Distração

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Lydia Martin

Ele encarou meus olhos quando minhas mãos pousaram em seu peitoral e eu sorri, aninhada a ele. Seu corpo despido em cima de minha cama era como ter um paraíso pessoal, e eu o amava por aquilo. Por seu corpo, sua mente, seu cheiro... Amava-o por tudo...

Henry moldou um sorriso curto, e uma mão encontrou meu cabelo ruivo em uma carícia afetuosa. Aquele toque me assombrava repetidas vezes sempre que ele partia, deixando-me esperando pelo momento em que retornaria para perto de mim. As vezes longas e longas semanas, dias que pareciam uma eternidade decretada.

– Não demore para voltar. – Pedi baixinho.

Ele ainda estava comigo e eu já começava a sofrer pelo momento que sairia por minha porta. Seu rosto leve despencou em uma realidade séria e sua voz, carregada de pesar e afeto, respondeu:

– Eu abandonaria toda aquela empresa por você, Lydia. Ainda acho que farei isso um dia.

O tom de sua voz, baixa, verdadeira e real, arrepiou minha pele. Seus olhos claros permaneceram em meu semblante, atentos em uma possível resposta. Mas eu não queria falar. Sorri, meu corpo aquecendo conforme suas mãos desciam por minha coluna e me puxavam para cima dele, desfrutando cada segundo que ainda tínhamos um do lado do outro.

Esfreguei meus olhos pela manhã, me embolando ainda mais nos lençóis quentes da cama ao revirar pela milésima vez no colchão com a voz de Henry sussurrando em meus ouvidos.

Estava exausta de precisar recordar-me dele. Lembrar de nossos momentos era como envenenar meu próprio cérebro que precisava, urgentemente, tanto quanto meu coração, esquecê-lo. Suspirei, meu sentei no colchão e pesquei meu celular. Deslizei o dedo pela tela, irritada ao enxergar os números "Seis e quarenta e dois" em branco.

Até o maldito Bobby estaria dormindo, e eu, por um coração partido, estava acordada. Caminhei para o banheiro, enxergando a mensagem de Bruce Sanders brilhando em uma das notificações de meus últimos stories.

"O quê aconteceu com seu clichê barato em um cruzeiro trágico em alto mar?"

**

Enquanto a cafeteira produzia meu café, eu encarei a mensagem em que Bruce me provocava ao insistir no argumento de que eu era uma péssima cinéfila. Meus dedos apertaram em respondê-lo, e apenas a ideia de me comunicar com ele fez adrenalina cortarem minhas veias.

Eu estava em um grande mar aberto onde em apesar de apaixonada pelo meu ex-namorado que havia definitivamente sumido de minha vida sem muitas explicações, homens como Bruce ainda faziam meu corpo se retorcer de vontades que eu desconhecia.

Sanders era educado, simpático, bonito e intimidante, o tipo de cara que antes de Henry, eu perderia quantas horas me fossem permitidas dentro de meu quarto. Mas, considerando que minha cabeça não conseguia pensar em quase nada que não envolvesse meu antigo amor, eu estava condenada a não me aventurar com ninguém.

Bruce poderia fácil se tornar uma exceção, ainda que eu soubesse que iria me arrepender quando seus braços me abraçassem e eu ouvisse minha cabeça cochichar: "Preferia que fosse o Henry." Assim como Josh, que além de bonito, era um dos homens mais gentis que eu já havia conhecido. E descarado.

Não sei se por conta de meu rancor pelo antigo relacionamento ou talvez alguma carência, mas as mensagens sacanas de puro cunho sexual que Josh arriscava mandar vez ou outra me instigavam.

Me agitei em pé, apertando o coque em meu cabelo com uma mão ansiosa. Digitei, bem humorada, respondendo: "Meus clichês baratos estão esperando o dia que o convencerei a se tornar um apreciador."

Crow's FlightOnde histórias criam vida. Descubra agora