Âncora

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Terceira Pessoa

– Qualquer coisa me ligue, ou comunique o Foster.

– Tudo bem, não se preocupe, Sophie. – Disse Lydia, segurando o telefone na orelha. Ela trocou um olhar com Mitch, vendo-o voltar a atenção ao trânsito. – Vejo você depois.

A agente desligou o celular, pousando-o no console sem interesse. Alisou as mãos suadas no jeans e tentou relaxar contra o banco, presa em seus pensamentos que repassavam as palavras de Scott a cada novo instante. Apesar de Mitch estar dirigindo, ela sabia que sua atenção também estava em horas atrás.

– Mataram Lorenzo por que sabiam que ele iria nos ajudar? – Soprou Lydia, buscando algum refúgio nos olhos do homem, tentando acalmar os neurônios elétricos.

Mitch bufou e balançou a cabeça, carregado de incerteza.

– Não sei, ruiva. Mas talvez já desconfiassem dele antes, talvez ele tenha errado o tiro em você de propósito.

– Eles precisam de mim viva, ele não teria me matado de qualquer forma.

– E como você sabe disso? – Ele a olhou de relance, confuso com a firmeza quase doída na voz dela.

Lydia abaixou o rosto por um momento, passando uma mão pelo pescoço enquanto tentava conter a adrenalina cega nos músculos.

– Eles tiveram chance, Mitch. Lorenzo disse que eles tinham que me capturar.

– E você confia nele?

– Mataram ele por uma razão e não vejo porquê não acreditar que pode ser pelo simples motivo de saberem que talvez ele pudesse sim colaborar conosco.

– Eu gosto da sua visão. – Ele confessou, um tom de afeto na voz. Não olhou para ela. – Mas pelo tempo que precisei torturá-lo, eu não diria que ele compactuaria.

– Ele queria salvar o próprio pescoço.

– Você também ouviu o Scott, Lydia. – O agente balançou a cabeça. – Patrick também sabia que Lorenzo ia morrer de qualquer jeito.

Ela assentiu, mesmo que algo dentro dela discordasse. Odiava sentir-se ingênua e esperançosa, mas depois de ter descoberto a existência de Patrick, o ângulo de sua visão mudou. Martin sabia como era desejar dar tudo por sua família, conhecia cada milímetro daquela espécie de cicatriz e alguma empatia a tocou ao saber que Patrick estava arriscando tudo por Lorenzo. O atirador podia ser um criminoso frio, mas talvez seu desejo de permanecer vivo fosse o mesmo que o do sobrinho: estarem juntos outra vez.

Agitou-se com um respirar fundo e puxou o cabelo para o lado, cozinhando em possibilidades. Mitch a olhou de soslaio e o semblante chateado pontuou seu peito como lâminas.

– Eu gosto de como você consegue gostar de todo mundo de alguma forma.

Ela o encarou em dúvida, embora a voz macia do homem tivesse feito seu pulso vibrar.

– Você está preocupada com Patrick.

– Só estou sendo boba. – Disse ela, chateada.

– Acho que você só está sendo você mesma. – Ele pescou a mão dela antes na coxa, entrelaçando os dedos. Dividiu a atenção do trânsito para os olhos verdes em seu rosto. – E isso é sempre bom.

Lydia sorriu, afeto e gratidão brilhando nos olhos quando ela apertou o toque dos dedos quentes nos seus.

– Obrigada.

– Relaxe um pouco antes da gente chegar.

– E você?

Mitch engoliu um bolo de nervosismo. Seus dedos se firmaram contra o volante, um fio rígido de tensão se instalando nos músculos conforme as últimas horas passavam pela cabeça. Pensar em Scott partiu seu coração em pedaços afiados de pesar e culpa.

Crow's FlightOnde histórias criam vida. Descubra agora