Crow's Flight

Perfeita

Terceira Pessoa

Lydia despencou na poltrona do corredor, a cabeça nublada pela adrenalina das últimas horas. Olhou para o relógio na parede, o corpo pesado tentando relaxar contra o estofado ao lembrar que em duas horas o sol se ergueria em Langley. Apoiou um cotovelo no braço da poltrona e descansou a cabeça, esfregou os olhos com um suspiro exausto. Pescou o telefone do bolso e abriu a rede de dados da CIA, procurando pelo nome que agora rondava seus ouvidos.

Passou todos os minutos possíveis desde que a missão terminou tentando esquecer como as mãos ainda formigavam em raiva adormecida por Theo. Ainda não conseguia acreditar por completo que o tinha visto e em todas as vezes que fantasiou como pudesse ser, nunca imaginou que fosse sentir-se tão aérea.

Ela nunca soube de fato como reagiria ao vê-lo, simplesmente por que já não conhecia tudo que habitava dentro dela. Seus últimos meses tinham sido tão significativos que acreditava ter se perdido na própria mudança. Estava presa pela surpresa e o rancor, dividida entre correr até Theo e cobrá-lo uma explicação de todo um ano que passou amando-o, ou erguer uma arma rumo ao rosto bonito e estourá-lo.

Encarou as juntas dos dedos, agora limpas da mistura do sangue do criminoso que havia matado e o dela. Tocou as escoriações roxas e respirou fundo, surpresa com a capacidade que emoções tinham desempenhado em seus pensamentos racionais. Voltou a concentração para o celular e digitou o nome no banco de dados, devorando as informações da ficha de dados do agente Scott McCall.

Observou a foto em miniatura. Scott estava mais magro depois de meses desaparecido, tinha feridas no rosto e corpo pelo o que a mulher pode analisar mais cedo, uma barba grande e mal cuidada e o cabelo raspado. Leu todas as informações sobre missões bem-sucedidas, qual era o histórico dele, descobrindo que McCall, diferente dela, não era um Prodígio. Procurou pelo relatório da missão de desaparecimento do agente, mas acabou se distraindo quando enxergou uma silhueta familiar na visão periférica.

Ergueu os olhos para Mitch que conversava com Allison, os rostos sérios e abatidos em cansaço. Lydia não conseguiu se importar em vê-los juntos, estava completamente minada na confusão dos próprios pensamentos. Levantou-se com um suspiro e tirou um filete de sangue recente ao passar um dedo pela boca cortada.

Algo dentro dela borbulhou com o olhar vazio que Rapp a lançou ao se aproximar. Sentiu o rosto aquecer em vergonha, lembrando-se de ter apontado uma arma para ele logo depois de ele presenciá-la matar um homem com as próprias mãos.

– Como ele está? – Perguntou Mitch, assim que se aproximou.

Lydia lançou um olhar para o vidro que mostrava dentro do quarto de hospital. Scott estava deitado na calma, os olhos perturbados rondando o teto e corpo suado arfando sem cessar. Seu semblante abateu, mas sua voz soou firme quando cortou o silêncio agoniado.

– Acreditam que está intoxicado, mas não sabem com o quê.

– Intoxicado? – Questionou Allison.

– Ele está vomitando desde que chegou. Sangue, bile, o estômago não aceita nada. – Disse ela, um pesar contido nos olhos. – Já fizeram os exames, mas só ficarão prontos pela manhã.

– Tudo bem, temos tempo até Irene nos mandar voltar para a agência. – Interviu Mitch.

Martin assentiu, alguma espécie de expectativa exalando do corpo. Ela analisou o agente sem relutância, olhando para os machucados fundos e roxos na pele masculina, seu nítido cansaço e os novos arranhões que marcavam os braços. Pensou em como ele estaria se sentindo.

– E quanto a carga, já inspecionaram? – Perguntou Lydia, lembrando-se da missão.

– Devem fazer isso pela tarde, mas pegamos a certa. – Disse Allison. – Theo e os outros desapareceram do mapa outra vez.