Segredos obscuros (Em revisão)

Livro 2-Início

Angelica transmitia paz, parecia se comunicar por meio do olhar, como se conseguisse compreender os sentimentos alheios e quisesse dar fim a tristeza da humanidade.

A garotinha demonstrava calma, emanava uma energia positiva e estar ao seu lado elevava o espírito.

Essas características herdadas de Lauren foram potencializadas, e por alguma razão, a mãe não conseguiu produzir leite o suficiente para alimentá-la, a fome era insaciável, precisando recorrer à fórmulas.

--Você reparou muito na Laura!Por isso a nossa filha é tão esfomeada.

--Ela puxou você, Camz!

A pequena sorriu, com o meu comentário,um mês e já apresentava senso de humor.

--Eu posso jurar que ela entende cada palavra que eu digo!

--Lauren, você sabe ...isso é cientificamente impossível.São apenas espasmos.

--Ela é diferente, Camz.Posso sentir!

Devido à licença maternidade, acabei recusando o cargo de coordenadora, indicando Camila; resumindo minha esposa e ex aluna, agora era a minha superior.

--Estou indo para o trabalho, vou levar os nossos filhos para a escola, não esqueça de me enviar mensagens bem carinhosas, ok?Eu nem saí e estou com saudades.--Camila falou, beijando meus lábios ,fazendo um beicinho em seguida.

--Eu também sinto a sua falta, meu amor!Espero que goste do seu novo posto e que pense em mim o tempo todo.

--Lo, se eu pensar em você a todo instante, não farei um bom trabalho, estarei dispersa... Eu te amo mais que tudo nessa vida, não esqueça!Logo estarei de volta!

Saí com a pequena à caminho do hospital, ela precisava tomar vacina e fazer alguns exames, o pessoal do Instituto Rocket foi super atencioso, ela parecia uma celebridade.

Por razões éticas a pesquisa não foi divulgada pela imprensa, nossa vida mudaria completamente se ficássemos famosas e não desejávamos isso.Nossa família havia passado por tantos problemas, não merecia ser perseguida por fanáticos ou ter a intimidade invadida por quem quer que fosse.

--A sua filha demonstra reflexos surpreendentes e algo misterioso, difícil de identicar.--Disse um médico realmente estranho, parecia manco de uma perna.

--Ela é esperta e saudável.Estamos liberadas?

--Sim.Mas se desconfiar de algo me procure, sou o dr.House, aqui está meu número.

Angelica poderia revolucionar as questões ligadas a gênero e diversidade ou simplesmente crescer no anonimato; a segunda opção me parecia mais segura.

Será que ela tinha algum tipo de missão?Eu não compreendia os motivos de ter um bebê incomum, nem mesmo sabia se de fato ela possuía algum dom.

--Ei meu amorzinho, como consegue ser assim tão linda?

Ela sorriu, me olhando profundamente e passou a mão em meu rosto.

Eu devia sentir medo, todavia a ternura tomou conta de mim, ela se comunicava pelo amor.Eu entendi , ela estava me dizendo "Eu te amo, você é linda, mami!"

Eu me senti tão bem, Deus havia me enviado o anjo mais perfeito de todo o céu.
***

--Camz, você não vai acreditar, eu ouvi os pensamentos da nossa filha.

Os trigêmeos brincavam no tapete da sala, e Camila estava cozinhando algo; muito cheiroso por sinal.

--Oi Lau, eu não entendi direito o que você falou, venha até a cozinha.

Repeti a frase e ela pareceu perplexa.
Então entreguei a bebê em seu colo, e pedi que focasse em seus olhinhos.

--Pense em algo, Camz.Alguma coisa que só você sabe.

***
(Camila)

Lauren estava obcecada pela nova integrante da família, comecei a pensar que estivesse ficando variada, mas acatei seu pedido.

Mentalizei um filme , assistido no último ano da faculdade, "Preciosa" e o quanto o drama me afetou porque eu me identificava com a personagem principal.A vontade de chorar era imensa, mas ao sentir a mãozinha da Angel, toda a minha angústia se desfez em segundos e ela adormeceu.

--Pelo seu rosto, já imagino em que pensou...Vou colocar a bebê no berço.

--Eu acredito em você, Lauren.Ela é milagrosa.Só espero que ela não sofra por ter esse poder.-Falei apreensiva.

Eu senti meu corpo esquentar, nunca me senti tão feliz, era como se toda a dor que eu sentia fosse levada embora.

--Amor, vamos comer!Eu preparei lasanha.Ah e convidei as meninas para virem aqui.

--Que bom.E como foi no trabalho?

--Foi legal.Não é a mesma coisa sem você.As horas demoram a passar.

Laura e Karla chegaram, pareciam chateadas com algo.
Perguntei o motivo e minha filha mais velha derramou centenas de lágrimas.

--Eu sou estéril.

--Tem certeza, filha?

--Sim, fiz diversos exames e não produzo gametas.

--Ka, hoje existem outros caminhos, podemos tentar uma doação de óvulos, eu posso doar, ou alguma outra pessoa da família...Ou ainda pode recorrer a adoção...Mas sério meu anjo, termine a faculdade antes.

Limpei o rosto da jovem.

--Falando em criança, como está a Alex?

Laura se manifestou, abrindo um largo sorriso.

--Ela vem passar as férias de julho conosco, estamos ansiosas.

--Que máximo.E a Avril vem também?

--Eu vou apanhar a menina no Canadá.Ela vem buscar, após um mês.

--Será bem interessante essa experiência, vocês vão adorar.

Karla mantinha o semblante infeliz, aparentando inveja da ex de Laura, por ter gerado um bebê.

Minha menina nem tocou na refeição, saindo da mesa após alguns minutos.
Sentou no sofá, brincando com os irmãos, sem esboçar alegria, de forma mecânica.A segui e tentei animá-la.

--Sabe o que me deixa mais frustrada, mãe?

-O que?

--Qualquer mulher engravida da Laura, menos eu.Estou destinada a vê-la paparicar os filhos de outras...Me sinto tão inferior, menos mulher.

A abracei, mesmo sem saber o que dizer, eu me incluía nessa lista, relevei por saber o estado crítico de Karla.

--As coisas não acontecem quando nós desejamos, tudo tem seu tempo.Você não quer ter um filho, isso aí é ego ferido, minha linda!É insegurança, Karlinha.A sua mulher te ama, coloque isso nessa sua cabecinha oca.

Achei que a pimentinha ia discutir comigo, contudo ela apenas balançou a cabeça em sinal afirmativo e abraçou minha cintura, parecendo ter aceitado o sermão.

Seguimos até a cozinha e Laura a abraçou por trás, toda alegre.

--Não falei pra você?!Essa aí te ama muito.