Capítulo 17

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     O que costumam dizer sobre pessoas bisbilhoteiras? Elas sempre acabam encontrando o que não devem. Talvez, isso tenha acontecido na prática na antiga Lovedale que muitos evitavam até mencionar seu nome anterior. Qual seria o pecado dessa cidade pequena e atrativa aos olhos de pessoas que querem tranquilidade?!

     Anelise descobriria em breve, para isso que havia ido à biblioteca local, para pesquisar nos livros de história o real passado da cidade. Mas, falhara miseravelmente após descobrir que alguns livros estavam no acervo pessoal do prefeito. Tudo que ela precisava era de um passe livre. E não era difícil descobrir o ponto fraco de Sabrina. Não quando todos estavam interessados em Eros. Para a sorte dela, na semana seguinte, a primeira dama e o prefeito estavam em uma viagem de negócios. Tudo que ela precisava era entrar na casa era levá-lo à festa de Sabrina.

Anne: Você está sumida, aconteceu alguma coisa? Quer ir à uma festa hoje à noite? Mas você precisa levar o Eros.

O deus não demorou a responder, já que estava apenas bebendo vinho com Dionísio.

Ellyah: estou com alguns problemas mas em breve estarei de volta. Não poderei ir, mas Eros irá. Preciso do endereço e horário.

     Após enviar o que a "amiga" havia pedido, Anelise se apressou em procurar uma roupa, já que não costumava ir para essas festas, precisava de algo bom para vestir. Por isso, vasculhou todo o seu armário. Até finalmente encontrar a roupa certa.

      Minutos após tomar banho, lá estava ela, naquele ritual que somente meninas de cabelos cacheados entenderiam. Anne odiava sair com o cabelo molhado, por isso o secou e usou bastante creme para fixar os cachos rebeldes. Optou por uma camiseta de Green Day, calça de cintura alta, tênis, para finalizar passou um batom vermelho e pôs argolas. Isso era o máximo que ela conseguia de parecer uma adolescente normal.

[...]

     E quem poderia imaginar ver Anelise parada em frente à casa do prefeito esperando por Eros? Era exatamente isso que ela estava fazendo: esperando. Observando os populares zombarem dela ao passarem ao lado da garota com seus trajes não habituais.

— Por baixo dessa carranca de superior, existe uma Anelise bem gostosa, posso conhecê-la, melhor? — com seu grupo de amigos, o garoto sentia-se ousado em importuná-la.

— Se você quiser conhecer a minha versão mais doce, irá descobrir que ela vem com um brinde de soco bem na sua cara. — Rebateu verificando o celular e ignorando eles.

— Olá — Eros saudou, com as mãos para trás, fazendo Anelise sorrir com desdém ao vê-lo com um terno cinza e sapatos lustrosos.

— Você tem alguma coisa contra usar roupas normais para caras da sua idade? — sorriu caminhando com ele em direção à entrada.

— Se esse for o seu modo de dizer que estava com saudades de mim e precisava me ver para entrar nessa festa. Bem, fico feliz em vê-la também. — Anelise revirou os olhos e seguiu em silêncio.

— Eros! — Sabrina o cumprimentou alegremente, percebendo a presença de Anelise depois de alguns segundos. — Oi, Anelise. — demonstrou sua insatisfação ao vê-la.

—Finalmente alguém que sabe me cumprimentar com saudade, aprende Anelise. — o deus sussurrou no ouvido dela, antes de ir pegar bebidas.

Após algum tempo sentada e observando Eros se divertir e dançar com as pessoas naquela festa, Anne esperou o momento certo para sair sem ser notada.

Em todos os sentidos, a casa era enorme: assoalho de madeira, móveis caros, longas escadarias. De onde surgia tanto dinheiro para manter uma casa como esta? Ah, ela sabia bem a resposta. Mas não era isso que estava buscando naquele momento.

Depois de abrir várias portas aleatórias, notara no final do corredor uma porta larga de madeira, ao abrir, se deparou com o escritório. Repleto de estantes de documentos, paredes com quadros de péssimo gosto e uma grande mesa e uma enorme poltrona. Ela não resistiu e sentou-se na mesma.

