Frustrada

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Terceira Pessoa

– Como você está?

O tom na voz da irmã foi o suficiente para que Lydia soubesse do que a mulher se referia. Lydia suspirou baixinho, a cabeça ferveu ao recordar-se de Henry. Já era ruim o suficiente precisar pensar nele o dia inteiro, e odiou que precisasse lidar com o assunto também dentro da família.

Ela passou uma mão pelo rosto, sentindo que o sofá abaixo dela era como pedras em seus músculos.

– Estou bem. – Mentiu. – Esqueça ele.

– Já fazem cinco meses, Lydia. – A voz da irmã insistiu, cautelosa. – Talvez você pudesse...

– Parar de falar dele? – Martin contrapôs rude, o estresse fazendo-a se sentar. Ela coçou uma sobrancelha, tentada a desligar o telefone e lançá-lo pela janela. – Chega, Katherine. Por favor.

A mulher do outro lado da linha bufou, e o silêncio compreensivo se estendeu. Lydia segurou o aparelho com mais força, desejando descarregar as emoções que a atingiam ao relembrar do ex-namorado.

Odiava o fato de que não só precisava superar os sentimentos por ele como também forçar a família a esquecê-lo. Para a infelicidade de Lydia, sua irmã adorava o homem de olhos claros que havia se transformado no fantasma da Martin.

Ela viajou nos pensamentos e em todas as lembranças que inundaram o corpo, voltando para a realidade quando a voz da irmã voltou a preencher o telefone:

– Mamãe quer saber quando você vem. – Lydia cobriu os olhos uma mão, tentando pensar no que responder. Nervosa, ela engoliu seco e se remexeu no sofá. – O semestre está acabando.

– Katherine... Talvez eu tome bomba.

Martin apertou os olhos e desejou que pudesse fugir da conversa, os ombros se encolheram involuntariamente.

– O quê?! – Katherine exclamou aflita, a voz apertada em desapontamento. – Você é um sucesso em enfermagem, o que está acontecendo?

– Estou sem paciência para seu sermão agora, pode fazer o papel de irmã mais velha mais tarde. – Lydia debochou estressada, despencando as costas no estofado.

– Só estou preocupada com você.

– Não fique. – Ela pediu, desarmada. – Eu estou bem. Segure as pontas com a mamãe, vou aparecer o quanto antes e prometo me dedicar mais.

– Certo.

Lydia se despediu e desligou o aparelho, mais uma vez frustrada com o rumo que a vida tomava a cada dia. Seu perfeito relacionamento com Henry havia ido pelo ralo abaixo em menos tempo do que imaginava, o curso pelo qual era apaixonada estava quase a obrigando a trancar o período e cada dia que passava, sentia-se mais sufocada dentro de si mesma.

Levantou desanimada, tomou um banho e se arrumou para a academia, crente de que algumas horas numa esteira e uma caminhada no Central Park distrairiam sua cabeça. Seguiu para a porta, mas antes que passasse por ela, reparou que já estava aberta.

Ela encarou o corredor por alguns instantes, e xingou baixinho quando se recordou de que não tornou a fechá-la desde que o entregador de pizza havia chegado no início da noite.

Lydia saiu do apartamento, puxando a porta com raiva, sentindo-se estúpida pelo o quanto considerava-se distraída nos últimos meses. Antes que trancasse o apartamento, a visão de Bruce caminhando em direção a ela com Bobby nos braços prendeu sua atenção.

O gato amarelo lambia a mão do homem, se divertindo enquanto o vizinho se atentava ao bicho. Ela permaneceu paralisada até ele se aproximar e os olhos castanhos pousarem nos surpresos da ruiva que com a voz ardendo em sarcasmo, perguntou:

Crow's FlightOnde histórias criam vida. Descubra agora