— Ora, ora, ora... O que temos aqui, novamente? — Woody provocou com desdém, satisfeito por ter os dois jovens na pequena sala fria. — Novamente na delegacia, Eros. O que isso diz sobre você? Agora temos uma companhia. Seu parceiro de crime?
— Isso quer dizer que eu sou bonito demais para esta cidade, e aparentemente, minha beleza é um atentado ao pudor. — Os dois prenderam uma risadinha, que Woody tentou ignorar, mas falhou.
— Não seja insolente! Isso é desacato. Estamos falando de algo sério aqui. — Woody bebericou seu café, revirando os olhos ao ver Anteros levantar o indicador, e solicitar permissão para falar.
— Em primeiro lugar, você não pode interrogar dois ado... — novamente ele prendeu uma risadinha, intimamente trocada com Eros. — Dois adolescentes sem motivo aparente. Éramos os únicos por perto. O que isso significa? Nada. Jamais faríamos algo assim, e se quer nos interrogar, que chame nosso pai e um advogado. Ou o nosso pai, já que ele é advogado.
— Vocês sabem que se estiverem envolvidos dessa vez, não irão escapar? — Woody vasculhou as provas antigas das mortes e suspirou fundo. — Há uma estranha ligação aqui, aquele celeiro, era utilizado pelos antigos moradores no armazenamento de alimentos.
— E há quanto tempo não fazem uma manutenção, xerife? O prefeito sabe disso? Quem são os órgãos responsáveis? — Eros indagou, enquanto seu irmão bocejava, demonstrando tédio.
O xerife pensou por um tempo, realmente ainda não havia levantado esse questionamento. Estava tão pressionado por sua família e pelos moradores para prender os "foras da leis" que na primeira oportunidade, sempre jogava a culpa em alguém. Mas não desta vez, esses garotos não são amadores.
— A única coisa que poderia atear fogo naquele lugar seria o fogo do rabo de Eros. Tirando isso, nada mais. O que a perícia constatou? — Anteros questionou, fazendo Woody estreitar os lábios. Jamais tinha visto alguém naquela idade demonstrar tanta desenvoltura com um assunto desses.
— Bem, eles ainda não entregaram nada... Estão analisando. — Woody suspirou fundo, observando a incrível semelhança nos dois rapazes de olhos azuis, peles brancas e cabelos claros como a neve. Essa família é bem estranha, pensou.
— Com licença, — Ares abriu a porta e adentrou junto ao promotor de justiça. — Você não pode interrogar dois jovens sem base nenhuma. Sem intimação, e principalmente na ausência de um advogado. — Saiam, rapazes. Eu darei um jeito nisso.
Eros e seu irmão se levantaram na mesma hora, saindo da sala de interrogatórios e dando um leve adeus para o xerife que se enfurecia ainda mais. Ele sabia que os jovens tinham uma ligação com os fatos. Por que Eros sempre aparecia quando algo dava errado? Woody iria descobrir.
— O que você fez desta vez? — Ares sibilou, concentrando sua raiva no deus do prazer, pegando os dois de surpresa. — Anteros, por que não compareceu na hora que mandei? Eu odeio esperar, se fosse para trabalhar com incompetentes, eu teria contratado humanos.
— Ei, por que eu sempre sou o culpado? Não fiz nada. Por que iria atear fogo naquela droga? — Eros defendeu-se, enquanto o deus da guerra suspirava fundo.
— Parece que conviver com os humanos está mexendo com a cabeça de vocês. Lembrem-se que temos nossas obrigações. Não podemos brincar de casinha e ser uma família feliz. Isso não existe. Jamais existirá. É algo criado pelos humanos, para diminuir sua inutilidade nesta terra. — Quanto à você, Anteros. Vá para o carro agora.
Eles se despediram e Anteros caminhou até a saída. Era notória a raiva de seu pai, ele sempre fora conhecido como impulsivo, destemido, mas ninguém conseguia acalmar Ares em dias difíceis.
— Papai... — O deus iniciou, antes que Ares se retirasse completamente da delegacia. — Quem é Sophia?
Ares que já estava de partida, parou no mesmo instante. Sendo inundado pelas lembranças daquela mulher cor de ébano que roubara sua sanidade e seus desejos mais intensos, que havia transformado sua vingança em uma paixão avassaladora. Ah, Sophia. Doce Sophia... Ares girou os calcanhares e encarou seu filho mais velho com uma fúria inexplicável.
— Nunca mais fale esse nome, não o repita. Você está me ouvindo? — Ares o segurou pelos ombros, fazendo Eros se sentir uma criança levando um sermão. Ele apenas assentiu, querendo se livrar o mais rápido possível daquele ataque de fúria.
— Querido... — Afrodite repousou sua mão delicada e macia no ombro dele, como se pudesse enviar uma dose extra de calmante, talvez até um hormônio da felicidade. Fora instantâneo o poder do toque dela. — Solte-o, agora. Ele é só uma criança.
Ares assentiu, com certa relutância soltou seu filho, fazendo Anteros surgir novamente.
— Papai, por que está demorando? — Afrodite sorriu ao ver o filho e o abraçou.
A deusa do amor não gostava de sair de seus aposentos, ou até mesmo de seu templo. Mas sempre estava prestando atenção em cada passo que eles davam. Principalmente Eros, que estava começando a busca por segredos que jamais deverão ser revelados.
— Eros, querido. Você está bem? — Afrodite o envolveu num abraço e ele assentiu, alegando que estava tudo bem, somente para confortá-la.
A deusa estava usando um lindo vestido de cetim que chamava bastante atenção para sua pele macia e clara. As pessoas não paravam de olhá-la, nem mesmo os policiais. Ela sabia o efeito que causava, por isso não gostava de estar sempre junto dos humanos, apenas os observava de longe.
Ares ajustou seu terno e saiu em disparada, indo diretamente para o carro. Por que Anteros sempre sabia mais das coisas do que ele? Qual o problema que seu pai tinha? Será que o odiava?
— Não. Ele não te odeia, Eros. — Afrodite passou a mão delicada no rosto do filho, conseguindo ler as emoções dele, enquanto o motorista buzinava, chamando sua atenção. — Mas ele parecia bastante irritado. O que vocês estavam conversando?
— Eu perguntei se ele conhecia Sophia. Mas ele ficou alterado, não parecia ser a mesma pessoa. — Eros pôs as mãos nos bolsos e suspirou fundo.
— Você não deveria estar mexendo nesse assunto, Eros. Por que o interesse repentino sobre a vida do seu pai? Eu já disse, ela é só uma humana, como qualquer outra. — Afrodite garantiu, fazendo Eros concordar que talvez esteja ficando obsessivo com esse assunto.
Os dois saíram de mãos dadas da delegacia e foram para o carro. Adentrando em silêncio, Eros recostou sua cabeça no vidro e observou as pessoas. Ao passar pela sorveteira, pediu para que o motorista parasse e observou uma figura peculiar, caminhando até ela. O carro deu partida depois que ele saiu.
— Anelise! — Eros anunciou exasperado, chamando a atenção de todos para a garota.
— Pare o carro agora! — Ares ordenou, forçando o motorista a dar uma freada brusca, fazendo com que todos segurassem com firmeza no banco.
O deus da guerra saiu correndo em direção à garota que tranquilamente caminhava com seus fones de ouvido. Todos ficaram no carro surpresos com a reação de Ares, sem entenderem nada.
— Sophia? — questionou esperançoso, naquele momento seu coração traía sua razão.
— Como? — Anne questionou, fazendo Ares não disfarçar sua expressão de insatisfação e tristeza.
— Desculpe-me, acho que a confundi com outra pessoa. Perdão. — Constrangido, ele passou a mão em seu cabelo castanho, sem saber como iria se explicar.
Obrigada pelas 13 mil leituras 🏹✨
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Eros Caindo em Tentação (Concluído)
FantasyEros é o deus do prazer, filho mais velho de Afrodite. Vaidoso, egoísta e narcisista, o deus estava cansado da mesmice. Por isso, resolvera agitar a vida dos moradores de uma pequena cidade regada por tabus e conservadorismo. Lançando uma onda de pa...