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POINT OF VIEW LEOZIN

Entramos no motel e logo fomos pro quarto. Fui até o banheiro enquanto ela conversava com uma das amigas no telefone, avisando que iria demorar um pouco mais. Algum tempo depois ela aparece no banheiro com um papel dobrado na mão.  

— Posso falar com você?
— Se isso na sua mão não for um exame de sangue dizendo que tá grávida, pode.
— Para, nem brinca com isso - Diz.
— Então fala comigo - Vejo ela encostar na pia do banheiro, ficando de costas pra mim.
— Sabe aquele meu professor? - Pergunta e eu concordo - Então, a uns dias atrás eu tinha que entregar um trabalho pra ele, lembra? Foi o dia em que você foi viajar e me buscou na aula.
— O dia que cê tava mó quieta e eu reclamei?
— É, então... Eu entreguei o trabalho pra ele e ele veio todo prestativo querer saber porque eu estava faltando, ele colocou a mão na minha cintura e apertou e aí depois disso ele deu um dez no meu trabalho sem nem olhar e anotou o telefone dele embaixo da nota.
— Eu não...
— Espera, eu não terminei - A voz dela engasga, indicando que ela ia chorar a qualquer momento - Hoje, ele me pediu pra ficar depois que todo mundo saiu, perguntou se eu tava bem e eu falei que não, mais que o que estava acontecendo não ia interferir no meu desempenho e aí ele começou a passar a mão em cima da minha, dizendo que não era só meu professor, que era meu amigo também e eu tirei a mão e aí ele levantou e chegou muito perto de mim - Nesse momento ela se vira de frente e vejo o rosto todo molhado de lágrimas - Ele disse que queria ir pra outro lugar, mais particular comigo pra que eu não visse ele só como professor, que queria que eu o visse com outros olhos.
— Porque você não me falou isso antes mano? - Puxo ela pra perto de mim.
— Eu fiquei com vergonha, com nojo, não sei dizer - Chora mais.
— A culpa não é o sua mano, ele é um babaca e pode ser preso por conta disso, a gente precisa...
— Não Léo, não precisamos fazer nada, por favor, esquece isso.
— Tá louca? Cê acha que eu vou deixar isso passar assim? Maria, isso é muito sério, ele é seu professor.
— Eu sei Leonardo, mas por favor, deixa isso pra lá, eu tô te pedindo - Me olha.
— Eu sabia que tinha alguma coisa estranha, você tinha que ter me falado no dia em que ele colocou o número no seu trabalho.
— Eu não sabia o que fazer Léo.
— Mais alguém sabe disso?
— Não e nem vai, por favor, não conta pra ninguém.
— Eu não posso não contar Maria, isso é sério.
— Por favor, se você ainda me ama igual diz, cê não vai falar pra ninguém.

Não disse nada, apenas continuei abraçando ela. Olhei o papel em cima da pia e percebi que era o trabalho dela com o número de telefone.

— Vamos comer nossas batatas? - Ergo o rosto dela - Já que a gente não namora mais, eu não tenho que dividir com você, então acho que vou comer tudo.
— Não vai não - Ela ri - Eu vou comer sozinha.

Observei ela sair do banheiro e então peguei o papel e guardei no meu bolso. Eu não ia deixar aquilo passar de jeito nenhum.

— É legal aqui - Ela diz assim que sai do banheiro.
— É, né? - Ri - Mais legal ainda quando a gente usa o quarto do jeito que é pra ser usado.
— Nem começa - Senta na cama. 
— Qual é Maria, vamos ficar de boa, a gente pode entrar em um acordo.
— O acordo é você ir pra sua viagem e eu ir pra minha, simples.
— Pois é, mas não seriam só dois meses, eu vou ficar pelo menos três semanas no Uruguai, então ia ser bem mais que isso - Explico - Eu te prometo que a gente vai pra Disney quando você quiser.
— Então nós vamos em Julho, com os meus amigos.
— Amigos? - Sento com ela - Achei que só iria você e as meninas.
— Não, vamos nós três, minha irmã, o Nathan, o João e o Victor - Ela diz os últimos nomes bem baixo, mais ainda sim eu ouvi.
— Cê tá de sacanagem com a minha cara, né?
— Não - Bebe o milk-shake - Léo, isso tá planejado desde muito antes de nós conversarmos.
— Não interessa Maria Eduarda, o João eu até tento aceitar, mas o Victor? Nem fodendo, você não vai.
— Você não pode tomar essa decisão por mim.
— Mano, você não é nem louca de ir viajar com essa cara.
— Essa escolha não é sua e nem minha, ele quis ir quando nós estávamos planejando e na época eu ficava com ele, então não vi maldade.
— Pois é, mas eu já tô até vendo os vídeos no Instagram dele te pedindo em namoro no meio do parque.
— Nossa, que viagem - Ela ri.
—Eu tô falando sério Maria, não dá véi.
— Eu não posso fazer nada - Come uma batata.
— Pode, não ir.
— Isso não é uma opção.

•••

Nós não fizemos nada, apenas comemos e conversamos. Não tinha mais chance de darmos certo, ela já tinha tomado a decisão dela e o melhor seria respeitar. Mas eu não ia desistir, eu ia dar um tempo pra ela pensar e ver que isso era idiotice, nós íamos ficar mais de dois meses longe, não dava pra aceitar mesmo. Ficamos uma hora mais ou menos lá e ela quis ir embora, então seguimos pra casa da Carol.

— Então é isso - Ela diz - Valeu pela carona.
— Espera - Digo - Vamos conversar.
— Não tem o que conversar, nós vamos só ficar discutindo e eu vou ficar com raiva de você.
— Eu não vou falar mais sobre isso, já entendi que você não vai ceder e eu também não vou - Pego na mão dela - Mas não sei, nós continuamos amigos, né? Então sei lá, não vejo o porquê de a gente não ficar às vezes e...
— Léo, não é assim - Diz - Eu acho que nós dois não vamos dar certo, não combinamos em nada e sei lá, eu não quero ficar nessa de só ficar, meu coração não aguenta isso.
— Então não termina comigo, você me ama, eu te amo e pronto.
— Só amor não sustenta relacionamento Léo, você sabe disso.
— Eu sei Maria, mas eu mudo, eu melhoro no que você achar que eu preciso melhorar.
— Eu não quero mudar você, cê é perfeito e eu sei que cê vai achar alguém que é perfeito pra você.
— Você não entende que você é essa pessoa? Maria, eu lembro da primeira vez que te vi, eu tava chegando na aldeia e você saindo mó escondida atrás do teu amigo e assim que eu percebi que você era diferente, eu sei que você me viu e se escondeu e mano, se fosse outra tinha partido pra cima de mim sem dó. Você nunca quis nada meu, sempre respeitou o meu espaço, a minha privacidade, me viu além do que eu mostro pras pessoas, você não viu o Leozin, você viu o Leonardo que deixa toalha molhada em cima da cama e não sabe nem cortar um pedaço de carne direito, cê conheceu o meu lado bagunceiro, meu lado preguiçoso, meu lado mal humorado... Você conheceu todas as minhas versões e amou cada uma delas e da mesma forma eu fiz com você - A encaro - Eu conheci o seu lado mais quieto e o seu lado mais safado, conheci a Maria que adorava ir pra escola e a Maria que deixava de ir pra escola pra ficar dormindo comigo, te conheci vendo você mentir ridiculamente bem pros seus pais, mas também conheci a péssima mentirosa que você é quando é pra falar comigo.
Conheço a Maria que canta slow mo na mesma empolgação que canta lazer de chefe. A garota que tem vergonha de pessoas estranhas e é a mesma garota que bate boca com qualquer pessoa que fala de mim. Eu te conheço como a palma da minha mão, sei de cada coisa que te agrada, que te arranca sorrisos, que te faz gemer e da mesma forma você me conhece, sabe do que eu gosto, sabe o que me irrita - Pego nas mãos dela - Maria, nós temos tudo pra dar certo.
— Nós tínhamos - Da ênfase - Tudo pra dar certo, mais você preferiu achar que eu tenho que fazer as suas vontades, você quis me impedir de fazer uma coisa que é importante pra mim.
— Eu tô só pensando no bem do nosso namoro, você sabe que é muito tempo e tem muito relacionamento que não dura com esse tempo longe.
— Isso é o de menos, a gente ia dar um jeito, se você me ama tanto como diz que ama, ia me deixar viajar e íamos aguentar isso, mas você preferiu ser um babaca.
— Maria...
— Não Léo, chega - Abre a porta - Não me faz ficar pior do que eu já tô.

Ela tira a aliança do dedo e me entrega, então pega as coisas dela e desce do carro.

𝙨𝙚𝙪𝙨 𝙨𝙞𝙣𝙖𝙞𝙨 🥀• leozin mcOnde histórias criam vida. Descubra agora