Eu não deveria existir

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P.O.V. Camila

     Dois meses após o nascimento da minha filha,então eu finalmente pude segurá-la em meus braços.Foi uma sensação inexplicável, o amor tão intenso invadindo cada célula do meu corpo.
     Alice era o meu pedaço do céu, na Terra.O  mundo estava desmoronando ao meu redor, mas nada importava como aquele sorriso banguela.
      Lauren me mirava emocionada.
       -Posso?-Perguntou , apontando para a bebê.
       Aquele era o  momento entre mim e minha filha, mas Lauren não deveria ser excluída.Eu sei que era egoísmo , eu não desejar entregar a Alice...mas a vontade era ser uma canguru.
      -Só mais um pouquinho ,amor...eu já te deixo segurará-la.
      -Vocês podem levar a Alice para casa, mamães!!A cirurgia foi um sucesso, o coração dela agora é uma máquina.Podendo aguardar por um transplante no conforto do seu lar.-Arizona deu a notícia.

      Sorri para a minha esposa, enquanto passava a pequena para o seu colo.Foi então que recebi um lindo buquê de rosas de todas as cores.Que a minha esposa havia encomendado.

      -Lolo, você me presenteou com as flores só para sair com a neném nos braços!-Falei fazendo um bico.

      No corredor do hospital as rosas chamavam a atenção, muitas mulheres admiravam com inveja.Mas eu não me importei, eu saí resmungando com a Lauren...apesar do seu romantismo.

      Ao entrar em nosso apartamento, o cheiro de bebê impregnava o ambiente.O quarto, os móveis, as roupas e todos os outros itens de crianças, pareciam gigantes para a a miúda Alice, que beirava os dois quilos.

       A minha barriga pesada, anunciava que logo os irmãos pulariam para fora, a coluna resistia firme, apesar da dor.
      Nos primeiros dias recebemos a visita de Normani.A nossa amiga, comadre e agora advogada da minha mãe.
       Sinuhe foi realocada para uma clínica psiquiátrica, graças a defesa de Mani.
       A minha irmã retornou de viagem e após descobrir a verdade, me pediu perdão por todas as vezes em que me culpou pela separação da nossa família.
         -Sofia, você nunca foi tocado por Toni?
         -Não.Ele me tratava bem.Sempre me respeitou.Eu o amava.Quando você tentou suicídio, eu não acreditei que ele fosse o culpado.
         -É muito difícil acreditar.
         -Posso segurar a minha sobrinha?-Sofi falou mudando de assunto.
          Lauren parecia um gavião ao redor.Olhando atentamente, com os braços cruzados.
          -Ei, você precisa segurar a cabeça, assim-Mostrou- apoiando no antebraço...Cuidado com a bebê!!!

         A minha irmã ficou sem graça e passou a criança para mim.

         -Você quer segurar a Alice?-Lauren perguntou a Laura, que também estava na sala, observando a cena, sem dizer nada.
        -Sim.Por favor!!-Laura respondeu.

        O olhar da adolescente era vazio, como se a alma apagada pela tristeza vagasse em outro lugar.Nem mesmo o verde brilhante dos olhinhos da Alice animavam a garota.
         Logo, Laura devolveu a pequena e se despediu.Ela estava muitíssimo magra, com um semblante sofrido, parecia sem esperança de reencontrar o seu amor.
         -Ela é tão parecida com a Lauren!-Sofia falou.
         -Quem?A Laura?-Perguntei.
         -Não.Quer dizer...ela também.Mas estou me referindo a Alice.Na verdade ela se parece com vocês duas.Os olhos são dela, mas a boca parece com a sua.
         -Eu preciso te contar mais algumas coisas, Sofi...
          ***
  P.O.V Laura

Eu estava vagando pela cidade, em minha motocicleta, quando meus olhos cansados de chorar pairaram sobre aquela que destruira meu coração.Parei abruptamente.Deci e a segui até um restaurante.
     Karla estava trabalhando de garçonete.Ela não me viu, pois eu estava do lado de fora a sondando feito uma stalker.
     Quando vi aquele homem a abraçando por trás, senti a fúria tomar conta de mim.Aquele filho da puta.
     Entrei no estabelecimento a encarando firmemente.Ao notar a minha presença o rapaz se encolheu.

       -Olá, Karla!-Falei com a voz rouca.
       -Laura...como me encontrou?

       -Estou te procurando há dois meses e você aqui na cidade esse tempo todo.E ainda por cima está se envolvendo com esse enfermeiro babaca.
        -Ele é o meu noivo agora.-Karla disse, me alfinetando.
        -O Shawn já te contou...sobre a surra que ele levou da Lauren?-Indaguei com um sorriso sarcástico.
         -Não.Por que ela faria isso?-Karla perguntou, ingênua.
        -Porque ele era obcecado pela Camila.Enviava cartas, flores, presentes.E a Lauren pensou que fosse ele o pai dos bebês.

        Karla desabou em lágrimas.Enquanto isso o covarde saiu do local.

        -Essa mulher me persegue...Sempre quando acho que alguém está apaixonado por mim, descubro que é ela...o verdadeiro amor.Sou apenas uma sombra dela.

         -Karla eu sempre te amei,eu não amo a Camila, eu amo você...além disso eu  preciso te contar algo...Você não é prima dela, é filha.

          -A minha mãe está morta.O nome dela era Maria.-A jovem respondeu sem acreditar em uma palavra do que eu disse.

          -Karla...nesses dois meses, muita história foi revelada...sobre você.Sinto muito, por te contar dessa maneira.Mas você não é filha biológica do Estrabão.Ele é seu avô.

        -Laura, você andou se drogando?-Karla perguntou seriamente.

        -Venha comigo!Você merece saber a verdade.A Camila precisa falar com você.-A guiei pelo braço até o local onde havia estacionado.

         Por incrível que pareça,Karla colocou um capacete e subiu na garupa, sentindo os braços da gatota em minha cintura, pilotei como uma doida, até chegar ao apartamento de Lauren.

         -Eu a encontrei!!!-Exclamei, mostrando a garota ao casal.

          Camila abraçou a filha mais velha, chorando muito.Karla parecia não entender o que estava acontecendo.

   Uma longa conversa sobre os Cabello e Estrabão, foi travada em poucos minutos.

Karla absorveu o conteúdo, tentando não surtar.

-Todo esse tempo, eu tinha uma mãe...que nem sabia da minha existência.Meu Deus eu sou um erro.Eu não devia existir...

Eu a abracei tentando confortá-la.
-Você não é um erro, meu anjo.Todas nós te amamos muito.

Camila e Lauren tentaram acalmar a menina.Mas, em vão.

-Toda a minha vida é uma mentira.Eu sou o resultado de um estupro, de um caso horrível de pedofilia.Eu nunca me odiei tanto.Eu quero morrer.

Karla se aproximou da janela e eu a segurei pela cintura.

-Calma !Karla você precisa tomar um medicamento.

Lauren entregou um tranquilizante a enteada e um copo d'água.Ela bebeu e sentou no sofá.

-Amor, eu quero que você volte pra mim.Me deixe cuidar de você!-Falei acariciando as mechas que caiam sobre seu rosto tristonho.

-Eu não posso.Preciso de um tempo para digerir todas as informações...por favor me deixe em paz.-Falou, caminhando até a saída.

-Eu te levo até o seu trabalho novamente.-Comentei.

-Eu chamo um Uber.-Ela falou realmente decicida.

-Karla, você vai ficar bem?-Perguntei, preocupada.

Ela apenas acenou com a cabeça, parecendo um sim.
          
          
      
  

    

Segredos obscuros (Em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora