Capítulo 18

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Dois anos depois

-Mirely, para com isso agora!- falei quando vi que a mesma estava passando a mão dentro da minha panela de brigadeiro e colocando na boca.

Ela deu um pulo para trás assim que ouviu minha voz e arregalou os olhos. 

-Mamãe.- apelou e eu revirei os olhos indo em direção a pequena pestinha.

-Mamãe o cacete e se você derrubar meu brigadeiro eu te mato!- quase gritei assim que ela começou a correr com a panela nas mãos e as pernas curtas.

-Olha a boca suja!- Ricardo me repreendeu com aquele sorrisinho e senti vontade de vomitar na cara dele.

Homem mais nojento.

-Não fala comigo, beleza? Tá muito cedo para minha pessoa se estressar e te quero a dez quilómetros de distância de mim. LUCRÉCIA!- gritei começando a me estressar, principalmente quando Ricardo sorriu debochado para mim.

-O que foi? Já te disse para não me chamar assim!- ela saiu do quarto e cruzei os braços olhando sugestiva e com raiva para o homem que estava a um metro de distância de mim. Assim que ela percebeu apenas sorriu de lado.

-O que ele está fazendo aqui, Lucrécia?!- enfatizei seu nome e ganhei uma careta em troca, mas logo depois um suspiro.

-Naty…- a interrompi assim que percebi o que ela estava prestes a falar.

-Lucrécia, eu já te falei que, quer ficar com ele mesmo ele te fazendo de trouxa e idiota, beleza?!  Aceito até ele vir aqui pra pegar a Mia para ficar o dia com ela, agora não trás ele para dentro da nossa casa Luh! Eu já tenho que aguentar ver ele te fazer de trouxa lá fora, aqui dentro eu não vou ok? Só vou falar isso mais uma vez, ou é ele ou sou eu. Agora eu vou da uma volta na praça e se quando eu voltar ele ainda estiver aqui eu vou embora, beleza?- não esperei resposta e me virei indo em direção a porta.

-Tia Nata, eu comer tudo?- olhei para a loirinha e deixei escapar um sorriso.

-Pode meu amor!- beijei a testa dela e logo depois sai do apartamento. 

Não demorou muito para chegar na praça e me arrependi por não ter trago a carteira quando vi um bolo de pote maravilhoso, chega salivei! Mas segui meu caminho até um banquinho longe da barraca antes que eu pulasse na mesma para pegar um.

Me sentei no banco e observei alguns casais andando de mãos dadas, outros olhando os filhos se sujarem e alguns adolescentes se pegando a essa hora do dia.

Sorri pensando no primeiro dia que cheguei aqui e no quanto estava perdida sem conhecer nada ou ninguém. Não foi nada fácil no começo, eu estava estressada, magoada, perdida e só sabia o endereço do apartamento que era dos meus pais, apartamento esse que divido com a Luh.

Conheci ela no restaurante onde a gente trabalha, fui deixar meu currículo lá e de brinde esbarrei nela que fez com que o suco que estava na mão dela cair todo na minha roupa.

Tinha acabado se entregar meu currículo para gerente e se não fosse por ele ser até que bom, duvidaria muito que ela fosse me chamar pela minha cara de simpática. Eu estava tudo, menos calma. Tinha adorado cedo sendo que não tenho nada para fazer, porque já faz três meses que estou nessa merda e não consegui emprego algum, além do fato de que estou com raiva de mim mesma por esta sentido saudade daqueles dois desgraçados!

Mas não seria para menos né? Praticamente fora meus pais eles eram as pessoas que eu confiava de olhos fechados e que cuidavam de mim. Agora estou sozinha e daqui a pouco enlouqueço de vez por não ter com quem conservar!

Estava saindo do restaurante quando esbarro em uma garçonete e a mesma derrama todo o suco de beterraba na minha blusa. Estava pronta para gritar com ela e colocar toda a minha raiva para fora, porque mesmo ela não tendo culpa de nada eu precisava brigar com alguém.

Mas assim que a mulher, aparentemente da minha idade, me olhou com os olhos arregalados e marejados só consegui ver uma mistura de tristeza, medo e mágoa. O que fez com que me sentisse pior do que estava.

-Me… me desculpa. Pelo amor de Deus, não faz nada comigo, eu posso comprar uma blusa nova para você, se quiser compro o look inteiro, mas por favor não fala nada para minha gerente, eu preciso desse emprego!- ela falou tudo de uma vez me deixando um pouco tonta.

Depois de deixar claro que estava tudo bem e que ela não precisava se preocupada, Lucrécia, que descobri seu nome a alguns segundos antes, começou a chorar me agradecendo e ali ela simplesmente se abriu para mim, estava tão desesperada para desabafar que contou sobre sua vida pessoal para o primeiro estranho que apareceu na sua frente.

E se eu pensava que minha vida estava ruim, a da Luh estava um verdadeiro inferno com tudo que tem direito.  Ela tinha uma filha de dois anos para cuidar e precisava daquele emprego para pagar o aluguel e sobreviverem, que vou te falar uma coisa, o salário que recebemos é pouco para pagar aluguel e manter uma criança além de si mesma. O pai da Mia, Ricardo, é um filho da puta que brinca pra porra com os sentimentos da minha amiga e no exato momento que conheci ela, eles estavam brigados porque ela recebeu uma foto de Ricardo beijando outra enquanto eles estavam juntos. A Luh até achou que era montagem ou alguma coisa do tipo, mas o próprio confirmou e colocou a culpa na bebida, já que ele tinha saído para beber com os amigos e não teve nem a decência de avisar a ela que iria chegar tarde em casa.

Lucrécia ficou com o coração partido e magoada pra porra, tanto que ela se desmanchou em lágrimas na minha frente. Depois desse ilustre acontecimento, Ricardo conseguiu outros, um pior que os outros e em todos, ela sai magoada e feita de trouxa. Se fosse para escolher entre Felipe e Ricardo, eu preferia ficar sozinha, não sei quem é pior dos dois.

Pelo menos eu senti o gosto de como é ser amada, porque além de receber amor do Felipe, mesmo que depois ele tenho mostrado tudo, menos que me amava, eu tinha o amor dos meus pais e do Rafa. A Lucrécia nunca teve ninguém, ela me falou que desde os 15 era ela por ela se quisesse sobreviver, depois veio a Mia e as coisas complicaram para ela. Ricardo nunca a amou, ele ama o corpo dela, só isso e nada mais e é isso que me deixa frustrada e com raiva, porque ela sabe disso, mas ainda fica com ele! 

Felipe e Rafael não tenho notícias desde que saí do morro e deletei todas as minhas redes sociais e mudei meu número de telefone. Não vou dizer que ainda os odeio, principalmente o Felipe, porque para falar a verdade já os perdoei, nunca fui de guardar rancor por muito tempo e sinto falta deles, principalmente quando estavam me paparicando. Só não esqueci do que eles me fizeram, o que o Felipe fez e se fosse para escolher onde ficar, preferia mil vezes ficar aqui. Onde não tenho a pressão de ninguém sobre mim e aquele morro só me lembra de tudo o que aconteceu.

Respirei fundo e senti o sol ficar cada vez mais forte, olhei a hora e era quase onze. Só eu mesma para me acordar às sete horas em pleno dia de folga para comer brigadeiro de colher! Mas fazer o que né? Acontece.

Me levantei do banco e comecei a andar na direção do apartamento, tô com fome e não trouxe grana fih!

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