Capítulo 33: Parte 5

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Depois de terminar o soro, já que o Rafael fez questão de chamar a enfermeira para colocar na minha veia novamente, saímos do hospital com ele a quase dois metros de distância de mim e não estou brincando não.

-Rafa?- ele me olhou desconfiado e arqueou uma sobrancelha.

-Qual foi?- perguntou se afastou mais um pouco.

-Quero hambúrguer com terra.- disse com a boca salivando de desejo e ele fez cara de nojo.

-Tá tirando com minha cara né?- neguei.

-Tô te falando a verdade, tu piveta que quer.- sorri debochada e ele sustentou o olhar, mas logo me puxou para uma barraca de frituras. 

-Tu tá ligada que não pode tá comendo essas coisa né?- indagou sério e preocupado quando nos sentamos em uma mesa.

-Já falei para você bringar com sua pi.ve.ta.- Tu falou mais alguma coisa? Porque ele não.

Depois de um tempinho nossos chances chegaram, peguei o meu e comecei a andar na frente enquanto ele pegava. Quando achei a terra se possível fosse comecei a salivar ainda mais.

-Tu vai fazer isso mesmo?- perguntou ao meu lado enquanto eu me abaixava para pegá-la.

Encarei ele mó serinha e o mesmo ficou calado com os braços cruzados me encarando. Peguei uma quantidade generosa de terra e coloquei dentro do hambúrguer, dando uma mordida logo após e senti como se estivesse no paraíso. Isso é maravilhoso.

-Levanta daí, rata sem sal. O povo tá tudo olhando.- olhei ao redor e senti meu rosto ficar vermelho de vergonha quando vi algumas pessoas nos olhando com expressões de nojo e surpresas.

Até que liguei o foda-se e me sentei no chão, Rafael me olhou incrédulo e se apressou em me levantar.

-O chão tá quente, surtada do caralho! Se levanta para não ficar doente, se essa terra já não fizer o trabalho né?- fala pra tu, levantei no ódio e voltei na barraca, nem tava quente meu. Abuso do caralho.

-Aê tio, me dá 15 X-tudo pra ontem!- o velho arregalou os olhos, mas tu acha que ele falou alguma coisa? Ele não é besta, vai tirar uma grana preta.

-Natacha tu não está fazendo isso.- disse baixo tentando tocar no meu braço, mas me afastei.

-Não toca em mim não fiote se não eu grito. Arrumo um barraco mesmo.- disse baixo também e me sentei em uma cadeira.

Rafael me olhou num ódio que tu não tem noção, mas paguei a louca mesmo e continuei comendo meu hambúrguer. Depois de meia hora o velho de meu os X-tudo e já olhei para o Rafael que estava com a cara fechada me dando cada olhada e era capaz de me matar.

-Ele vai pagar, fé aí!- apontei para o Leptospirose e comecei a andar.

Fui até uma rodinha de mendigos e assim que cheguei perto eles já me olharam desconfiados.

-Aceitam X-tudo?- perguntei com um sorriso simpático e eles ficaram me olhando um tempão até o que acho ser o mais velho falar.

-Por que tu tá querendo dá isso para a gente? Tá querendo nos envenenar?- já chegou com sete pedras na mão e me senti ofendida fazendo careta.

-Não fala assim comigo, morô? Queria irritar meu marido gastando o dinheiro dele, mas não queria com coisa fútil. Agora se tu não quer é só falar, eu dou a outra pessoa, otário!- já ia me virando para ir embora, mas senti uma mão na minha perna e parei.

Quando olhei para baixo vi uma mãozinha suja me segurando e foquei na garotinha de no máximo três anos de cabelos castanhos claros encaracolados e de pele cor chocolate. Estava magrinha e os olhinhos cor de mel estavam sem vida.

-Fome.- a vozinha saiu rouca e ela apontou para a sacola na minha mão.

Meu coração se apertou e minha garganta fechou. Meus olhos se encheram de lágrimas e levei minha mão a barriga, o que só piorou quando pensei que poderia ser meu pequeno ali. Senti o braço do Rafa passar ao redor da minha cintura e sua mão foi parar em cima da minha.

Porém me soltei dele e me sentei ficando na frente da bonequinha que me olhava cheia de esperança desviando o olhar para minha mão.

-Eu juro a vocês que não tem nada dentro dos X-tudo, se quiserem eu posso comer um na frente de vocês.- minha voz saiu falha enquanto eu acariciava o rostinho dela.

Olhei um pouco para o lado e vi um garotinho de 7 anos que não tirava os olhos da minha mão. 

-Não precisa moça, a gente tá vendo que você que dá de coração. Me desculpe pela forma como ele te tratou, mas da última vez que nos ofereceram comida ela estava envenenada e eles dois quase…- apontou para as crianças e respirou fundo, seus olhos cheios de lágrimas.-... morreram por falta de cuidados médicos já que o hospital não quis nos atender, a sorte foi uma senhora que estava com o neto doente e nos ajudou.- concluiu e o nó na minha garganta aumentou.

Olhei para as duas crianças e depois para o Rafa que já estava sentado ao meu lado. Sem pensar muito passei os braços pelo pescoço dele e escondi minha cabeça, com os soluços saíndo alto da minha garganta.

-Como alguém pode fazer isso, Rafa?- disse entre os soluços com a voz embargada.

-Tem gente com muita maldade nesse mundo, princesa.

Ficamos ali por muito tempo com ele passando as mãos pelas minha costas e no meu cabelo. Quando consegui me acalmar, o que não foi tarefa muito fácil, sequei meu rosto e olhei para eles com um sorriso de lado. Tirei os X-tudo da sacola e dei para eles, alguns ainda me olharam um pouco desconfiados, enquanto outros comiam com vontade.

A garotinha sorriu para mim e se sentou entre minhas pernas, se aconchegou e começou a comer com vontade. Olhei para a mulher e ela deu um sorriso de lado, devolvi e comecei a acariciar os cachinhos dela sentindo vontade de chorar novamente, mas me segurei.

-Aê vou comprar uma coca pra vocês e depois nos vai picar o pé, tu precisa descansar e tomar as vitaminas que nem compramos ainda.- assenti e ele me deu um selinho, se levantou e foi até a barraca.

Olhei ao redor e vi geral julgando com os olhos, me fazendo ficar com nojo desse tipo de pessoa. Cadê que vem ajudar? O mundo seria bem melhor se fizessem isso.

-Se quiser ir embora a gente vai entender.- o mesmo homem de alguns minutos atrás falou e o encarei.

-Tudo bem, não é de hoje que vejo esses tipos de olhares.- ele balançou a cabeça e ficamos em silêncio. 

No fim Rafa trouxe duas garrafas de dois litros de coca junto com os copos e deu a eles. Assim que me despedi deles senti mais lágrimas caindo e o Rafa me abraçou de lado.

-Eu sei que é triste, mas tenta se acalmar não faz bem para a piveta.

Não falei nada, apenas me encostei mais nele enquanto andávamos.

Envolvida✔Onde histórias criam vida. Descubra agora