainda mais. Me desculpe, eu gostaria de contar de outra forma.

— Isso não é possível. — Anelise gostaria de ao menos limpar seu rosto marcado pelo medo e pelas lágrimas. Mas sequer conseguira fazer isso.

— Eu uso flechas do amor nas pessoas. Eu sei que você conhece um pouco da minha história, mesmo não acreditando. Acertei uma flecha no padre e na primeira dama, acertei na Sabrina e no Gregory, nos nerds do colegial, em várias outras pessoas. Mas eu fui incapaz de fazer isso com você.

Os policiais chegaram no local, enquanto o xerife usava um megafone, mandando Megan acabar com aquilo logo. Mas ninguém estava a vendo ainda.

— Eros, você é péssimo com as palavras. Está na hora das atitudes. Anelise não está acreditando no seu discurso, e eu também não. — Antes que Eros pudesse responder, Megan acionou o botão que automaticamente soltou Anelise, que gritava enquanto caía.

Tomado pelo pânico, Eros voou até ela, ignorando as leis de física e da natureza que os humanos têm. Suas pequenas asas de cupido são fortes o bastante para aguentar os dois. Quando Anelise o abraçou com força, Eros entendeu que a personificação de seu amor estava ali. Ouviu-se uma risada de Megan e vozes de assombro e medo. Todas as luzes acenderam, e Eros pôde ver que Lovedale inteira estava ali. Vendo o deus do amor finalmente assumir a sua verdadeira forma.

Anelise abriu os olhos e viu que Eros pousava calmamente, enquanto ela se recusava a acreditar no que estava acontecendo. Quando Eros a botou no chão, Anelise caiu de joelhos, incapaz de processar o que estava acontecendo.

— Estão vendo? Eu avisei. Acreditam em mim agora? — Os moradores de Lovedale se levantaram rapidamente, gritando coisas que Eros se negava a escutar, os policiais e o xerife Woody não sabiam ainda o que fazem. Estavam impressionados demais. 

— Você está bem? — Eros abaixou-se para ajudá-la a se levantar. Mas ela recusou seu toque e levantou sozinha. — Me desculpe, fiz isso por amar você. Eu te amo, Anne. 

— Não. Você não me ama. —Sua voz saiu baixa, quase inaudível, mas neste momento todos se calaram para ouvir o que ela tinha a dizer. — Se me amasse, teria me contado a verdade. Você fingiu ser outra pessoa, você fingiu ser a minha amiga. A única amiga de verdade que tive na vida.

Eros ainda não tinha escondido suas asas, agora, sentia que não havia mais necessidade. A verdade estava sendo revelada agora, para todos. Na arquibancada, Ângelo e Susan olhavam vergonhosos para as pessoas, que dividiam suas atenções em todos os casos de amores proibidos.

Eros Caindo em Tentação (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora