Cobaia

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Lydia Martin

Disparei pela trilha adentro, meus pés fervendo enquanto desviavam de galhos e pedras no caminho. As poucas folhas caídas das inúmeras árvores eram uma vantagem, considerando que estralavam se pisadas com força. Guiei-me para afundo da floresta quase ausente de luz.

O sol no céu azul já caia no horizonte, tingindo as poucas nuvens com tons laranja e rosa. O vento frio da Carolina do Norte sobrou contra meus ossos, batendo em meu rosto com chicoteadas frias. Desconsiderei a ideia de ter alguém no mesmo atalho que eu já que a maioria de meus outros dez adversários haviam optado pelo caminho menor.

O que eu julgava uma estupidez.

Praticidade nem sempre significa vitória. Todos querem ser práticos, e é por isso que o massacre acaba sendo em massa com a maioria. Os teóricos costumam se sair melhor. A voz de Hurley penetrou meus ouvidos por um instante, mas afastei seu conselho de minha mente, me concentrando.

Segui adiante, diminuindo meus passos quando enxerguei a primeira bandeira da trilha. Andei apressada até ela, arfando por ar, e contive um gemido de estresse quando a encontrei com a borda arrancada. Alguém já tinha passado por aqui.

Arranquei um pedaço do tecido azul e reservei no bolso junto com o pedaço verde e vermelho, retomando a corrida pela trilha. Tinha estudado três atalhos diferentes, todos pelas bordas do círculo de trilhas. A bandeira arrancada não significava necessariamente que alguém estava na minha rota, mas que podiam ter pegado atalhos do Leste e cruzado meu caminho antes de seguir.

Olhei em volta por um instante, diminuindo meus passos, tentando enxergar silhuetas, mas a mata densa era como muralhas entre nós. Aproveitei para respirar fundo, sentindo meus pulmões arderem, calculando minhas direções para alcançar a última bandeira.

Meus olhos caíram para o chão por um momento, e contornei os passos que encontrei no solo marrom. Não eram meus. Segui a linha afundo na trilha, reparando que se perdiam até o máximo que eu podia ver. Eu estava no rastro de alguém.

Puxei a pistola carregada de balas de chumbo – eu tinha perdido cerca de três ao eliminar dois colegas meus – de trás da calça, empunhando-a. Avancei em passos receosos, atenta em sons ao redor, concentrada em respirar e captar novos passos. Inspecionei alguns galhos de árvores, olhei para trás e arrisquei uma corrida quando um pequeno declive surgiu, disparando para uma nova curva.

Algo soprou em meu ouvido, rápido como uma névoa. Vi um tronco de árvore ser atingido pela faca despontada que serpenteou por minha cabeça, manchada pela tinta que estava na ponta de metal. A adrenalina correu por minhas veias em uma explosão de ar e faíscas.

Avancei em uma corrida e assim que a trilha tornou a ser reta escorreguei para atrás de uma árvore, arfando sozinha, erguendo a pistola na altura do peito com as duas mãos. Escorei no tronco, encarando a frente da trilha, lembrando que ainda faltavam bons metros para a bandeira dourada. Eu não poderia partir sem ser perseguida. Precisaria enfrentar... Clare. Ela tinha cabelos dourados e olhos ferozes, já tínhamos conversado. Foi a única que escolheu facas.

Respirei fundo três vezes, segurei firme na pistola e enfiei um olho na borda do tronco de árvore a tempo de vê-la descendo o morro e lançando uma nova faca em um tronco, talvez para me intimidar... Eu não sabia qual era a tática de Clare, mas ela estava desperdiçando munições.

Um tiro era o suficiente para eliminá-la. Ergui os olhos para a árvore em minhas costas, enxergando um conjunto de galhos com folhas grossas. Tornei a espiar, vendo-a retomar o movimento, atirando uma lâmina contra uma árvore e se escondendo em um tronco da trilha. Faltavam algumas até mim.

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