— Como prefeita, eu decreto o fim de pessoas idiotas perambulando pela cidade. Isso mesmo. Estão todos banidos. — Anne girou na poltrona e observou uma porta menor em uma das paredes. — Olá, belezura.

Um sorriso triunfante surgiu em seus lábios. Afinal, não havia um lugar melhor para esconder livros antigos do que em um escritório? Ninguém tinha curiosidade em saber mais sobre a cidade.

Então, ela adentrou e a luz fora acendida automaticamente, fazendo Anelise estreitar os olhos com a surpresa de uma luz tão forte. Após alguns segundos, pôde ver com clareza as fileiras de livros divididas por autores e categoria.

"Lovedale, antiga cidade..."

— Procurando algo em particular, Anelise? — Eros questionou, encostado na porta, fazendo a bisbilhoteira derrubar um dos livros.

— Seu filho da... — Com o coração acelerado, Anne fitou o rapaz — Como me achou aqui?

— Filho da deusa, por favor. — Corrigiu e sorriu desdenhoso, caminhando na direção dela. Pegando o livro e dando outro para ela. —  Olha, você não é nada discreta. Tenho certeza que todo mundo sabe que está aqui. Precisa de ajuda com alguma coisa?

— Preciso achar algo sobre Lovedale. Esse nome é péssimo e sei que tem algo que nós não sabemos a respeito dessa cidade. — Deu de ombros, prosseguindo sua busca, olhando os livros com cuidado, ignorando o olhar de Eros, mas não por muito tempo. — O que está olhando?

— Você é bem bonita. Até mesmo quando está bisbilhotando a biblioteca do prefeito. — Sorriu e pôs as mãos nos bolsos do terno. — Tem um motivo que me fez vir para Lovedale, Anelise.

— O quê? — perguntou parando repentinamente, observando o quanto ele era alto, mesmo que ela tivesse 1,70cm a diferença ainda era notável.

— A história conta que após um naufrágio, uma serva de Athena fora designada a cumprir uma missão aqui. Mas, ao chegar em Lovedale e conviver com os moradores, ela acabou se envolvendo com um em especial. Fazendo a garota desistir de sua missão e se entregar para ele, abdicando de sua virgindade. E isso causou muita fúria na deusa, que se vingou trazendo o caos para esta cidade. Eu sempre estou onde o caos está, Anelise. Sou naturalmente chamado para lugares assim. — Eros percebeu somente agora que o corredor era pequeno demais para acoplar duas pessoas. Notando que os dois estavam próximos demais.

— Então? — Anelise suspirou fundo, engolindo em seco e ignorando a sensação estranha que ficar perto dele lhe causava. Estava interessada na história.

— Então, que ela era muito bonita. E o tal morador da cidade, era na verdade um deus. Alguém que era inevitável se apaixonar, mas ele não queria nada com ela. Partiu o coração da garota e foi embora.

— Escroto de merda. — Anne anunciou, totalmente envolvida na história. Evitando encarar Eros que insistia em fitar seus olhos castanhos. — Você fala com tanta propriedade, parece até que conhece ele... — Não cedendo à sensação estranha, encarou Eros, observando o azul enigmático e quase celestial de seus olhos.

— Sim. Eu sei quem ele é, Anne. — O deus sorriu minimamente, encarando os lábios rubros dela por um tempo muito longo.

— Quem é? — falando baixinho e sentindo um nervosismo tomar conta de seu corpo, Anelise se atentou a cada detalhe de Eros, sentindo o que estava prestes a acontecer. Eros perdera a linha de raciocínio sobre o que ia dizer, então, inclinou a cabeça para o lado, indo em direção aos lábios de Anelise. Mas antes que pudesse tocá-los, algo inesperado aconteceu, fazendo-a derrubar o livro em seus pés.

— O que porra vocês estão fazendo no escritório do meu pai? — Sabrina gritou, pegando os dois de surpresa.

Eros Caindo em Tentação (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora