Segredos obscuros (Em revisão)

Pombos

      Eu sempre tive nojo dessas pragas urbanas chamadas pombas; símbolo da paz?Uma grande mentira!Pra mim se comparam a ratos com asas, vetores de doenças como a criptococose , a zoonose que levou o meu menino.
      "Meu filho amado, eu nem pude me despedir, se soubesse que você partiria tão cedo..."
        As lembranças do corpo dentro do caixão branco, sendo enterrado, levando embora a juventude e sonhos do meu príncipe, me causou um desespero gritante, mas eu me calei, engoli o choro como sempre faço.

       --Lauren, meu amor, por favor você precisa reagir, faz uma semana que você não sai da cama.Estou preocupada com sua saúde.

       --Camz, eu só quero sumir!Eu desejo nunca ter existido!!Perdi parte de mim com a morte do Dudu.E eu nem ao menos fiz as pazes com ele, o julguei, virei as costas para o meu garoto.

     Essas palavras saíam com dificuldade, eu sentia culpa por não ter perdoado o Eduardo por ele ter abandonado a Avril e a filha dela.Eu era culpada por tê-lo tratado com frieza em seus últimos momentos.
     Agora eu sabia o real motivo dele ter agido feito um idiota, afastar a mulher para que ela não sofresse ao vê-lo cuspir seus pulmões e perder sua visão aos poucos, até enfim deixar essa vida.
      O Eduardo sabia da sua doença, por essa razão se enfiou em um monastério até suas últimas batidas de coração.Foi tolo, orgulhoso, até mesmo malvado por ter nos privado da sua presença.
      Se eu o tivesse procurado, não estaria me sentindo assim, talvez eu seja mesmo uma péssima mãe.
No entanto a responsabilidade por boa parte da criação dele não foi minha, mas do pai dele.
      Rever o Roberto após tanto tempo, no velório e enterro do nosso filho, foi como mastigar uma comida digerida pelo estômago que volta a boca, a pior sensação do mundo.
      Ele parecia não acreditar em seus olhos, seu único descendente estava falecido.Nem ao menos trocou uma palavra comigo ou com Camila, pra ele, nós éramos as responsáveis por algum tipo de punição divina.
***
       Minha linda esposa se aproximou, carregando uma das meninas no colo.
       --Lolo, eu trouxe a nossa bebê para ver se você se anima um pouco, ela está querendo mamar.
        Angelica sugava o leite suavemente, transmitindo um pouco de tranquilidade para meu espírito abatido.
       Aquele sorrisinho banguela em conjunto com o olhar brilhante me hipnotizaram por alguns minutos, porém logo a criança dormiu, então deitei de lado, apoiando a cabeça da menina em meu braço e me juntei a ela em um sono profundo.

         Meu garotinho de olhos verdes corria em minha direção, em um lugar tão lindo, com flores coloridas por todo o lado, vários animais muito mansos brincando uns com os outros, além de um céu tomado por tons de laranja, com certeza era o paraíso, quando finalmente consegui abraçar o meu filho, meu corpo esquentou com tanto amor, eu sorria e derramava lágrimas ao mesmo tempo.
       --Mãe, eu não quero ver você triste.Eu te amo, por favor me prometa que vai se cuidar!
       A aparência do Dudu era de quando ele tinha sete anos, o que me deixou intrigada, porque ele morreu aos 23.
       --Eu prometo, meu bebê!
       Abracei novamente meu rapazinho, cheirando o topo da cabeça dele.

       Acordei com a luz forte no meu rosto quase me cegando, as cortinas estavam abertas, entrando claridade por todo o cômodo.
       --Vamos levantar Bela adormecida?!Você está dormindo há doze horas.
        --Onde está a Angelica?Eu dormi com ela no meu braço.
        --Angelica?Quem é essa?-Camz perguntou com uma expressão de estranhamento.
       --A nossa filha.Não tem graça, Camila.--Eu sabia que ela estava brincando.
       --Lo, ela está no berço.Quando você dormiu, eu peguei ela do seu colo.Ahh e os nossos trigêmeos estão na escola, caso você se importe com eles.
       --Claro que eu me importo, eu amo a nossa grande família.Agora, por favor, me deixe levantar, você está sobre as cobertas!

        --Que bom que está melhor.Eu preciso voltar ao trabalho, mas se precisar de algo, qualquer coisinha, me ligue.-Falou me olhando bem de perto, com um jeito preocupado e amoroso. Sentando em meu colo, colocando as pernas uma de cada lado.
         Beijei rapidamente em um selinho aqueles lábios ternos, me despedindo da minha super mulher.
        Eu me sentia capaz de lutar, de me reerguer, e a primeira atitude foi tomar um banho demorado, daqueles que lavam a alma.
        Após me arrumar com um vestido de cor alegre, preparei um café da manhã caprichado, vesti a minha pequena e saímos para passear no parque, ela chamava a atenção de todos por sua beleza e alegria.
        Uma presença me chamou a atenção, não poderia ser outra loira roqueira estilosa.

        --Avril??O que está fazendo aqui?
        --Oi Lauren, eu vinha para o enterro, mas meu vôo atrasou, sinto muito!Espero que você e a sua família fiquem bem.
         --Estou melhor.Essa aqui é a bebezinha Camren.-Falei mostrando a Angelica.
        --Que linda, parece muito com você, mas tem a alegria da Camila.
E falando nela, fiquei super feliz em saber que ela aceitou o cargo de coordenadora.
         --E onde está a Alex?
         --Passei na casa da Laura, deixei com a Karla, ela pareceu animada em cuidar da enteada. A minha filha vai passar as férias aqui. No entanto eu estou indo embora hoje.
         --Que pena.E que tal um café antes de ir?
         A loira sorriu, aceitando o convite, então entramos em um local próximo ao parque.
        A conversa fluiu livremente, acabei contando o sonho que tive e ela se emocionou, parecia amar muito meu filho.
        Na hora de se despedir, Avril acidentalmente beijou minha boca em um selinho, causando uma tensão entre nós, quebrada por um pigarrear de Taylor Swift.
        Puts, se ela contar o que viu a Camila, estarei ferrada.
        -- Oi Lauren, não imaginava te ver aqui! Oi Avril!
         --Eu já estava de saída, com licença!--Avril falou fechando a cara.
          A professora de artes se aproximou, sussurou bem baixinho em meu ouvido
" Não pense que não percebo as coisas!"