Capítulo 16

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— Parem com isso! — Susan gritou com lágrimas nos olhos, estava desesperada com o caos recém instalado.

— Reaja! Deixe que os cidadãos de Lovedale vejam o que se esconde por trás dessa batina de mau caratismo! — Robert sorriu desdenhoso, provocando o padre que manteve sua postura impecável.

— Eu não vou te bater, Prefeito Carter. Sou contra a violência. — Joshua pronunciou cada palavra de forma ímpia, abrindo os braços e com um sorriso no canto dos lábios. — O que os cidadãos vão pensar sobre alguém na sua posição agredindo um padre?

Boa jogada

— O que você está fazendo aqui? Com a minha mulher desse jeito? — Robert pôs as mãos nos cabelos, tentando não socar o padre. Ele estava certo. Pegaria muito mal para o prefeito agredir um homem de fé.

— Eu liguei para o Joshua porque você é um cretino! Não aguento mais suas traições. Bebi e perdi o controle, disquei o primeiro número da minha agenda! Nem todo mundo é que igual a você! Vim em seu gabinete fazer uma surpresa, melhorar nosso casamento com sexo, mas você está com outra! — Susan fungou, fazendo Robert acreditar em seu teatrinho.

— Perdão, padre. Perdão. Eu pensei que... Céus... O que fiz? Te machuquei? — Robert foi em direção ao padre que quase sorriu ao notar a astúcia da primeira dama.

— Estou bem. Irei dizer que foi uma tentativa de assalto. Não gosto de mentir, prefeito. Mas acho que não seria bom para a sua imagem se eu contasse a verdade. Não queremos que você seja deposto de seu cargo, certo? — Joshua encarou o homem que apenas assentiu freneticamente.

— Claro, claro. Seria prejudicial para os negócios. Me perdoe, padre. Em troca irei aumentar a verba para a educação e saúde, irei tirar da gaveta alguns projetos. Me perdoe. Se nos der licença, eu e a primeira dama precisamos conversar. — Ele forçou um sorriso, enquanto Josh em sua postura impecável retirou-se da sala.

Foi naquela noite, que Susan notara que ganharia um aliado. Ela deu uma piscadela antes de Joshua fechar a porta e os deixar sozinhos. A secretária, não tirou os olhos de seu computador. O que fez o padre questionar, quantas vezes esse tipo de coisa acontecia neste gabinete.

Refletindo um pouco sobre suas atitudes, Josh percebera que a chegada do prefeito era um bom presságio. Se o homem não tivesse chegado, o que mais poderia acontecer naquela sala?!

[...]

    Eros e Anelise se despediram sem trocar aquelas farpas tão comuns nos estranhos e poucos encontros deles. Anne sorriu e acenou para o deus antes de adentrar em seu alojamento. Ela estava mais leve, descontraída, era isso que sorvete de morango fazia com seu organismo. Transformava o dragão em princesa em algumas colheradas.

O deus jamais iria admitir a sensação diferente que sentira ao ouvir Anelise contar piadas bobas e sem sentido, que no final das contas, era quase impossível não rir junto. O que essa humana tem de diferente por trás daquele humor ácido e cachos com cheiro de coco?!

— Está apaixonado pela humana, Eros? — o motorista questionou, tirando o rapaz de seus pensamentos.

— O que disse? — Eros afastou a cabeça da janela e ajustou a postura no banco traseiro, fitando o reflexo do homem através do espelho.

— Você está apaixonado pela humana? — Repetiu sem cerimônias, conhecia os pais do deus antes mesmo do nascimento dele. Era um amigo de confiança de Ares.

— Eu não me apaixono por ninguém. Sou apaixonado pelo sexo, pela jovialidade humana. Anelise é só uma garota que gosto de conversar às vezes, nada mais. — Respondeu sem tanto interesse, observando as nuvens que tocavam a janela do carro. Em breve ele estará em casa.

— Nunca se apaixonou por alguém? O deus da sexualidade, filho da deusa do amor, nunca se apaixonou? — Questionou de forma pacífica, era apenas curiosidade.

Eros não lembrava bem qual o nome do motorista, sabia apenas que ele era um deus menor, mas completamente leal ao seu pai. Poderia não lhe responder, apenas ignorar. Entretanto, aquele papo parece manter a cabeça dele em alguma coisa além daquele encontro.

— Eu não posso me apaixonar. A paixão é efêmera e prejudicial. Já vi o que ela faz com os humanos. Mamãe não dá trégua para eles. É inevitável sofrer. E, sinceramente, eu prefiro um relacionamento casual do que alguém mentindo sobre me amar. Acho justo quando os humanos fazem isso. Mas todos são mentirosos e usam os sentimentos para benefício próprio. E não. Eu nunca me apaixonei por ninguém, e não irei. — Eros revirou os olhos, seu humor havia mudado rapidamente.

O motorista assentiu e não quisera mais tocar naquele assunto. Afinal, ninguém gosta de ver o deus conhecido por brincadeiras e caos com raiva, não é mesmo?!

Ao adentrar em seu quarto, Eros deitou-se em uma sua cama macia e observou a decoração neoclássica. Tudo era dourado e vermelho. Carpete, cabeceira, espelhos, molduras. Tudo era impecável e brilhoso. Pronto para o prazer. Mas, por que ele sentia uma necessidade estranha de fugir daquela vida? Por que a vida dos humanos lhe ganhava tanto. Conquistava sua atenção com seus problemas mesquinhos?!

— Eros? — Afrodite batera na porta entreaberta, além de pensativo, ele também estava esquecendo fácil das coisas, como o simples ato de fechar a porta.

— Mamãe. — Sorriu ao vê-la tão bonita, como sempre.

— Está tudo bem? Você parece um pouco abatido? Cadê o sorrisinho de quem pode estragar uma cidade inteira com algumas flechadas? — Ela sorriu e seu filho fez o mesmo, não resistindo àquele ato. — São os humanos, não é?

— Não necessariamente. — Eros passou a mão no cabelo e sorriu. — Ultimamente as coisas não estão me satisfazendo do modo que eu desejo. Estou entediado e odeio isso. — Ele afundou-se entre os lençóis macios e almofadas.

— Anime-se, amanhã é uma data importante no mundo mortal. É o nosso dia, querido. Vamos trazer um pouco mais de paixões. — Afrodite sorriu novamente para o filho.

— O que tem de especial amanhã? — Forçou a memória, mas nada vinha, curvou seu corpo na cama e olhou com atenção para a deusa do amor.

— É Valentine's Day. Dia dos namorados para os mortais. Está na hora de espalhar um pouco de caos amoroso por aí. Você vem?

— Claro, mamãe. Eu não perderia por nada! — sorriu desinteressado, sabendo que poucas coisas o deixavam feliz. Mas, esta era a melhor delas.

Eros Caindo em Tentação (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora