Gradativamente interrompendo o beijo, Ellyah se afastou, tocando o lábio inferior de Anelise com seu dedo indicador. O gosto suave de gloss labial de morango se misturava em suas línguas quentes. O cabelo de Anelise tinha cheiro de caramelo e fim de tarde; a proximidade e surpresa do beijo só aumentavam os batimentos cardíacos das duas. Anne permanecia de olhos fechados, cedendo ao toque delicado em seu lábio. Antes que pudesse fazer qualquer movimento, uma batida na porta despertara as duas, fazendo com que se afastassem rapidamente, sem levantar suspeitas.
— Anelise, pegue a chave e feche a sorveteria hoje. Estou de saída. — Anunciou o dono do estabelecimento, apressado e sem prestar atenção nas garotas.
— Tudo bem, deixa comigo. — Timidamente, ela pôs uma mecha de seu cabelo atrás da orelha e voltou para perto de Ellyah, depois de pegar as chaves com Fred. — Bem, o que foi isso?
— Foi a forma mais rápida de calar a sua boca. Foi tão ruim assim? — Ellyah observou as cutículas, no fundo, estava com medo de perder a amizade de Anelise, nem sequer conseguira controlar sua vontade de beijá-la.
— Bem, eu não sei. Amigas não beijam na boca. Porém, depende. — Anelise sorriu constrangida, observando o incômodo de Ellyah. — Não achei que meu primeiro beijo seria com a minha melhor amiga.
— É o seu...? Perdão, Anelise. Não quis anular seu direito de escolha, eu apenas te beijei, não tive seu consentimento. Essa atitude foi detestável. — Suspirou fundo, sentindo-se completamente inútil.
— Ei, calma. — Anelise tentou tranquilizá-la, pensando que Ellyah havia agido por impulso. — Está tudo bem, de verdade. Eu só não entendo a razão de sua raiva quando falo do Eros.
— É que somos muito próximos, quase irmãos. Isso me deixa chateada. — Ellyah suspirou fundo — Está na hora de fecharmos a loja, Anelise.
— Me ajuda aqui então. — pediu, terminando seus afazeres com a ajuda da amiga e juntas, elas foram para suas casas.
[...]
Em seu escritório, Ares suspirava fundo, enquanto encarava uma pilha de papéis. Sua construtora a cada dia se estabelecia na cidade, mas na verdade, suas intenções são outras.
Há tanto tempo não pensava sobre as coisas do passado. Principalmente, Sophia. Quando chegara à cidade, a mulher mais linda que tinha conhecido em toda a sua vida, se dispôs a ajudá-lo. A premissa de pescador, agradou Sophia que lidava com frutos do mar no seu dia-a-dia. Sua família pesqueira, era a mais importante da cidade. Mas, a mulher carregava um segredo tenebroso por trás de seu sorriso magnífico.
Não fora difícil se apaixonar por ela, por seu sorriso encantador e a paixão pela natureza. Sophia não se tratava de uma humana comum, tampouco, alguém que apenas tivesse cruzado o caminho do deus do caos.
— Chefe...? — seu capanga adentrou na sala, o fazendo suspirar demonstrando impaciência. — Desculpe, incomodar. Você me chamou?
— Sim. Se eu não tivesse chamado, você não estaria aqui. — Rebateu, revisando os olhos. — Quero que pesquise tudo que puder sobre uma garota chamada Anelise. Ela é amiga do Eros. Não posso me envolver diretamente nisso.
— Tudo bem, senhor. Mais alguma coisa? — Questionou, segurando a porta com delicadeza.
— Nada mais, pode se retirar. — Dito isso, Ares girou em sua poltrona confortável. Ele adorava dar ordens, mas nada o deixava mais feliz do que procurar por pistas e encontrar respostas.
Seu negócio estava sendo bem camuflado pelo prefeito, principalmente, quando a quantia paga monetariamente era bem generosa. Ares procurava por algo, que poucas pessoas sabiam, mas que no final, todas querem. Um artefato milenar, que poderia trazer a paz, ou a ruína para Lovedale. E tudo isso se resumia em uma garota...
* * *
Anelise, havia desistido de ir para o alojamento. Após a insistência de seus pais, ela acabara indo dormir em sua casa. Confessava internamente, que sentia falta disso: de sua cama macia, seus livros na estante, até o cheiro de lavanda nas roupas de cama. Entretanto, jamais iria admitir para os seus pais. Ela precisava se desmembrar dos laços familiares, não era mais aquela garota assustada e boba que não tinha amigos.
Depois de anos, era bom ter ao menos uma amiga. Não importa o que acontecesse, sabia que tinha Ellyah para fazê-la sorrir. Mas, aquele beijo fora diferente. Jamais imaginara beijar a melhor amiga. Anne não queria perder isso, essa amizade era tudo que ela tinha. Depois de Eros, Ellyah era a segunda pessoa que notara sua presença naquela cidade pacata e cheia de rótulos.
Como arranjar amizades quando você não é a garota popular? A mais gostosa? A namorada de um jogador? O que Anelise tinha para oferecer além de bons filmes clássicos e uma extensa coleção de sarcasmo?! Sua vida parecia não ser tão interessante assim, mas sua gratidão transcendia o personagem de mulher adulta e dependente, quando seus pais ainda a tratavam com carinho.
Após um banho quente, a garota estava relaxada o suficiente. Não tinha nada melhor do que isso, para recompensar um dia exaustivo de trabalho. Sentindo-se confiante o bastante, ela retirou o colar dado pela avó. Contrariando todos os avisos para que ela jamais o tirasse, Anelise assim o fez.
Caindo gradativamente no sono, ela suspirou fundo, antes de ficar imersa em sonhos desconexos. De repente, seu sonho mudou, levando-a de volta para aquele celeiro. Fora do sonho, Anne resmungava e se mexia como se pudesse sair daquela situação. Mas, não havia outra forma, era apenas um sonho.
Até que, a mesma voz assustadora começou a emergir. Suspirando fundo, soprando as palavras, arrastando Anelise para um pesadelo repleto de detalhes fantasmagóricos e assustadores.
— Fique longe dele, criança. Isso é uma ordem. Ele não é quem você pensa, juntos, são a mesma pessoa.
No sonho, a garota semicerrou seus olhos, na tentativa de encontrar o remetente da mensagem.
— Fique longe, criança. Afaste-se de todos, não é seguro. Em breve eu irei te encontrar, não importa o lugar que você se esconder. Será minha. De mais ninguém, Anelise Sophie Harper.
— Quem está aí? - Anne ouviu sua própria voz questionar, fazendo-a duvidar se era um sonho ou realidade.
— Eu sou o seu passado, seu presente e seu futuro. Toda a sua vida depende das minhas escolhas. Eu sei quem você é de verdade. Essa garota tola e ingênua, que acha que pode salvar seus parentes, seus amigos. Mas, ninguém poderá me vencer. Fique longe do mensageiro do amor.
De repente, o sonho mudou. Fazendo Anelise acordar num sobressalto, gritando o mais alto que pôde. Seus pais correram na direção dela, mas, já era tarde demais.
Anelise estava sendo atormentada novamente, pela voz que somente a avó dela conseguira calar.
Obrigada pelas 14 mil leituras 🏹✨
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Eros Caindo em Tentação (Concluído)
FantasyEros é o deus do prazer, filho mais velho de Afrodite. Vaidoso, egoísta e narcisista, o deus estava cansado da mesmice. Por isso, resolvera agitar a vida dos moradores de uma pequena cidade regada por tabus e conservadorismo. Lançando uma onda de pa...