Capítulo 60

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— Tudo bem então. — Eros suspirou fundo, sentou-se na cadeira de Anelise e passou a mão em seu cabelo, olhando-a atentamente. — Pronto. Já pode começar.

— Começar o quê? — questionou apreensiva, notando  que havia seriedade na voz do cupido.

— A me pedir desculpas. Estou esperando. Você primeiro. — Eros sorriu malicioso, se divertindo com a raiva estampada no rosto dela.

— Você é inacreditável! — Anelise pegara uma folha amarelada e após fazer uma pequena bola de papel, arremessou nele. — Mande o seu irmão abrir essa porta agora!

— Ele não está aqui e isso não é culpa minha. Acho que foi completamente desnecessário fazer isso. — O deus levantou-se e ajustou seu terno, suspirando fundo, analisando somente agora a roupa de Anelise.

O vestido dela era marrom com pedrinhas brilhosas, seu cabelo estava bem arrumado e os cachos estavam em seus ombros. A maquiagem quase natural, sem extravagâncias. Ela estava linda e sequer fazia esforço.

— Bem, você me expulsou da cidade. Da sua vida... Eu sempre insisti. E mesmo assim, você fugia e depois me procurava novamente. Incontáveis vezes e em todas elas. Eu estava lá. Você fode o meu psicológico, e não da maneira que eu gostaria. Se fosse do meu jeito, nós dois já estaríamos sem roupa e não importaria se depois disso nunca mais nos víssemos. Porra, Anelise! Você me faz perder o meu orgulho! E eu me odeio ainda mais por gostar disso.

Anelise virou-se lentamente, observando Eros apoiar-se em sua mesa, esperando qualquer resposta dela. Mas nada saía. Ela não conseguia falar sobre seus sentimentos para ninguém. O deus suspirou fundo após minutos de silêncio, denotando a sua impaciência e frustração.

— Espere. — Eros caminhava em direção a porta, mas a voz de Anelise prendeu a sua atenção, fazendo-o virar e refazer seu caminho na direção dela. 

— Bem, eu... — Anelise buscava as palavras certas para dizer. — O que você quer de mim? Acha que não fez o bastante? Eu confiei em você. Senti falta da sua amizade todos os dias, do seu carinho, de te encontrar depois das minhas aulas na faculdade. Você era o meu apoio nos momentos em que eu achava que não iria aguentar. Pois, eu sempre soube que quando precisaria, te encontraria no meu quarto. Na minha bagunça. E me sentiria em paz.

— Anelise... — Eros aproximou-se tentando limpar uma lágrima solitária e brilhante que escorria pelo rosto dela.

— Eu não acabei. — fungou, controlando a própria voz para que o choro não estragasse seu discurso. — Mesmo depois de tudo aquilo, em vão pensei que poderia ocupar aquele vazio que você deixou. Foquei no trabalho, tentei fazer amizades, mas nenhuma delas era tão irritante quanto você. —  Os dois sorriram brevemente, trocando olhares duradouros, transcritos além das palavras. 

— Me desculpe por ter mentido, por fingir ser outra pessoa. Como eu iria contar que me transformei em uma mulher só para me aproximar de você? Isso não parece nada aceitável para a lógica humana.

— É, faz sentido. Desculpe por não ter respondido a sua carta. Eu não sabia o que dizer. Você me deu um fora! — Os dois sorriram novamente e Eros acariciava a bochecha dela que fechava os olhos, entregue ao toque macio dele. — Quando a sua mãe me contou que tinha colocado a maldição em mim, eu entendi que você não tinha me acertado com suas flechas, demorei um pouco para...

— O quê? — Ele soou exasperado, e neste momento Anelise entendia que isso também havia sido uma confissão da deusa do amor.

— Eu não acredito que ela fez isso! Eu vou... — Eros suspirou fundo, fechando os olhos e contando até dez.

Eros Caindo em Tentação (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora